Caso Hytalo Santos: "muitos influenciadores têm esse poder. Eu preferi exercer", diz Felca
Em entrevista ao "Fantástico", da Rede Globo, influenciador paranaense afirmou ter recebido ameaças de morte
O vídeo publicado pelo influenciador Felipe Bressanim Pereira, mais conhecido com Felca, completou 10 dias. Já ultrapassou a marca de 40 milhões de visualizações. De lá para cá, ele atraiu os olhares do Brasil e do mundo sobre o que chama de ‘adultização’ nas redes sociais.
O principal alvo do vídeo é o influenciador Hytalo Santos, que foi preso na última sexta-feira (15), em Carapicuíba, na Grande São Paulo, com o marido e também influenciador Israel Natã Vicente, mais conhecido como ‘Euro’.
Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, Felca disse que não imaginava a repercussão que o material produzido por ele causaria. Até apertar o botão para publicar o vídeo, o influenciador acredita que precisou de muita coragem.
“Eu conhecia pessoas do meu convívio social que foram abusadas sexualmente na infância. Eu pensava em como consolar aquela pessoa e comecei a estudar sobre o assunto e pensar que eu estou nesse lugar de poder ver uma coisa que não é tão legal e falar sobre ela. Muitos influenciadores têm esse poder, mas eu preferi exercer. É só essa a diferença”, disse ele.
O rapaz disse ter recebido ameaças de morte, desde a repercussão que tomou conta das esferas do poder. O mesmo também aconteceu com pessoas do convívio dele. A Polícia Civil de São Paulo está investigando essas intimidações.
“Eu mantenho a cautela, mas estou fazendo algo mais importante do que eu. Desculpa, mas eu não vou conseguir parar”, destacou.
A discussão mobilizada pelo vídeo reviveu a tramitação de um projeto de lei sobre o tema no Congresso. Agora, a Câmara volta a debater o projeto de autoria do senador Alessandro Vieira (MDB-SE) para estabelecer regras para as plataformas no que diz respeito ao uso por crianças e adolescentes.
O projeto prevê que empresas do setor adotem medidas para prevenir e mitigar práticas como bullying, exploração sexual e padrões de uso que possam incentivar vícios e transtornos diversos.
Investigações
Segundo apurou a revista eletrônica Fantástico, alguns pais dos adolescentes foram ouvidos pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB) e pela Polícia Civil do estado. Hytalo também está sendo investigado pelo Ministério Público do Trabalho. As investigações mostram que os adolescentes recebiam uma espécie de mesada para que ficassem na casa de Hytalo e este postasse o conteúdo. O pagamento variava de R$ 2 a R$ 3 mil.
“Nunca chegou na sede do Conselho Tutelar nenhuma denúncia dos próprios pais e responsáveis dessas adolescentes”, declarou a conselheira tutelar paraibana Nadyele Pereira.
As adolescentes são de Bayeux e Cajazeiras. Este último, de 70 mil habitantes, foi onde o influenciador nasceu. Lá, ele dava aulas de danças e gravava vídeos com adolescentes. Após a fama, se mudou para a capital João Pessoas e ficou rico.
O procurador do Ministério Público do Trabalho da Paraíba, Flávio Gondim, afirmou que uma pessoa anônima, inconformada com o que viu nas redes, enviou um e-mail ao MPTPB, em 17 de dezembro de 2024. Na mensagem, relatou a denúncia sobre o conteúdo inapropriado.
“Foi uma denúncia curta de alguém que acompanhava o conteúdo produzido por Hytalo Santos na internet e imaginava que isso pudesse configurar exploração do trabalho infantil. Nós mobilizamos uma equipe internamente para acompanhar as postagens nas principais plataformas. Começamos a chamar ex-funcionários e pessoas que tinham acesso à casa”, explicou.
“Na casa se passava uma espécie de reality show. Havia uma produção intensa de conteúdo, praticamente 24 horas. Aliado ao fato de que havia monetização, gerava diversas formas de receita financeira para os acusados e questionava uma relação de trabalho”, acrescentou ainda.
De acordo com uma ex-funcionária, quando não havia gravação de conteúdo para as redes o celular dos adolescentes eram confiscados.
“Esses celulares, às vezes, eram guardados dentro de uma caixa e, outra vezes, eram guardados, dentro do quarto dele, com chave. Ele tinha muito medo de que as pessoas filmassem o que ele era por trás das câmeras. [Nas festas] todos tomavam bebidas alcoólicas, sem restrição”, destacou a testemunha.
Ainda conforme explica o procurador Flávio Gondim, os órgãos fiscalizadores entendem que Hytalo ganhava dinheiro com os adolescentes, de várias formas.
“Esse projeto de produção de conteúdo gerava várias formas de receita financeira. Uma delas envolvia uma empresa responsável pela promoção de rifas e sorteios na internet”, acrescentou.
Sean Kompier Abib, advogado que cuida da defesa do influenciador, contou que não tem conhecimento de que o cliente dele tenha envolvimento com empresas de jogos de azar.
“Eu sou advogado criminalista dele. Não trabalho na parte de conhecer a origem do faturamento”, frisou.
Uma das vans de Hytalo foi filmada por uma câmera de segurança saindo pela última vez do condomínio que ele morava, na última quarta-feira (13) com objetos de valor, documentos e equipamentos eletrônicos, pouco antes de a polícia chegar para cumprir um mandado de busca e apreensão.
“Durante essa busca, ficou identificada a possível eliminação de provas e também indícios de possíveis ameaças às testemunhas. Para evitar prejuízos para instrução, foi solicitada a prisão [de Hytalo e do marido]”, disse o procurador-geral de Justiça da Paraíba, Antônio Rocha Neto.
“Eles estavam, sim, tentando se evadir e sabiam que seria expedido um mandado de prisão”, declarou ainda o delegado Fernando Davi.
A defesa do casal nega a fala do delegado e diz que eles estavam de férias em São Paulo. “Se os fatos causam indignação, é uma outra abordagem para a situação. Prendê-lo por isso é um exagero tremendo. A ideia de exploração sexual que foi pintada transborda da realidade, e muito”, conclui o advogado Sean Kompier Abib.