TARIFAÇO

Tarifas de Trump sobre o Brasil são 'mais um latido que uma mordida', diz The Economist

Revista britânica lembra que economia brasileira ainda é relativamente fechada e isenções de alguns produtos amenizam o golpe

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos - Win McNamee/Getty Imagens via AFP

Com uma economia relativamente fechada, a tarifa de 50% imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros provavelmente teria efeito limitado.

Com a insenção de 700 itens anunciada pelo governo americano, o golpe será ainda mais leve, avalia a revista britânica The Economist, que classifica que as tarifas de Trump sobre o Brasil são mais um 'latido do que uma mordida'.

A revista lembra que a maior economia da América Latina é relativamente fechada e suas exportações representaram menos de um quinto do PIB no ano passado.

No México, as exportações representam um terço do PIB e em alguns países asiáticos, como Vietnã e Tailândia, equivalem a 70%. Hoje, diz a revista, o Brasil é menos dependente dos EUA em relação às exportações, enquanto crescem os laços comerciais com a China.

Com as isenções anunciadas, diz a the Economist, quase metade das exportações brasileiras para os Estados Unidos serão poupadas, estima a TS Lombard, empresa de pesquisa de investimentos.

Como resultado, o Itaú Unibanco, banco brasileiro, espera que a alíquota tarifária efetiva fique em torno de 30%. O Goldman Sachs manteve sua previsão de crescimento do PIB para este ano inalterada em 2,3%, citando as isenções.

Setores como café, carne e frutas, que ficaram fora da lista de isenções, sentirão de forma mais intesna os efeitos do tarifaço — e as exportações desses itens já apontam queda em meio à incerteza dos clientes para fechar novos pedidos.

Indignação política de Trump

A revista cita o fato de Trump 'estar indignado' com o fato de seu aliado, Jair Bolsonaro, ex-presidente de extrema direita do Brasil, estar sendo julgado, acusado de planejar um golpe.

As tarifas, alegou ele, foram uma resposta a essa "caça às bruxas". E aponta que o motivo da tarifa excessiva sobre o Brasil não foi econômico, já que os Estados Unidos têm superávit no comércio com o Brasil.

O governo brasileiro, lembra a revista, não chegou a retaliar os Estados Unidos, e as palabras do presidente Lula defendendo a soberania do país trouxeram melhora em sua popularidade. Lula desafiou Trump e afirmou que o Brasil não será "tutelado" por potências estrangeiras, nem se "humilhará" diante de um "imperador" indesejado.

O país diversificou seus mercados, diz a the Economista, e mesmo os setores mais afetados podem se mostrar resilientes. A União Europeia, por exemplo, continua sendo a maior compradora de café brasileiro.

As vendas para o Leste Asiático, Oriente Médio e Norte da África aumentaram 25% e 61%, respectivamente, no ano passado. O comércio com a China continua crescendo. O país já compra a maior parte da carne bovina brasileira e, em 2 de agosto, aprovou importações de 183 novas empresas brasileiras de café.

Além disso, observa a revista, o pacote de ajuda que o governo promete a empresas exportadoras tará ainda mais alívio. E ainda há esperança de que as tarifas possam ser amenizadas. A alta dos preços nos Estados Unidos pode pressionar a Casa Branca a mudar de rumo, avalia a The Economist.