Vantagens e limitações do consórcio para quem quer adquirir um imóvel
Modalidade, comparada ao financiamento, é mais em conta, no entanto, o consumidor deve contar com a sorte ou dá um lance para ser contemplado
No Brasil, quem quer comprar um imóvel encontra diferentes caminhos. O mais conhecido é o financiamento, que garante a posse imediata, mas impõe juros elevados e a necessidade de entrada. Outra opção, cada vez mais buscada, é o consórcio, modalidade de compra programada, sem juros, que exige mais planejamento, mas pode gerar economia significativa no longo prazo.
O consórcio funciona como uma espécie de poupança coletiva. Participantes contribuem mensalmente para um fundo comum, administrado por empresas autorizadas pelo Banco Central. A cada mês, um ou mais integrantes são contemplados, por sorteio ou lance, com uma carta de crédito equivalente ao valor contratado. Com ela, é possível negociar como se fosse pagamento à vista, ampliando o poder de barganha. No lugar de juros, há apenas taxa de administração, fundo de reserva e, opcionalmente, seguro.
Economia
Uma simulação feita pelo Mycon, primeira plataforma 100% digital de consórcios do Brasil, mostrou que a modalidade pode ser até R$ 243 mil mais barata que o financiamento tradicional na compra de um imóvel de R$ 300 mil. O levantamento levou em conta prazos, taxas e condições reais de mercado, com dados atualizados do Banco Central em 2025, comparando cenários usuais para quem busca aquisição planejada.
Segundo os números, um consórcio com taxa total de 13,99% ao longo de 216 meses chega a um custo final de R$ 341.970,00. Já no financiamento, com taxa anual de 13,98%, o valor desembolsado ao fim do contrato sobe para R$ 585.504,39. A diferença é de R$ 243.534,39, redução de 42% no custo total, o que evidencia a vantagem quando o objetivo é otimizar o fluxo de pagamentos no longo prazo.
Outro ponto que vale destacar é que no consórcio não há entrada, ao contrário do financiamento, que costuma exigir cerca de 20% do valor do imóvel. “Mesmo com taxas semelhantes, a estrutura do financiamento compromete mais o orçamento do consumidor, sobretudo no início. Já o consórcio é uma alternativa muito mais econômica para quem tem disciplina financeira e consegue se programar”, afirma CEO do Mycon, Luiz Antonio Sacco.
Antes de decidir, é fundamental fazer um comparativo entre as duas modalidades: no consórcio, mesmo sem juros, há o fator tempo: é possível ser contemplado rapidamente por meio de lances, mas também esperar anos até receber a carta de crédito; no financiamento, a compra é imediata, porém os juros acumulados podem aumentar significativamente o valor total pago.
Selic
O cenário macroeconômico tem favorecido a modalidade de consórcio. Com a Selic mantida em 15% ao ano, o crédito continua caro, e financiamentos se tornam menos atrativos. O Consórcio Embracon, uma das maiores administradoras independentes do país, registrou no primeiro semestre de 2025 um crescimento de 91% nas vendas em relação ao mesmo período do ano anterior, totalizando mais de R$ 17 bilhões.
Para o diretor regional da empresa, Thiago Guerra, a alta procura reflete a busca por alternativas mais inteligentes de aquisição. “A Selic elevada encarece os financiamentos tradicionais. O consórcio permanece estável, sem juros, com parcelas previsíveis e blindado contra a volatilidade da taxa básica. Isso estimula a demanda como estratégia de aquisição com visão de médio a longo prazo”, afirma.
A trajetória do consórcio ao longo das últimas décadas confirma essa resiliência. Mesmo diante de altas taxas de juros, períodos de instabilidade econômica, mudanças políticas e crises financeiras, o produto manteve relevância e continuou crescendo, adaptando-se às necessidades do mercado e do consumidor, o que reforça seu caráter anticíclico.
Segundo Guerra, essa consistência está diretamente ligada à natureza do consórcio, que funciona como uma solução de planejamento financeiro, livre dos impactos diretos das oscilações da Selic. “Como não há cobrança de juros, apenas taxa de administração fixa, o consórcio se destaca. Em períodos de juros altos, ele é alternativa ao financiamento; quando os juros caem, mantém-se competitivo por oferecer compra planejada, sem entrada obrigatória, com parcelas acessíveis e poder de compra à vista na contemplação”, explica.
Flexibilidade
Guerra ressalta que a carta de crédito pode ser utilizada para diferentes finalidades no setor imobiliário. “Ela serve para a compra de imóveis novos, usados, terrenos, reformas ou até para quitar financiamentos existentes, eliminando os juros bancários. O cliente também pode usar o FGTS para dar lances ou amortizar parcelas, aumentando as chances de antecipar a contemplação”, explica.
Para ele, o consórcio não é apenas uma alternativa de compra, mas também uma ferramenta de educação financeira. “É uma modalidade que incentiva o planejamento, evita o endividamento por impulso e promove um uso mais racional dos recursos. No fim, democratiza o acesso a bens de alto valor, sem o peso dos juros”, diz.
Perfil
O aumento na demanda se distribui por diferentes segmentos. No setor imobiliário, há desde compradores do primeiro imóvel até investidores e clientes de alta renda, interessados em ampliar ou diversificar o patrimônio. “A procura por cartas acima de R$ 1 milhão exemplifica esse novo comportamento. Hoje atendemos desde famílias da classe média, que buscam previsibilidade e economia, até investidores que utilizam o consórcio como estratégia de diversificação de carteira”, explica Guerra.
Segundo ele, a percepção do consórcio mudou. “Antes, era visto como alternativa para quem não tinha acesso a outras formas de crédito. Agora, é reconhecido como uma solução segura, estratégica e capaz de trazer ganhos financeiros expressivos no médio e longo prazo”, completa, reforçando que a modalidade ganhou sofisticação e espaço entre diferentes perfis.
Tecnologia
A Inteligência Artificial é uma ferramenta chave para personalizar o atendimento e otimizar os processos, garantindo eficiência e proatividade. “Já estamos redefinindo a experiência do consorciado através da tecnologia. Nossas plataformas digitais e aplicativos dão autonomia, facilitam todo o processo, desde simulações e pagamentos até o acompanhamento de grupos e lances, tornando a experiência mais prática e fluída”, explica Thiago Guerra.
Ainda segundo o diretor, utilizar a inovação é um caminho para elevar continuamente a experiência do cliente e consolidar o consórcio como uma modalidade cada vez mais moderna e eficiente, alinhada a um público que busca previsibilidade, economia e melhores condições de negociação no momento da contemplação.