Flexibilidade para ser feliz
Vivemos em uma cultura na qual a busca pela felicidade parece ser um processo constante e desejado pelas pessoas. Como se nos sentirmos tristes, frustrados, com raiva ou qualquer outro sentimento difícil devesse ser evitado a qualquer custo. É comum caminharmos e observarmos pessoas, seja pessoalmente, seja pelas redes sociais, e nos questionarmos: por que minha vida não é como a delas? E por que não consigo ser feliz como elas?
A verdade é que todos, sem exceção, sofrem, mesmo as pessoas que estão o tempo todo sorrindo nas fotos que compartilham. A pessoa pode ser ou ter tudo que é admirado e/ou desejado pelos outros e, mesmo assim, experienciar sentimentos difíceis. Se é ruim ou dolorido, eu não quero mais isso e preciso descobrir como evitar esses sentimentos ou controlá-los. Parece que a vida só começa quando o controle desses sentimentos for possível.
E como nós entramos em batalhas para evitar ou controlar essas experiências... No entanto, a verdade é que quanto mais tentamos evitar esses sentimentos, mais fortes eles ficam. É como se eu ficasse repetindo para mim mesma que não posso sentir isso, não posso sentir isso, e quanto mais eu repito, mais isso vem à minha cabeça. E tudo isso nos paralisa, nos desconecta de nós mesmos, do momento presente e dos outros, ou seja, vida e contato com uma vida valiosa, uma vida que vale a pena ser vivida.
A terapia de aceitação é o compromisso apresentado por Steven Hayes, doutor em psicologia e conhecido por ser o idealizador da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), com a proposta de trabalhar a aceitação dos sentimentos e promover flexibilidade psicológica aos indivíduos.
Aceitar os sentimentos como eles se apresentam, mesmo os mais difíceis, senti-los, compreender a relação deles com a nossa história e com o contexto atual, tem um efeito muito na diminuição da sua intensidade e frequência do que tentar fingir que esses sentimentos não estão ali. Aceitá-los significa abraçar com compaixão as nossas experiências internas, enquanto trabalhamos na construção de novas formas de se comportar baseadas nos nossos valores pessoais.
Momentos de dor psicológica são apenas um dos diversos momentos em que todos nós enfrentamos ao longo da nossa vida. O objetivo de uma vida bem vivida é SENTIR BEM, e não SENTIR-SE BEM. Em resumo, vou citar a frase de [L.R.] Knost: “A vida é incrível, mas também é horrível — e é no incrível e horrível dela é que se mora! e na rotina!”.
Que nós possamos encontrar momentos de felicidade, conexão com o momento presente e sentido não só quando ela é incrível, mas também na nossa rotina diária – e que seja possível sentir, entender e suportar os momentos horríveis.
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