Em busca de um sonho: jovens atletas vendem água e rifas para disputar o ADCC no Brasil
Entre treinos, trabalho e histórias de superação, três lutadores recifenses lutam fora do tatame para chegar ao 1º ADCC Brazilian National Championship, em São Paulo.
No calor das ruas do Recife, entre carros parados no sinal e turistas nas areias da praia do Pina, três jovens atletas recifenses dividem o tempo entre o treino duro de jiu-jitsu e a venda de água, rifas e esperança.
Thalys, Kewen e Wesley sonham alto: representar a equipe Tornado Jiu-Jitsu no 1º ADCC Brazilian National Championship, maior competição de lutas agarradas do mundo, que pela primeira vez será realizado no Brasil, em novembro deste ano, em Indaiatuba (SP).
Entre o tatame e o asfalto
A rotina começa cedo e termina tarde. Pela manhã, alguns estudam; à noite, o treino é sagrado. No fim de semana, o kimono sai da mochila e vai para o corpo, mas não é para lutar, é para chamar atenção de motoristas e banhistas, na tentativa de vender mais garrafinhas de água.
“Todos os fins de semana, estamos nas ruas, nas praias e nos sinais vendendo água e, algumas vezes, rifas para arrecadar recursos”, explica Ravena, assessora da equipe, que também é videomaker e pretende registrar a participação dos meninos no campeonato.
“Nosso objetivo é juntar o valor necessário para cobrir passagem, hospedagem e alimentação. Enfrentamos sol forte, calor intenso e mostramos que estamos dispostos a lutar, dentro e fora do tatame, para realizar nosso sonho.”
Thalys: disciplina e títulos na bagagem
Aos 22 anos, Thalys Rodrigo carrega no currículo conquistas expressivas: campeão da Pro League, terceiro lugar no Sul-Americano 2023, vice no Challenger BLC 2024 e bicampeão da Copa Brasil, nas modalidades com e sem kimono. Morador da Várzea, vive sozinho desde os 20 anos, trabalha como garçom nos fins de semana para se manter e ainda cursa fisioterapia.
“Treino todos os dias. Às vezes, chego cansado, mas sei que cada gota de suor é um passo mais perto do meu objetivo”, diz.
Kewen: a luta que começou muito antes do Jiu-Jitsu
O caçula do trio, Kewen, de 18 anos, carrega marcas que não estão no rosto, mas na história. Rejeitado por familiares, viveu parte da infância com a tia Elizabete, a quem chama de segunda mãe. Entre mudanças de casa, separações e períodos de fome, encontrou no jiu-jitsu um porto seguro.
“No tatame, eu me encontrei de verdade. Conheci pessoas incríveis e fortaleci minha mente”, conta.
Hoje, ele já soma cinco medalhas: duas de ouro, uma de prata e duas de bronze. Além disso, assume com orgulho o papel de referência para as irmãs mais novas.
Wesley: o novato que sonha grande
Com apenas sete meses de treino, Wesley, 22, encontrou no jiu-jitsu mais do que um esporte. Morador da Várzea, vive com os avós e trabalha como operador de loja.
“Mesmo cansado, vou direto do trabalho para o treino, porque sei que cada esforço vale a pena”, afirma.
Ele é faixa branca, mas já tem um foco claro. “Meu sonho é competir no ADCC. Sei que exige dedicação, mas estou disposto a dar tudo de mim para chegar lá”.
A base que transforma vidas
Os três treinam no Tornado Jiu-Jitsu, projeto gratuito localizado no bairro da Iputinga e liderado pelo professor Aldryn Messias. Ali, técnica e disciplina caminham lado a lado, mas o maior ensinamento é sobre resiliência.
Mais do que uma meta esportiva, a viagem para o ADCC é para Thalys, Kewen e Wesley, a chance de provar que a determinação pode abrir portas onde antes só havia obstáculos. Eles sabem que o tatame em São Paulo será um desafio físico, mas entendem que a verdadeira luta começou muito antes, nas ruas quentes do Recife.
“Contamos com a solidariedade de amigos, familiares e até desconhecidos”, diz Ravena. “Vendemos rifa no Marco Zero, água no sinal do Geraldão e na praia do Pina. Já batemos de porta em porta na Caxangá pedindo ajuda. Cada apoio, por menor que pareça, faz uma grande diferença”.
E se depender da força que já demonstraram fora das competições, quando o dia chegar, eles entrarão com a certeza de que já são campeões.
Interessados em ajudar podem contribuir através da chave Pix: 162.886.854.61 (Dinoamérico), ou entrando em contato através do telefone: (81) 97329-6232 (falar com Ravena).
Serviço:
Evento: 1º ADCC Brazilian National Championship
Data: 1 e 2 de novembro de 2025
Local: Indaiatuba, São Paulo