opinião

A atmosfera mágica de Olinda

Jamais, nem mesmo nos meus melhores sonhos, imaginei que um dia teria a honra de me tornar cidadão olindense. Nascido e criado no Recife, sempre encontrei em Olinda um refúgio de encantos e boas lembranças. Desde a infância, visitava com frequência parentes e amigos que aqui residiam, e cada uma dessas estadas se transformava em dias inesquecíveis. 

Embora vivesse a poucos quilômetros de distância, no bairro do Espinheiro, Olinda sempre me pareceu envolta em uma atmosfera única — mais leve, mais vibrante, carregada de uma energia positiva difícil de explicar. Era como se, ao atravessar a fronteira invisível que separa as duas cidades, eu fosse transportado para outro país, outro continente, ainda que tão próximo de casa. 

Com o tempo, veio o Carnaval. E eu, folião apaixonado, mergulhava de corpo e alma na festa: subia e descia ladeiras até a exaustão, e sempre me emocionava, entre lágrimas de saudade, quando assistia pela televisão o Bacalhau do Batata, anunciando que a quarta-feira ingrata chegara tão depressa, só pra contrariar. 

Vieram os anos, o trabalho, a vida no interior após a aprovação no concurso de promotor de justiça, o casamento, as filhas — minhas maiores alegrias — e a maturidade. Mas nada foi capaz de diminuir o amor e a admiração que nutro por Olinda. Quantas vezes me emocionei ao ver a multidão vibrar, cantar e dançar como uma só família, celebrando a vida nas ladeiras históricas desta cidade? 

Peço desculpas ao meu amado Recife, mas é inegável: Olinda tem um brilho a mais, um encanto que nunca encontrei em outro lugar. Hoje, prestes a completar sessenta anos, já não tenho o mesmo vigor para brincar o Carnaval como antes. Mas continuo vindo com frequência, sobretudo aos domingos de manhã, para contemplar suas igrejas, seu casario, sua história, sua culinária — e, acima de tudo, o mar, que visto da Cidade Alta fica ainda mais belo. 

Sei que, enquanto puder, continuarei a voltar para me reabastecer de energia e reviver memórias tão caras. E então me perguntei: o que poderia fazer para retribuir tanto amor, tantas lembranças, tanta gratidão? A resposta veio quando coordenamos a busca de solução para o grave problema dos chamados prédios-caixão. 

Após inúmeras reuniões, intenso trabalho e esforço coletivo, conseguimos apresentar uma proposta de mediação que foi acolhida por todos e assinada na Presidência da República, com a presença da Governadora. Essa iniciativa permitirá a demolição de 431 prédios em Olinda, Paulista e Jaboatão dos Guararapes, beneficiando mais de 14 mil famílias — cerca de 50 mil pessoas. 

Com isso, resgatamos não apenas o direito à moradia, mas também a dignidade, a segurança e a esperança de tantos cidadãos. Talvez seja pouco diante de tudo o que recebi de Olinda, mas sinto que, de algum modo, pude retribuir. E hoje, com imenso orgulho, afirmo: sou cidadão de uma das cidades mais antigas e belas do Brasil, berço de heróis e mártires, onde nasceu a República, como tão bem celebra o Hino de Pernambuco. 

Agradeço, primeiramente, a Deus, e estendo minha gratidão aos vereadores, à Prefeita Mirella, aos meus pais, saudade imensa, que me apresentaram este lugar único, à minha esposa Laura, amor da minha vida, às minhas filhas Érika e Gabriela, razão da minha existência, que também se encantaram por esta cidade, aos amigos e a todos os conterrâneos desta Olinda tão querida e amada.

Pensei em me despedir cantando: “Ó, linda situação, por uma cidadela. Mais um frevo-canção, eu vou cantar pra ela." Mas prefiro entoar: “Olinda! Quero cantar a ti esta canção. Teus coqueirais, o teu sol, o teu mar. Faz vibrar meu coração, de amor a sonhar. Minha Olinda sem igual. Salve


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