Nordestinos têm presença marcante no Coala Festival, que acontece em setembro, em São Paulo (SP)
Um dos mais importantes festivais de música do Brasil será realizado nos dias 5, 6 e 7, no Memorial da América Latina
Chegando à sua 11ª edição em 2025, o Coala Festival, que acontecerá nos dias 5, 6 e 7 de setembro, no Memorial da América Latina, em São Paulo (SP), não abre mão de uma coisa: a presença de artistas nordestinos no seu line up.
Este ano, estão previstos alguns shows/encontros que evidenciam a incontornável vocação nordestina para, da tradição à vanguarda, produzir alicerces e apontar caminhos futuros para a música brasileira:
Amaro Freitas (PE), Mateus Aleluia (BA), Josyara (BA), Juliana Linhares (RN), Cátia de França (PB), Lazzo Matumbi (BA) e Caetano Veloso (BA), que encerrará o festival, estarão no Coala.
Em conversa com Marcus Preto e Gabriel Andrade, sócios-fundadores do Coala, a reportagem da Folha de Pernambuco aborda a importância da música e dos artistas nordestinos nesse caldeirão tão diverso que é a música brasileira e comenta alguns dos shows desta edição.
Formação cultural
É possível fazer um festival de música brasileira sem a presença do Nordeste no line-up? “No recorte específico que o Coala atua é praticamente impossível”, responde Gabriel Andrade.
“Porque a gente não tem um olhar específico para gêneros musicais, mas, a gente valoriza muito a tradição da canção popular brasileira. É muito difícil você ‘fugir’ dos artistas da música brasileira do século XX, Gil, Caetano, Gal, Bethânia, Alceu, Fagner, Belchior, Tom Zé… ”, continua Gabriel.
“Possível é, mas seria chato, sabe?”, continua Marcus Preto. “Dá para fazer, mas sem o Nordeste, de fato, a casa cai”, completa. Segundo a dupla, o DNA nordestino se espraia em várias manifestações e movimentos relevantes e decisivos na formação cultural do País. A Bossa Nova, a Tropicália e o Manguebeat, por exemplo, tiveram a mão de nordestinos em sua concepção e estruturação.
“Eu acho que não só como tradição, mas, como inovação no que é a música popular brasileira contemporânea, o Nordeste sempre foi fundamental para apontar novos caminhos e também para relembrar as coisas mais tradicionais”, destaca Gabriel, que cita, também, “o impacto da criatividade nordestina no século XXI”:
“Todas essas derivações, ritmos que estão indo para a cultura popular e se fundindo com outros vários ritmos, com uma roupagem mais eletrônica (...) tipo Barões da Pisadinha, toda essa galera do brega, do arrocha, o brega funk, das periferias, o pagode baiano, todas essas estéticas dos centros urbanos e também do Sertão”, fala Gabriel. “É Nordeste por todos os lados, saindo por todos os poros… e vários nordestes, né?”, complementa Marcus.
Shows
Amaro Freitas (PE) + Mateus Aleluia (BA) + Thalma de Freitas (RJ)
Nome de maior destaque na cena instrumental da atualidade, o pernambucano Amaro Freitas se une ao afrocanto ancestral do baiano Mateus Aleluia, em show com a carioca Thalma de Freitas, no Auditório Simón Bolivar – o Palco Tim – , no dia 6 de setembro.
Os três artistas se conectam a partir da relação da criação musical ancorada na diáspora africana, seja na linguagem instrumental, na tradição ou a partir de uma musicalidade mais pop. Três caminhos que se unem em sua negritude.
“A Thalma tem um EP muito bonito, dos anos 2000. Nesse EP, de 2003, ela canta "Cordeiro de Nanã" (...) ali, ela já era conectada com a Mateus Aleluia antes, muito antes da moda d’Os Tincoãs, de eles chegarem no radar de uma galera jovem”, lembra Marcus Preto.
“Como [Thalma] tem, também, uma relação real, muito forte e muito estreita com o Amaro Freitas, há muito tempo (...) Então, acho que a Thalma ali é a figura que eu acho que consegue juntar as pontas e transformar isso num negócio com muita liga”, completa.
Josyara (BA) + Juliana Linhares (RN) + Cátia de França (PB)
As jovens artistas Josyara e Juliana Linhares se unem à veterana Cátia de França, em show no último dia do Coala, 7 de setembro, no palco principal do festival.
Além da forte representatividade que significa esse encontro, há também a reverência de uma geração por outra. Juliana Linhares e Josyara têm uma identificação estética e temática com a obra de Cátia de França, que estreou no mercado fonográfico em 1979, com o clássico álbum “Vinte Palavras ao Redor do Sol”.
