EX-PRESIDENTE

"Sem clima", "considerandos": veja o que Bolsonaro já disse sobre tentativa de golpe

Processo da trama golpista entra em fase final com apresentação de alegações finais pela defesa do ex-presidente

Bolsonaro no STF, ao lado do advogado dele - Ton Molina/STF

A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro apresentou nesta quarta-feira as alegações finais na ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF) que trata sobre uma suposta tentativa de golpe para mantê-lo no poder. Ao longo do processo, Bolsonaro deu algumas versões sobre o que ocorreu nos meses que antecederam sua saída do cargo.

Em interrogatório à Corte, em 10 de junho, por exemplo, Bolsonaro afirmou que não havia "clima", "oportunidade" e "base minimamente sólida para qualquer coisa", referindo-se à uma tentativa de golpe no país.

Na ocasião, o ex-presidente Jair Bolsonaro disse ter buscado comandantes das Forças Armadas para discutir alternativas para questionar o resultado eleitoral após ser derrotado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2022. Durante o depoimento, que durou pouco mais de duas horas, ele admitiu ter tratado com auxiliares da possibilidade de adotar instrumentos como o Estado de Sítio ou a chamada Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

— Golpe não são meia dúzia de pessoas, dois ou três generais e meia dúzia de coronéis. Vejam 64. Falar em golpe de estado ? O que aconteceu depois do meu governo (no 8 de janeiro), sem armas, sem núcleo financeiro, sem qualquer liderança, isso não é golpe — disse Bolsonaro. — Da minha parte nunca se falou em golpe, é uma coisa abominável. É fácil começar, mas o "after day" é que é simplesmente imprevisível.

 

Ainda no interrogatório, ao ser questionado sobre as elaboração de uma minuta golpista, citada na delação de Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, Bolsonaro afirmou que não teve acesso ao documento.

— Teve reunião que tratamos de GLO, porque os caminhoneiros estavam parando, tratamos sobre o que poderia acontecer com aquela multidão. Como falou o general Freire Gomes [ex-comandante do Exército], nós estudamos possibilidades, outras, dentro da Constituição — pontuou. — Discussão sobre esse assunto já começou sem força, de modo que nada foi à frente. A ideia que alguns levantavam seria o estado de sítio, por exemplo. Não procede o enxugamento.

'Considerandos'
No mesmo interrogatório, Bolsonaro admitiu ter discutido um documento que previam medidas de exceções, como Estado de Sítio e de Defesa, em uma reunião com comandantes das Forças Armadas, no Palácio da Alvorada, após as eleições. Na ocasião, segundo ele, foi exibido um documento a respeito da situação do país, que ele chamou de "considerandos". Essas considerações costuma acompanhar as justificativas de decretos presidenciais. Naquele momento, apoiadores do seu governo se aglomeravam em frente a quartéis e caminhoneiros fechavam estradas pedindo uma intervenção militar no país.

— Foi passado na tela os considerandos de forma bastante rápida. Não havia da nossa parte uma gana, mesmo que nós encontrássemos algo na Constituição. O sentimento de todo mundo é que não tinha nada o que fazer e nós precisamos entubar — disse.

O ex-presidente também negou ter tido acesso à minuta golpista citada por Cid. O tenente-coronel disse em seu depoimento que Bolsonaro fez ajustes no documento, que previa a prisão de Moraes.

— Falar contra autoridades, sugerir prisão, isso aí na nossa reunião não estava previsto isso. O que estava previsto, e repito à Vossa Excelência que eu gostaria de ter acesso ao documento para discuti-lo. Se eu não estou tendo acesso, não tenho como discutir. As conversas eram bastante informais, não era algo proposto aqui, vamos decidir. Nada disso aconteceu. Ver se existia alguma hipótese de algum dispositivo constitucional para ver se a gente atingia o objetivo que não tínhamos atingido no TSE [Tribunal Superior Eleitoral], e isso foi descartado depois da primeira ou da segunda reunião — frisou.

8 de Janeiro
O ex-presidente também procurou ressaltar no depoimento que não tinha nada a ver com os acampamentos montados na frente dos quartéis que pediam intervenção militar no fim de 2022. Bolsonaro chamou alguns de manifestantes de "malucos" por defender o Ato Institucional nº 5 e intervenção militar.

— Agora, tem sempre os malucos, que ficam pedindo AI 5, intervenção militar... até porque não cabia isso. Nós não estimulamos nada de anormal — disse Bolsonaro.

O ex-presidente defendeu ainda que a Polícia Federal deveria investigar quem eram as pessoas que convocaram os atos de 8 de janeiro. Segundo o político do PL, era um "pessoal conservador diferente do nosso".

— Não sei porque a Polícia Federal não investigou essas pessoas para ir até o 8 de janeiro [em Brasília]. Essas pessoas foram embora, e deixaram o povo acampado lá. Não procede que eu colaborei com o 8 de janeiro — disse ele, e completou: — Não tem nada meu ali estimulando aquela baderna que nós repudiamos, que nós nunca fizemos isso ao longo dos anos.