Brasil

Estados atraem mais organizações criminosas

Levantamento do jornal O Globo mostra que o Brasil tem 64 facções criminosas em atuação no país

A Bahia é o estado que concentra mais grupos criminosos no país - ROMILDO DE JESUS/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

A manchete do jornal carioca O Globo de ontem foi de arrepiar: “Levantamento do Globo mostra que Brasil tem 64 facções criminosas em atuação no País”. Quando detalha a ação dos criminosos no Nordeste, Bahia e Pernambuco aparecem entre os Estados que concentram mais grupos criminosos, 17 e 12, respectivamente, seguido pelo Mato Grosso do Sul, com 10.

Enquanto os dois do Nordeste têm um cenário fragmentado, com muitas facções locais disputando espaço, o território sul-mato-grossense é o maior “importador” de facções de outros estados. A rota do narcotráfico que passa pela fronteira com o Paraguai e a Bolívia estimulou nove das 12 facções interestaduais a criarem núcleos de atuação ali.

Apesar de o PCC já ter presença internacional, as autoridades brasileiras quase não encontram núcleos grandes de facções estrangeiras no país. Segundo a reportagem, a única exceção é no estado de Roraima, onde o grupo venezuelano Tren de Aragua possui membros. O Estado que mais “exporta” facções nacionalmente é o Rio de Janeiro, que além do CV tem duas organizações com atuação interestadual: o Terceiro Comando Puro (TCP) e os Amigos dos Amigos (ADA).

Ainda segundo a reportagem, o Primeiro Comando da Capital (PCC) já estava perto de completar uma década quando o Brasil tomou conhecimento de sua existência. “Por celular, a facção criminosa nascida no sistema prisional paulista tomou, em fevereiro de 2001, o controle de dezenas de presídios em apenas meia hora, deixando mais de cinco mil reféns. Diante da então maior rebelião da história do país, o governo de São Paulo não mais tinha como negar sua extensão e força. Para dar uma resposta pública, deu início à transferência de lideranças para unidades de outros estados. Foi um tiro no pé. Os criminosos passaram a batizar novos integrantes pelo Brasil, em troca de proteção”, relata o jornal.

Começava ali a semente da nacionalização do grupo, mas não só. Na esteira do PCC, surgiram dezenas de facções menores, até mesmo para fazer frente aos “forasteiros” de São Paulo em outros estados. Ao longo do último mês, o jornal mapeou as organizações criminosas presentes em todo o território nacional. O Brasil tem hoje 64 facções espalhadas pelas 27 unidades da federação, com menor ou maior tamanho e influência sobre a sociedade, segundo os dados coletados junto a fontes das secretarias de Segurança Pública, Administração Penitenciária e Ministérios Públicos de todos os estados.

Entre os grupos mencionados pelas autoridades, 12 têm presença em mais de um Estado, e os outros 52 são, até onde se sabe, organizações locais. Há duas delas, contudo, com presença efetivamente nacional. O PCC está presente em 25 unidades da federação, enquanto os fluminenses do Comando Vermelho (CV) se encontram em 26. Os grupos só não estão, ainda, no Rio Grande do Sul. O crime gaúcho gerou suas próprias facções interestaduais: Bala na Cara (BNC) e Os Manos.

A reportagem, entretanto, não entra em detalhes sobre a ação desses grupos terroristas no Nordeste. O repórter se concentrou basicamente no Rio de Janeiro. A despeito das dificuldades para estudar o tema, acadêmicos acreditam que existe uma tendência de “faccionalização” no Brasil, explica o professor de Ciência Política da Universidade de Chicago Benjamin Lessing. Grande parte disso continua sendo reflexo da expansão do PCC.