Josyara, inclusive, chegou a regravar uma das faixas do álbum de Cátia no seu mais recente trabalho, “AVIA”: a composição “Ensacado” (Cátia de França/Sérgio Natureza) foi registrada em feat. com outra nordestina, a baiana Pitty.
“A gente está vivendo agora um shift geracional, vivendo ainda a transição do século XX para o século XXI. Vários dos artistas que fizeram a música brasileira ser conhecida como ela é no século XX, estão se aposentando ou estão partindo para o próximo plano. E a gente, como festival, tem como missão, não só reverenciar esses artistas em vida, mas também criar novos clássicos, né? Ajudar a não só redescobrir clássicos, mas também criar novos clássicos”, destaca Gabriel, ao comentar esses encontros que o Coala promove em seu palco.
“A Cátia de França tá num momento um pouco parecido com esse anterior d’Os Tincoãs. Ela também está sendo descoberta e colocada na na roda atualmente. Porque ela tem uma obra muito forte (...) são músicas que ainda estão muito cheias de novidade”, pontua Marcus.
Este ano, pela primeira vez em sua trajetória, Cátia de França, foi indicada ao Grammy Latino, pelo seu mais recente álbum “No Rastro de Catarina”, que concorreu na categoria “Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa”.
“Ao mesmo tempo, juntar ela com Josyara e com Juliana, tem mil questões, tem questão sexual, são três cantoras lésbicas, assumidamente lésbicas, de gerações diferentes, que tratam esse tema não necessariamente como algo central, mas que roça esse tema nas canções, muitas vezes. E tanto Juliana quanto Josyara são muito fãs de Cátia”, lembra Marcus.
Lazzo Matumbi (BA) participa do show ‘Not Falling’, de Anelis Assumpção (SP)
Também no último dia do Coala, 7 de setembro, a cantora e compositora paulistana Anelis Assumpção apresentará o show “Not Falling” e receberá, no palco principal do festival, o baiano Lazzo Matumbi, junto a Edson Gomes, um dos nomes mais importantes do reggae na Bahia.
“Esse é um show de reggae que a Anelis faz (...) e para quem é da Bahia, Lazzo e Edson Gomes são a referência máxima do reggae, mas para a galera de São Paulo, muita gente não conhece”, destaca Gabriel, ao comentar a expectativa para esse encontro.
“Eu acho que são formas também de fazer coisas que são relevantes, bonitas, e que têm valor artístico (...) nessa ideia de redescobrir esses clássicos e trazer à tona toda essa galera muito foda que, por vezes, fica restrita a circuitos”, acrescenta.
“E lembrando que Itamar Assunção, pai da Anelis, era um cara que usava muito o reggae (...) era um gênero, um ritmo, que ele tinha ali na obra dele, que toda hora aparece, desde o primeiro disco, com a [banda] Isca de Polícia, até o último trabalho dele… até os póstumos. O reggae era um um ambiente confortável para o Itamar”, acrescenta Marcus.
“E a Anelis, de fato, sabe do que ela tá falando quando ela se junta com essas pessoas, entendeu? É aí que ela encontra respeito, com o veterano, e vice-versa… é nessa comunicação real da história”, completa.
Caetano Veloso (BA)
O baiano de Santo Amaro da Purificação é nome que dispensa apresentações. Aos 83 anos, Caetano continua “organizando o movimento e orientando o carnaval” desde 1967, quando, junto a Gilberto Gil, Tom Zé, Gal Costa, Os Mutantes e outros, tomou de assalto a música e a cultura brasileira com a eclosão do Tropicalismo.
Atualmente, Caetano segue dando um giro por festivais de música do País, com um repertório especialmente preparado para esse formato, apinhado de “músicas rebeldes”, como classifica o baiano. Caetano é quem encerrará a 11ª edição do Coala, com show no dia 7 de setembro.
“Caetano é meu pai, minha mãe, espírito santo, amém! E como bom tropicalista, ele se encaixa em qualquer lugar, em qualquer coisa, em qualquer evento, em qualquer ritmo… se botar ele no negócio do rap, vai funcionar, ele é uma coisa absurda!”, exalta Marcus Preto.
“[Caetano Veloso] é o artista brasileiro mais absurdo que existe. Tem vários melhores do que ele em várias coisas, mas ele consegue ser o melhor em tudo, somando na somatória tudo. 'Ah, o Chico Buarque faz letras formalmente mais bonitas', 'O Milton Nascimento é o mais genial musicalmente'. Tudo verdade! Até o Caetano acha, mas ninguém é melhor que o Caetano em tudo, sabe?”, completa.
SERVIÇO
Coala Festival 2025
Quando: 5, 6 e 7 de setembro
Onde: Memorial da América Latina - Av. Mário de Andrade, 664, Barra Funda - São Paulo-SP
Ingressos: a partir de R$ 190, à venda no Total Acesso
Instagram: @coalafestival