COP30 coloca Brasil e Amazônia no centro do debate climático
Conferência em Belém reunirá líderes mundiais para discutir soluções de transição energética, conservação e desenvolvimento sustentável
A três meses para o Brasil sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), o maior evento climático do mundo, o debate sobre o futuro energético do planeta ganha força.
Em meio às discussões sobre metas ambientais e justiça climática, as energias renováveis devem ocupar papel central nas negociações. O desafio é acelerar a transição energética e cumprir os compromissos globais de descarbonização, conciliando crescimento econômico e responsabilidade ambiental.
Para o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira de Oliveira, o país chega à COP30 como uma potência energética que lidera com responsabilidade, oferecendo soluções reais para uma transição justa e segura.
“Temos uma matriz energética majoritariamente renovável e, aliado a isso, uma regulação madura, instituições sólidas e um ambiente seguro para investimentos. Essa combinação de ambição climática, capacidade técnica e governança eficiente tem garantido protagonismo na transição energética, com forte participação do setor privado. Neste ano de 2025, o Brasil já alcançou resultados que muitos países projetam para 2050”, ressaltou o ministro.
Ainda de acordo com Silveira, nos últimos anos, a malha energética de transmissão no Brasil dobrou, viabilizando a integração de fontes como solar e eólica, gerando emprego e renda para a população.
“Com isso, na COP30 mostraremos ao mundo, pelo exemplo, que é possível aliar crescimento econômico, inclusão social e sustentabilidade ambiental. A nova meta climática lançada pelo presidente Lula reforça esse compromisso com o desenvolvimento sustentável e com a descarbonização de setores difíceis como transporte e indústria”, enfatizou.
Amazônia
Marcada para ser realizada de 10 a 21 de novembro, em Belém do Pará, a conferência coloca o Brasil e a Amazônia no centro das discussões que permeiam a agenda climática mundial.
Segundo a diretora-executiva do Instituto Clima e Sociedade (ICS), Maria Netto, mais do que garantir obras físicas ou a projeção momentânea que acompanha um grande evento internacional, a expectativa é que a COP30 contribua para fortalecer um debate consistente sobre a importância estratégica da Amazônia para o Brasil e para o cenário global.
“O verdadeiro legado da COP30 deve ser a valorização de um modelo de desenvolvimento inclusivo e sustentável que reconheça o potencial ambiental, econômico, social e cultural único do bioma amazônico. Isso inclui, entre outros pontos, o fortalecimento das cadeias de valor locais, a valorização dos produtos da floresta e dos saberes tradicionais, o apoio à sociobioeconomia, o incentivo à inovação, bem como o protagonismo das populações que vivem e protegem a região.”
Maria acredita que o fortalecimento da sociedade civil amazônica, das lideranças locais e das comunidades tradicionais devem ocupar posição central nesse processo, aliado ao entendimento de que a Amazônia exerce um papel essencial não só para o cumprimento das metas climáticas do Brasil, mas para a manutenção da estabilidade climática mundial.
“O valor da Amazônia, no entanto, não pode ser condicionado à realização de uma COP ou a compromissos pontuais. Ele precisa ser parte permanente de uma agenda de longo prazo que combine conservação, justiça social, inclusão econômica e o reconhecimento do papel fundamental da região na resposta à crise climática”, reiterou Maria Netto.
Prioridades
Na II Cúpula Parlamentar de Mudança Climática e Transição Justa da América Latina e do Caribe, realizada na quarta-feira (6) no Congresso Nacional, o embaixador e presidente da COP30, André Corrêa do Lago, apresentou três prioridades do governo brasileiro para a conferência: o fortalecimento do multilateralismo, a tradução dos resultados da conferência para a sociedade e a ampliação das soluções climáticas, como adaptação, além das negociações formais.
“O multilateralismo é a democracia internacional. Queremos que as decisões da COP30 sejam compreendidas pela população, pelo setor privado e pelos governos locais, mostrando seu impacto real”, explicou.
O embaixador também detalhou a estrutura inovadora da COP30, que incluirá uma Agenda de Ação paralela às negociações oficiais, com mais de 350 reuniões envolvendo governos subnacionais, empresas, academia e sociedade civil.
“Essa agenda dará um dinamismo extraordinário à COP, mostrando que já existem soluções para muitos dos desafios do clima. Os parlamentares têm um papel essencial nesse processo”, acrescentou.
O presidente da COP30 também destacou os quatro círculos de diálogo estabelecidos pela presidência brasileira para a preparação do evento: líderes de COPs anteriores, representantes de povos indígenas e comunidades tradicionais, ministros da Fazenda e o Balanço Ético Global, que reunirá líderes religiosos e intelectuais.
Debates
A COP30 contará com uma programação estruturada em dias temáticos, abrangendo mais de 30 assuntos interconectados. A proposta é transformar a conferência em uma plataforma global de implementação, inovação e parceria, reunindo atores de diferentes setores e países em torno de soluções climáticas reais.
O programa foi elaborado com base nos resultados do primeiro Balanço Global e está alinhado aos seis eixos da Agenda de Ação da COP30: energia, indústria e transporte; florestas, oceanos e biodiversidade; agricultura e sistemas alimentares; cidades, infraestrutura e água; desenvolvimento humano e social; e questões transversais.
Esses temas serão abordados em duas áreas principais: a Zona Azul, destinada às negociações oficiais entre países; e a Zona Verde, aberta à sociedade civil, empresas e outros atores não estatais. A programação visa ainda destacar ações prioritárias descritas nos 30 Objetivos-Chave para a Implementação da Presidência da COP30.
“Queremos que todas as pessoas, cientistas e estudantes, ministros e prefeitos, ativistas e artistas, vejam onde se encaixam nessa agenda e planejem se juntar a nós em Belém para uma ação coletiva”, afirmou Ana Toni, CEO da COP30. Para ela, esse calendário traz clareza aos participantes e impulso ao nosso movimento. “A participação é poder, todos estão convidados a fazer parte deste mutirão global”, completou.
Governos, sociedade civil, academia, setor privado e filantropia são encorajados a utilizar essa agenda para planejar sua participação em Belém, assegurando um envolvimento ativo nos dias mais importantes para suas áreas de atuação e comunidades. Os dias temáticos também servirão como guia para CEOs, ministros e demais líderes na organização de eventos e no planejamento da estadia na cidade.