Cineasta carioca Julia Murat participa de debate no Cinema do Museu
Dançarina e escultor moram juntos no longa-metragem "Pendular", em cartaz no local e no Cine São Luiz
É um bom título: "Pendular". A palavra sugere um movimento ritmado, de velocidade gradualmente menor; um sentimento ambíguo de calma, uma aproximação misteriosa ao equilíbrio. Há algo dessas ideias no novo filme da cineasta carioca Julia Murat, que vem nesta sexta-feira (29) ao Recife para debater o longa-metragem, depois da sessão das 20h, no Cinema do Museu.
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Confira as sessões de "Pendular"
No enredo, um casal de artistas se muda para um galpão industrial abandonado. Ela (Raquel Karro) é uma dançarina, ele (Rodrigo Bolzan), um artista plástico. Delimitam a casa apenas com fita colorida, para separar os ambientes de trabalho de cada um e ainda assim poder se ver enquanto criam. Há amor, sexo e compatibilidade intelectual entre eles.
O que se desenvolve é uma interessante forma de aproximar arte e sentimentos de uma intimidade. Julia parece recorrer à expressão artística para pensar sobre as tensões da vida, dos relacionamentos, dos dilemas cotidianos. Os trabalhos de cada um dos personagens parecem refletir seus abismos pessoais, suas crises e emoções sem definição clara.
É preciso ressaltar a beleza e o fascinante poder sugestivo das coreografias executadas por Raquel Karro durante o filme. A certa altura ela está sentada em uma cadeira, lendo um livro, apoiando os pés em outra cadeira. Ela força um movimento como se estivesse em um balanço, mostrando equilíbrio e precisão.
É uma ação carregada de tensão e mistério, até a câmera virar e mostrar uma plateia fascinada vendo esse movimento. Ao fim da coreografia as duas cadeiras estão enroscadas numa estabilidade ao mesmo tempo firme e tênue, o que parece representar a própria relação desse casal.
As coreografias parecem criar sentidos e emoções, um poder narrativo que segue um conceito empolgante de formação de história. É possível ver não apenas beleza como também mistério nesses movimentos, como uma dimensão secreta que revela intimidades sem palavras e com uma bela carga emocional.
Aos poucos o filme, que venceu o prêmio Fipresci (federação que reúne críticos de cinema) no Festival de Berlim 2017, se mostra como um interessante drama sobre as pequenas escolhas e o que elas significam em termos de vida e mudança. Julia parece se comunicar através de movimentos sensíveis, certos mistérios que se expressam através da abstração da arte.