FOLHA ENERGIA 2025

Agenda climática a caminho da meta

O Brasil conta com uma matriz energética majoritariamente renovável, e, por isso, mantém vantagem competitiva importante no cenário global

As hidrelétricas são a maior fonte de energia renovável do Brasil, mas com crescente participação da solar e eólica - Joédson Alves/ Agência Brasil

Signatário do Acordo de Paris, o Brasil tem se comprometido firmemente com a agenda climática global. Neste cenário de grandes desafios, o desenvolvimento das energias renováveis é visto como crucial para a redução das emissões de gases de efeito estufa e para o cumprimento das metas estabelecidas na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil. 

A nova NDC, firmada pelo Brasil ao final de 2024, estabeleceu como meta a redução das emissões líquidas de gases de efeito estufa do país entre 59% e 67% até 2035, em comparação aos níveis de 2005. Em termos absolutos, isso significa alcançar entre 850 milhões e 1,05 bilhão de toneladas de CO2 a menos. 

As normas foram elaboradas levando em consideração as diretrizes estabelecidas no Plano Clima, desenvolvido por meio de um processo de consulta envolvendo governo, sociedade, setor privado, academia, estados e municípios.

Dessa forma, a projeção do governo federal é de que a NDC marque o início de um ciclo de prosperidade econômica e social, com o desenvolvimento de soluções de baixo carbono que promovam inovação tecnológica, uso consciente dos recursos naturais e geração de emprego. 

IMPACTOS
Com essas iniciativas, a perspectiva é de que o desenvolvimento das energias renováveis traga benefícios socioeconômicos significativos, incluindo a segurança energética e a geração de empregos, um impacto notável em diversas regiões do país.

“A ampliação das renováveis permite ao Brasil reduzir sua dependência de fontes fósseis e, com isso, cortar emissões diretas de gases de efeito estufa. Além disso, o uso de eletricidade renovável para a produção de hidrogênio verde é uma solução concreta para descarbonizar setores como siderurgia, refino e fertilizantes. Isso contribui diretamente para o cumprimento das metas estabelecidas na NDC brasileira, no âmbito do Acordo de Paris”, detalha a CEO da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV), Fernanda Delgado.

Fernanda Delgado CEO da ABIHV | Foto: Divulgação

Na visão de Fernanda, o Brasil já conta com uma matriz elétrica majoritariamente renovável, com destaque para as hidrelétricas, mas também com crescente participação da solar e da eólica. Dessa forma, o país conta com uma vantagem competitiva importante no cenário global. 

“As fontes renováveis são fundamentais para descarbonizar setores intensivos em emissões e para viabilizar vetores como o hidrogênio verde, que tem papel central na substituição de combustíveis fósseis em processos industriais e na mobilidade, fortalecendo a descarbonização da economia brasileira, o desenvolvimento tecnológico e a geração de empregos de alta qualidade”, completa a CEO da ABIHV.

GARGALOS
Além disso, o setor de energias renováveis é uma alavanca de desenvolvimento regional e nacional. No caso específico do hidrogênio verde, estimativas indicam que o Brasil pode gerar até R$ 7 trilhões em impacto no PIB até 2050. 

“Projetos em curso no Nordeste, por exemplo, têm potencial de gerar dezenas de milhares de empregos diretos e indiretos. Além de impulsionar a economia, o avanço das renováveis fortalece a segurança energética ao diversificar a matriz e reduzir vulnerabilidades associadas à volatilidade de combustíveis fósseis”, completa a especialista.

Apesar dos inúmeros benefícios listados, a tendência de crescimento robusto das energias renováveis nas próximas décadas esbarra na capacidade de integração dessa geração no Sistema Interligado Nacional (SIN), apresentando desafios importantes para a infraestrutura existente, o que exige investimentos contínuos em transmissão e distribuição.

“Há gargalos para conectar projetos renováveis ao Sistema Interligado Nacional, especialmente em regiões como o Nordeste, que têm alto potencial de geração, mas ainda enfrentam limitações logísticas. É urgente acelerar os investimentos em linhas de transmissão e aprimorar o planejamento energético para garantir que os projetos em desenvolvimento possam operar em plena capacidade”, ressalta Fernanda. 

A visão é compartilhada pelo advogado Felipe Kfuri, advogado especializado no setor de energia e sócio do L.O. Baptista Advogados. “No Brasil, o grande problema é a infraestrutura para fazer a distribuição dessa energia que é gerada, mas encontra dificuldades para ser transferida para o mercado consumidor. É necessário para que esse sistema funcione melhor para que a energia produzida possa ser exportada com maior facilidade para o mercado consumidor”, comenta. 

Apesar dos entraves, o potencial brasileiro para a geração de energia renovável, com destaque para a região Nordeste, coloca o país como grande motor da transformação mundial.

PROTAGONISMO
As energias renováveis são fundamentais para a agenda do clima porque elas oferecem uma alternativa limpa e sustentável aos combustíveis fósseis que são efetivamente os principais responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa. 

São classificadas como energias renováveis aquelas geradas por fontes como a solar, a eólica, a hidrelétrica e biomassa, fontes que emitem pouquíssimo CO2 durante o seu processo de geração de energia”, afirma o advogado.

Felipe Kfuri, advogado especializado no setor de energia | Foto: Divulgação

Um dos horizontes mais promissores para o Nordeste é o desenvolvimento do hidrogênio verde, um combustível limpo que tem o potencial de ampliar a segurança energética e a descarbonização no país. 

“Além de ser uma energia limpa, descarbonizada, ele pode ser usado pela indústria pesada, como na siderurgia ou no transporte marítimo, por exemplo. Existe o benefício de ser uma energia que pode ser armazenada e transportada, com o potencial de exportação para fora do Brasil”, completa Felipe.

Dessa forma, a expectativa é de que o Brasil se torne um hub global de energia renovável,  posicionando-se como um protagonista essencial na agenda climática global. Nesse cenário, a sinergia entre o compromisso com o Acordo de Paris e o desenvolvimento de fontes como solar, eólica e hidrogênio verde fomentam a segurança energética, a inovação tecnológica e o consequente cuidado com o meio ambiente.

Arte: Folha de Pernambuco