Nordeste é estratégico para energia renovável
De acordo com Aneel, a participação, em 2024, da região na matriz energética brasileira representou 68% do total nacional. Expansão foi impulsionada pelas fontes renováveis
O Nordeste brasileiro possui um alto potencial de geração de energias renováveis, com questões favoráveis devido à sua posição geográfica. Estados como Bahia, Rio Grande do Norte, Piauí, Ceará e Pernambuco se destacam na geração de fontes como eólica, solar, hidrelétrica e biomassa.
Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a região teve uma importante participação na matriz energética brasileira em 2024, somando mais de 7 mil MW de nova capacidade instalada, o que representa 68% do total nacional. A expansão foi impulsionada pelas fontes renováveis. As usinas eólicas e solares fotovoltaicas foram responsáveis por 91,13% do crescimento.
Foram adicionados no Brasil no ano passado 10.853,35 MW. Entre os estados com mais usinas instaladas, os destaques foram Minas Gerais (3.173,85 MW), Bahia (2.408,67 MW) e Rio Grande do Norte (1.816,38 MW).
Estratégico
De acordo com o professor do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), Campus Recife, José Bione de Melo Filho, o Nordeste é estratégico no desenvolvimento das energias renováveis.
“Além de ter a questão do sol de uma forma bastante intensa, temos a dos ventos, que são bem favoráveis devido à posição geográfica da região. A gente também não pode esquecer do potencial hidrelétrico que o Nordeste possui, por conta do Rio São Francisco, Parnaíba e outros, que pode ainda ser explorados no que diz respeito às pequenas usinas hidrelétricas, mas também a própria biomassa, que é um outro potencial que pode vir a ser agregado a este contexto”, afirmou.
Outras fontes também contribuem para a região se consolidar como potência na geração de energia verde, segundo José Bione.
“Você integra a questão de hidrogênio, que seria um bom potencial aqui na região, e também a questão hoje de cargas e de rendimento que seriam chamados data centers, que se concentram junto com as energias renováveis. Uma fonte puxa a outra. Isso pode gerar uma riqueza para o Nordeste, com trabalho e renda para a população”, acrescentou.
Protagonismo
A Região Nordeste tem um grande potencial para se tornar protagonista na produção de hidrogênio verde (HV), tecnologia produzida por meio de eletrólise da água, utilizando energia de fontes renováveis, como solar e eólica.
O HV serve como um combustível e matéria-prima versátil, com aplicações em diversos setores para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e diminuir as emissões de carbono. Ele pode ser usado para gerar eletricidade, calor e força motriz, além de ser matéria-prima para a indústria.
O professor do Centro de Energias Renováveis da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador do curso de engenharia de energia, Emerson Torres, explica que, quando o hidrogênio verde se sedimentar, a região pode se tornar exportador da tecnologia, inclusive para a Europa.
“O local para se distribuir este hidrogênio são os portos. A gente tem o Porto de Suape, e no Ceará tem o Porto de Pecém. Há alguns projetos que estão em andamento envolvendo o hidrogênio verde. Eu participo de alguns projetos de pesquisa. A gente pesquisa sobre a viabilidade e implantação de hidrogênio mediante o uso de energia renovável, sendo assim o hidrogênio que a gente chama de verde. Isso dá uma grande empregabilidade para os alunos do curso de engenharia de energia da universidade, para técnicos, e para toda a cadeia produtiva desta geração de energia limpa”, pontuou.
Com o crescimento do mercado, as instituições de ensino desenvolvem projetos e pesquisa na área. O IFPE, por exemplo, promove cursos para formar mão de obra qualificada. Recentemente, o instituto firmou parceria com uma empresa e formou mais de 200 especialistas na área de energia solar.
Autonomia
“Os especialistas podem trabalhar como autônomos e também prestando serviço a outras empresas que já existem. Falta mão de obra, mas existe no mercado muita gente boa. Porém, há muitos curiosos que às vezes entram no setor porque ouviram falar que a energia está dando dinheiro, mas ainda não têm o conhecimento”, destacou o professor José Bione.
Na instituição, também existe um projeto em andamento que visa a autonomia energética da unidade localizada no Recife.
“Todo o consumo energético será de fontes renováveis, principalmente a solar. O IFPE está integrado com esta temática, e procurando gerar oportunidade para a sociedade para que ela também se integre cada vez mais. Também tem outro fator determinante, que é a questão do armazenamento de energia. Estamos nos preparando para que, em um futuro muito próximo, a gente possa fazer um treinamento e capacitação dentro desta temática”, disse o professor.
No Recife Expo Center, no bairro de São José, centro da cidade, será realizado o Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica (SNPTEE), de 19 a 22 de outubro, um dos maiores eventos do setor elétrico da América Latina, inserindo Pernambuco no centro das discussões.
Projetos
Já a UFPE realiza Projetos de Desenvolvimento e Inovação com as empresas. Os projetos chegam dentro de alguns anos à prateleira comercial. O professor Emerson Torres revelou que a universidade já auxiliou a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) na implementação do Centro de Referência em Energia Solar de Petrolina (Cresp) e em uma planta fotovoltaica flutuante em cima do Rio São Francisco.
“Quando as empresas têm algum problema, elas abrem um edital, e a gente concorre buscando propor soluções. O nosso grupo de pesquisa já ganhou diversos editais para propor soluções que cheguem, dentro de algum tempo, à indústria”, disse o professor.
Investimentos
O governo e a iniciativa privada têm investido cada vez mais em infraestrutura de energias renováveis, como linhas de transmissão e parques eólicos e solares. Em 2024, o Fundo Clima aprovou R$ 1,8 bilhão de crédito para o Nordeste, montante 36 vezes superior ao registrado em 2022 (R$ 51 milhões), consolidando a região como a que mais avança na aprovação de projetos de transição energética.
No ano passado, a iniciativa, operada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática (MMA), aprovou R$ 10,2 bilhões em crédito em todo o país.
Já a estimativa do Banco do Nordeste (BNB) aponta que os financiamentos realizados pelo banco em 2024 voltados para projetos de geração centralizada de energia limpa devem evitar a emissão de 18,3 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente (tCO2e).
A avaliação considera R$ 4,4 bilhões, sendo R$ 3,9 bilhões contratados pelo banco com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) em 47 grandes projetos eólicos e solares, que devem gerar 1.930 megawatts (MW). Além deles, outros projetos de autogeração financiados com diferentes fontes contribuem para a redução na emissão de CO2.