'Casos de Família' retorna ao SBT após dois anos com a mesma fórmula de sempre: barraco e gritaria
Christina Rocha continua como a apresentadora à frente da produção desde 2009
Depois de dois anos fora do ar, o “Casos de Família” voltou à grade do SBT no fim de julho. A produção segue sob o comando de Christina Rocha, no ar de segunda a sexta, às 14h45, e permanece fiel à sua essência: expor conflitos familiares em um palco de emoções intensas, intervenções de psicóloga e uma plateia entusiasmada com o caos. A promessa é de debates sobre relacionamentos e questões do cotidiano. Mas, na prática, o que se vê é um festival de gritaria, interrupções e acusações cruzadas que mais confundem do que esclarecem.
A apresentadora, à frente da produção desde 2009, continua sendo o maior trunfo do programa. Christina Rocha domina o palco com firmeza e bom humor, conversando de maneira simples e direta tanto com os convidados quanto com o público presente. Ela já tem a cara do “Casos de Família” – e isso ajuda a manter uma certa familiaridade com o espectador. A plateia, por sua vez, embarca no mesmo clima de confronto, vibrando a cada nova provocação e atuando quase como mais um elemento cenográfico do conflito.
A psicóloga Anahy D’Amico também segue como figura central ali, tentando dar contornos terapêuticos a uma dinâmica que prioriza o embate. Em meio ao tumulto, suas intervenções ganham destaque ao tentar conduzir os participantes a reflexões mais profundas – esforço que, no entanto, nem sempre é possível diante da bagunça instaurada.
Apesar do formato já bastante conhecido, o “Casos de Família” tenta algumas atualizações. Agora, além de anônimos, convida também figuras públicas que se encaixam no tema do dia. No episódio de estreia, por exemplo, participaram as irmãs Ana Paula e Tati Minerato, que ficaram seis anos sem se falar. Já Rico Melquiades, ex-participante de “A Fazenda”, se envolveu em outro episódio e provocou ainda mais confusão com os anônimos, com ofensas em excesso.
A sensação de espetáculo planejado se intensifica pelo modo como o programa é editado. As cenas iniciais, os ganchos antes dos intervalos e as prévias do episódio seguinte sempre parecem destacar os momentos de maior gritaria — como se o conteúdo central da atração fosse mesmo o conflito em estado bruto. E, muitas vezes, é isso que sobra. Quando todos falam ao mesmo tempo, fica difícil entender as histórias, os sentimentos ou até mesmo o que está em jogo ali.
Em termos de audiência, o retorno não causou grande alvoroço, mas também não foi um fracasso. Com médias quase sempre entre 2,6 e 2,9 pontos na Grande São Paulo na largada, o “Casos de Família” tem superado a novela infantil “A Caverna Encantada”, também exibida na parte da tarde, às 17h, mas com um investimento bem mais alto. Os números do “Casos de Família” são modestos, claro, mas confirmam que o programa ainda encontra algum respaldo junto ao público da tarde. Seja pela curiosidade em relação aos barracos ou pela identificação com os temas abordados.
No fundo, o “Casos de Família” nunca prometeu ser um exercício de escuta e acolhimento. Sua fórmula, baseada na exposição do conflito como entretenimento, permanece praticamente intocada — e, para quem aceita as regras desse jogo, a entrega é coerente. Mas, para quem espera mais do que barracos ou, de repente, reconciliações feitas às pressas, a sensação é de que o tempo passou e o programa não acompanhou.
“Casos de Família” – SBT – Segunda a sexta, às 14h45.