MINISTRO DA FAZENDA

Tarifaço: "Hostilidade" dos EUA é para "livrar a cara de golpistas", diz Haddad

Ministro disse que que Brasil quer manter parceria com EUA, mas não negociará independência dos poderes

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad - Paulo Pinto/Agência Brasil

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou neste sábado que o que chamou de "hostilidades" do governo de Donald Trump contra o Brasil têm motivação política e, sem citar a família Bolsonaro diretamente, disse que as mensagens trocadas entre o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o ex-presidente Jair Bolsonaro identificadas pela Polícia Federal mostram “que o único objetivo (da ação nos EUA) é livrar a cara dos golpistas”.

Haddad participou por videoconferência do encontro do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), realizado em Brasília. O vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, esteve no evento e também criticou o tarifaço imposto por Trump a exportações brasileiras aos EUA.

O ministro da Fazenda reiterou que há interesse do país em manter uma parceria comercial com os Estados Unidos e em negociar, mas sem abrir mão da independência entre os poderes no Brasil e da soberania nacional.

— Fiz uma reunião na Califórnia com o secretário do Tesouro (de Trump), Scott Bessent, as tratativas estavam andando muito bem até que essa atitude hostil nos surpreendeu pela ação de grupos de extrema direita brasileiros que, de patrióticos, não têm absolutamente nada. Vimos aí pelas mensagens trocadas que o único objetivo é livrar a cara dos golpistas e não tem nenhuma outra finalidade essa hostilidade que não seja reabilitar a extrema direita no Brasil — afirmou Haddad.

O ministro da Fazenda faz referência às mensagens trocadas por Jair Bolsonaro com seu filho Eduardo, que está autoexilado nos Estados Unidos e tem buscado, com o apoio do blogueiro bolsonarista Paulo Figueiredo, fazer lobby junto ao governo Trump em prol de sanções ao Brasil e a autoridades brasileiras.

Mensagens obtidas pela Polícia Federal e tornadas públicas nesta semana mostram diálogos de Jair Bolsonaro com Eduardo e o pastor Silas Malafaia sobre como as tarifas impostas pelos EUA poderiam ser utilizadas para pressionar por uma anistia direcionada ao próprio ex-presidente.

A estratégia foi evidenciada em mensagem enviada por Eduardo ao pai em 7 de julho, no mesmo dia em que Trump fez uma publicação criticando o processo criminal contra o aliado. O deputado considerou que uma “anistia light”, que beneficiaria apenas os executores do 8 de Janeiro, encerraria a “ajuda” dos EUA.

Com isso, indicou que seria necessária uma medida mais ampla, que beneficiaria Bolsonaro também. “Se a anistia light passar, a última ajuda vinda dos EUA terá sido o post do Trump. Eles não irão mais ajudar. Temos que decidir entre ajudar o Brasil, brecar o STF e resgatar a democracia OU enviar o pessoal que esteve num protesto que evoluiu para uma baderna para casa num semiaberto”, escreveu Eduardo, na ocasião.

Haddad disse também que “jamais passou pela cabeça abrir mão da parceria com os Estados Unidos, mas não nas condições que estão sendo colocadas”.

— Nós dialogamos com todos os governos, em vários momentos o presidente Lula nos seus três mandatos teve ótimas relações com presidentes americanos, democratas e republicanos, e sempre mantivemos a nossa postura altiva, séria, soberana no trato de assuntos comuns entre os dois povos. Não tem nenhuma razão para que isso mude, até porque o governo Trump é temporário e o Brasil e os Estados Unidos são estados nacionais permanentes — disse o ministro.

Alckmin, por sua vez, reafirmou que o governo brasileiro segue aberto a negociações comerciais com os Estados Unidos e que o tarifaço imposto ao Brasil não tem justificativas econômicas plausíveis.

O vice-presidente Alckmin foi aplaudido pelo auditório petista quando afirmou que tem “tendência mais à esquerda”. Ele, que hoje é filiado ao PSB, foi quadro histórico do PSDB e adversário do PT de Lula por décadas, tendo disputado com o petista as eleições presidenciais de 2006.

Com um discurso com vistas ao período eleitoral, Alckmin afirmou que “eleição é comparação” e, sem citar Bolsonaro, disse que o governo Lula foi melhor que o do antecessor em qualquer área.

— O presidente Lula e nós que ajudamos salvamos o país de um golpismo. Se eles perdendo a eleição tentaram dar golpe, imagina se tivesse ganho o que teria acontecido — disse Alckmin.