SAÚDE

Jovem de 17 anos passa por transplante de coração no Recife; cirurgia foi bem-sucedida

Família de Pedro Henrique conversou com a Folha e aguarda recuperação do rapaz

Pedro Henrique tem 17 anos e aguarda recuperação - Redes sociais/Reprodução

A miocardite é uma inflamação no músculo do coração. Há 2 meses, o jovem Pedro Henrique, de 17 anos, foi acometido com a doença que o fez ficar em 1º lugar no Nordeste aguardando na fila por um transplante de coração.

No último sábado (16), ele finalmente conseguiu passar pelo procedimento, no Hospital Memorial Star, no bairro da Boa Vista, centro do Recife. A cirurgia foi concluída com sucesso.

A tia de Pedro, a gestora de marketing Clarissa Pires, de 41 anos, está agora mais aliviada. Segundo ela, a miocardite mudou drasticamente a vida do paciente e da família, porque o problema evoluiu rápido e chegou a comprometer o coração dele gravemente.

Antes do transplante, Clarissa e Pedro tiraram uma foto, representando um coração | Foto: Cortesia

Ela relembra, em entrevista à Folha, que quando ele estava esperando, surgiram duas possíveis doações, mas as famílias não autorizaram. Na unidade de terapia intensiva (UTI), Pedro ficou entubado, sedado e dependente de suporte avançado de vida.

“Havia passado por mais uma intercorrência. Nós sabíamos que o tempo era curto e, naquela noite, pedíamos a misericórdia de Deus. Joana [mãe do paciente] e eu estávamos conversando quando o telefone tocou. Era uns dos médicos de Pedro, o doutor Carlos Eduardo Montenegro, trazendo a notícia mais linda da nossa vida. O coração havia chegado”, relembra.

Clarissa afirma ainda que estava bastante emocionada, junto à mãe do menino. Naquela hora, as duas saíram do corredor da UTI e chegaram a pular de alegria. “Todos ao redor, inclusive familiares de outros pacientes, compartilharam daquele momento conosco. Foi emocionante”, ressalta. Contudo, a luta pela vida continuava.

Transporte
O garoto está sob cuidados da equipe do cirurgião Fernando Morais. Um dos integrantes do grupo, o médico João Henrique Torres, gravou a viagem até Feira de Santana, segunda maior cidade da Bahia. Além do coração, foi captar um fígado e um rim. Ele saiu de Pernambuco por volta da meia-noite daquele sábado e chegou ao solo feirense por volta das 2h40.

 
 
 
 
 
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Às 6h, o novo coração de Pedro Henrique chegou à base aérea do Recife. A luta pela sobrevivência do rapaz continuava. Enquanto isso, uma das máquinas que o mantinham vivo estava prestes a falhar, o que poderia ser fatal ao tão jovem moço.

Da Base Aérea, a equipe transportou o órgão no helicóptero do Grupamento Tático Aéreo (GTA) da Secretaria de Defesa Social (SDS) ao Hospital Esperança, na Ilha do Leite. De lá, o órgão foi levado de ambulância até o Memorial Star.

“Sabíamos que a cirurgia seria muito delicada, porque o estado de Pedro era muito delicado. Também sabíamos que a situação dele era gravíssima, mas Deus esteve presente em cada detalhe. Por volta das 10h da manhã recebemos a notícia que nos encheu de esperança. O novo coração já batia dentro do Pedro”, comemorou Clarissa.

Pós-operatório
A partir de agora, já operado, Pedro começa um caminho de recuperação e reabilitação. Como passou muito tempo entubado, conforme conta a tia dele, vai precisar reaprender a falar, engolir e andar. Já iniciou o uso de imunossupressores, o que exige isolamento total neste início. O jovem foi extubado no domingo (18).

“Sabemos que não será fácil, mas acreditamos que tudo vai dar certo. Se a evolução seguir bem, em cerca de 30 dias nosso Pedrinho poderá voltar para casa”, diz ainda, cheia de esperança e emoção.

Lição
A partir de agora, a família de Pedro, segundo Clarissa, vai promover a causa da doação de órgãos. Ela acredita que o tema ainda é tratado como tabu, por acontecer após a morte de alguém.

“Na verdade, fala muito mais sobre vida. Ainda existe desinformação e preconceito. Sentimos isso de perto nas redes sociais, quando algumas pessoas chegaram a dizer que torcíamos pela morte dos outros. Mas o que nós queremos é vida”, acrescenta ela.

Números
Dados do Ministério da Saúde apontam que, de 14 potenciais doadores de órgãos, apenas quatro realizam a doação. Os principais empecilhos são a recusa familiar e a falta de conversa sobre o assunto.

Ainda segundo a pasta, mais de 43 mil brasileiros estão na lista de espera por um transplante e, a cada 14 pessoas que podem doar, pelo menos quatro se tornam doadoras de verdade.

“A decisão de doar, em meio à dor da perda, pode transformar a partida de alguém em esperança para até oito pessoas que continuam lutando para viver. É um ato de amor que atravessa gerações e muda destinos”, acrescenta Clarissa.

O Sistema Nacional de Transplantes (SNT) é quem coordena, normatiza e monitora a realização de transplantes de órgãos, tecidos e células no Brasil.

Segundo essa organização, foram feitos 6.051 transplantes no Brasil, somente em 2025. Desse total, puxando o recorte para transplantes de coração, foram 263 procedimentos cirúrgicos.

Quais órgãos podem ser doados?

“Para os que esperam, creiam em milagres e no tempo perfeito de Deus, mas também corram atrás, falem sobre o assunto com todos que puderem. O dia da sua vitória vai chegar graças a um “sim” de uma família incrivelmente forte”, finaliza ela.