Eduardo xingado, Tarcísio citado e anistia: o que foi dito nos áudios de Bolsonaro e Malafaia
Áudios foram encontrados no celular do ex-presidente e enviados ao Supremo Tribunal Federal
A Polícia Federal obteve uma série de áudios do ex-presidente Jair Bolsonaro e do pastor Silas Malafaia no âmbito da investigação que apurou a atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos. Entre as gravações estão registros de conversas do ex-presidente com o advogado do presidente americano Donald Trump, além de mensagens sobre as condutas do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do próprio Eduardo Bolsonaro.
Os áudios foram encontrados pela Polícia Federal (PF) no celular de Bolsonaro e enviados nesta quarta-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF), junto com o relatório no qual o ex-presidente e seu filho foram indiciados por coação no curso do processo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.
Em um dos áudios obtidos pelas autoridades, o ex-presidente pede orientação ao advogado americano Martin De Luca, que representa as empresas Rumble e a Trump Media & Technology Group, antes de fazer uma publicação sobre o tarifaço nas rede sociais.
"Martin, peço que você me oriente também, me desculpa aqui tá, minha modéstia, como proceder. Eu fiz uma nota, acho que eu te mandei. Tá certo? Com quatro pequenos parágrafos, boa, elogiando o Trump, falando que a questão de liberdade tá muito acima da questão econômica", disse Bolsonaro em uma mensagem de áudio.
"A perseguição a meu nome também, coisa que me sinto muito... pô fiquei muito feliz com o Trump, muita gratidão a ele. Me orienta uma nota pequena da tua parte, que eu possa fazer aqui, botar nas minhas mídias, pra chegar a vocês de volta aí. Obrigado aí. Valeu", conclui o ex-presidente.
Martin De Luca responde ao ex-presidente em seguida: "Vou mandar hoje a noite mesmo, presidente. Um resumo de como eu acho que pode melhorar a comunicação em relação ao tarifaço". Para a PF, o áudio no qual Bolsonaro pede auxílio ao advogado indica que "o ex-presidente atua de forma subordinada a interesses de agentes estrangeiros".
Outros áudios obtidos pelas autoridades são mensagens enviadas pelo pastor Silas Malafaia ao ex-presidente. Em uma delas, o líder religioso pede para que Bolsonaro pare de fazer críticas públicas ao filho Eduardo.
— Você me desculpa, você podia até defender Tarcísio (de Freitas). Porque foi você que mandou Tarcísio na embaixada e falar com Gilmar. Agora, você queimar seu garoto? Aí não, vai me desculpar. E olha que eu bato, eu mando mensagem para Eduardo batendo nele. Isso é um erro estratégico de alto grau — diz o pastor, que acrescenta, em seguida — Agora, você batendo no seu filho que está fazendo um trabalho junto às autoridades, falando com os principais assessores de Donald Trump, conseguindo produzir isso tudo aí que o Trump está fazendo, aí você errou, mas errou feio.
Em outro diálogo, Malafaia e Bolsonaro discutem a possibilidade de conseguir uma anistia para livrar o ex-mandatário do processo a que responde no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. Em um áudio enviado ao pastor, Bolsonaro afirma que, se a anistia não for votada, não haveria negociação sobre a tarifa de 50% imposta pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.
— O que eu mais tenho feito, Malafaia, é conversar com pessoas mais acertadas, vamos assim dizer, no tocante de que se não começar votando a anistia não tem negociação sobre tarifa. Não adianta um ou outro governador querer ir pros Estados Unidos ou para embaixada tentar sensibilizar. Não vai conseguir. Da minha parte, é por aí, ô. Agora, eu não posso também expor, como você quer que eu me exponha, que daí não resolve nada. Se eu der uma de machão agora, 'Atenção, só se for assim, só se for assado', não resolve nada — disse o ex-presidente, que segue:
— Eu tenho meus contatos, não falo com ninguém e tô fazendo aquilo que eu entendo. Você também tem razão, é a anistia! Resolveu a anistia, resolveu tudo. Não resolveu, já era. Ele não perde nenhuma. Tenha certeza disso.
Em outra gravação obtida pela PF, o líder religioso diz que o filho do ex-presidente é um "babaca" e acrescenta: "a próxima que você fizer, eu gravo um vídeo e te arrebento".
— A faca e o queijo estão na tua mão, cacete, e nós não podemos perder isso, pô. E vem o teu filho babaca falar merda, dando discurso nacionalista, que eu sei que você não é a favor isso. Dei um esporro, cara, mandei um áudio para ele de arrombar. E disse para ele: "a próxima que você fizer, eu gravo um vídeo e te arrebento". Falei para o Eduardo.
No mesmo áudio, Malafaia elogia outro filho de Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), por vincular a discussão sobre a tarifas à anistia a investigados por atos antidemocráticos.
— Dá parabéns ao Flávio, pô. Falou certo na GloboNews: "eu não sou a favor da taxação, não, mas tem que sentar para conversar sobre anistia". A carta do Trump é para você.
Em outro áudio obtido pela PF, Malafaia disse ao ex-presidente saber que ele pediu ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para que se reunisse com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e com "uma embaixada". Em resposta, Bolsonaro nega a orientação ao governador e diz que ele mesmo tinha o contato direto do encarregado de Negócios da Casa Branca, Gabriel Escobar.
Em entrevista ao Poder 360, Bolsonaro enalteceu o governador e disse que era "obrigação de Tarcísio defender o seu estado" contra os efeitos econômicos gerado pelo tarifaço do governo americano aos produtos brasileiros. O governador de São Paulo havia se reunido com diplomatas e representantes da Embaixada dos EUA, como Escobar, buscando soluções. Ao Globo, Eduardo criticou a iniciativa do governador.
Dias antes, diante de notícias de que teria pedido a Gilmar Mendes que conseguisse a liberação do passaporte de Bolsonaro para que ele fosse aos Estados Unidos negociar com o presidente americano, Tarcísio negou a possibilidade. O diálogo pela liberação do passaporte também foi criticado por Eduardo. De acordo com Malafaia, as duas agendas do governador foram feitas a pedido de Bolsonaro.
— Presidente, me desculpa. Você até podia defender Tarcísio, já que foi você quem mandou Tarcísio na embaixada e falar com Gilmar. Agora, queimar seu garoto, você vai me desculpar. Isso é um erro estratégico de alto grau, você tem que olhar o trabalho que seu filho está fazendo, falando com os principais assessores de Donald Trump — afirmou.