Esquema pagava gastos da família do prefeito de São Bernardo, aponta PF
Despesas da esposa de Marcelo Lima (Podemos) e da filha do casal seriam bancadas com dinheiro ilícito, diz investigação
O prefeito de São Bernardo do Campo, Marcelo Lima (Podemos), foi afastado do cargo na quinta-feira (14). Investigação da Polícia Federal apontou Marcelo como o beneficiário de um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro que envolvia empresas que tinham contratos com a prefeitura. Parte dos recursos seriam usados para pagar despesas pessoais do prefeito e da família, como passagens aéreas, mensalidades da faculdade da filha do prefeito e outros gastos.
Os documentos apontam que Paulo Iran Paulino Costa, ex-assessor parlamentar da Alesp apontado como principal operador do esquema, com quem a PF encontrou R$ 12 milhões e US$ 156.000 em espécie, seria o responsável por angariar os recursos junto às empresas e pagar despesas do prefeito.
Paulo Iran teria pago, por exemplo, R$ 19.182 relativos a uma passagem aérea de ida e volta de São Paulo para Washington, nos Estados Unidos, para a esposa do prefeito, Rosangela dos Santos Lima Fernandes. A viagem teria ocorrido entre junho e julho deste ano. Uma conta telefônica de Rosangela também teria sido quitada pelo ex-assessor, no valor de R$ 922, de julho.
A mulher é mencionada em conversas de WhatsApp entre Lima e Iran como “Zana”. O ex-assessor da Alesp realizava o controle das despesas de forma informal, em post-its, onde anotava a entrada e saída de recursos. Em uma foto obtida pela investigação aparecem anotações relativas a supostas transferências via Pix para a esposa de Lima, em valores que vão de R$ 2.140 a R$ 5.880. Um diálogo de WhatsApp entre Lima e Iran, de agosto de 2022, mostra o prefeito solicitando que Ira transferisse “5 para Zana”.
Outro documento aponta que Iran pagou a fatura do cartão de crédito de Marcelo Lima, também do mês de julho, no valor de cerca de R$ 32.000 reais. Também aparece a quitação de uma mensalidade da faculdade de medicina da filha do prefeito, Gabriele Lima Fernandes, no valor de R$ 8.248, em agosto de 2022, e um boleto para a jovem, no valor de R$ 2.565, que não é especificado.
A operação do esquema
O esquema de repasses ilegais, segundo a investigação da Polícia Federal, funcionava da seguinte forma: os recursos vinham de empresas que tinham contratos com a prefeitura de São Bernardo do Campo e com a Fundação ABC, uma organização social sem fins lucrativos que geria unidades de saúde na cidade da Grande São Paulo.
As empresas prestavam serviços públicos em diversas áreas, como na área da saúde, informática, limpeza urbana e transporte público. A suspeita da PF é que as empresas realizavam os repasses para manterem e obterem os contratos públicos milionários junto a prefeitura e a Fundação ABC.
Paulo Iran recebia os recursos das empresas de forma direta e também por meio de outros funcionários públicos, como Antônio Rene da Silva Chagas, diretor de departamento na Secretaria de Coordenação Governamental; Fábio Prado, secretário de coordenação governamental da prefeitura de São Bernardo e Roque Araújo Neto, servidor da Câmara Municipal de São Bernardo. Outros nomes citados são os de Danilo Lima de Ramos, vereador e presidente da Câmara Municipal, o ex-vereador Ary Oliveira e Paulo Guidetti, ex- secretário municipal de administração.
Em nota, a prefeitura de São Bernardo informou que irá “colaborar com todas as informações necessárias em relação ao caso. A gestão municipal é a principal interessada para que tudo seja devidamente apurado. Reforçamos que o episódio não afeta os serviços na cidade”.
Já o ex-vereador, pelas redes sociais, informou que até o momento “desconhece” o motivo pela qual é citado na investigação, que recebeu uma equipe da Polícia Federal na manhã desta quinta (14) e que voltará a se manifestar quando tiver mais detalhes.
Paulo Iran foi alvo de mandado de prisão, mas está foragido. Ele foi exonerado da Alesp, onde exercia o cargo de assessor do deputado Rodrigo Moraes (PL). Moraes disse que, assim que tomou conhecimento da investigação, exonerou Iran. A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Antônio Rene da Silva, que foi preso, com Fabio Prado e Roque Araújo Neto.
Outro detido pela operação foi Edmilson Carvalho, sócio da Terraplanagem Alzira Franco, que realizaria repasses para o esquema criminoso.