Entrevista: CPI do INSS pode convocar irmão de Lula se for "necessário", diz relator
Deputado diz que rótulo de bolsonarista não o incomoda, mas afirma que não visitará ex-presidente em prisão domiciliar
Escolhido relator da CPI do INSS em um acordo político que representou uma derrota para o governo, o deputado Alfredo Gaspar (União-AL) afirmou que Frei Chico, irmão do presidente Lula, poderá ser convocado “se necessário”, o que o Palácio do Planalto tenta evitar.
Em entrevista, ele também rechaçou a possibilidade de a base ter sucesso em uma eventual tentativa de chamar o ex-presidente Jair Bolsonaro em resposta: “Sem problema, mas tem que chamar Dilma, Temer e Lula”. O parlamentar afirmou que não se incomoda de ser classificado como "bolsonarista", mas pontuou que o trabalho na comissão será técnico.
O senhor faz oposição ao presidente Lula. Vai usar a relatoria da CPI para atacar o governo?
Vou atacar os bandidos que meteram a mão no dinheiro dos aposentados, pensionistas e no crédito consignado. De qual cor partidária serão, não sei antecipar. O trabalho será sério e técnico. O governo e a oposição que façam sua propaganda fora da relatoria. Sou de oposição e de direita. Mas buscarei os fatos com independência. Vamos atrás das evidências, e elas indicarão os responsáveis. A comissão tem 64 membros. Todos poderão investigar, não só o relator.
A CPI vai convocar Frei Chico, irmão de Lula e vice-presidente de um sindicato?
Não podemos ter perseguidos nem protegidos. Se for necessário, deve ser convocado, como qualquer outro. Eu mesmo, antes de ser relator, meu primeiro requerimento foi pela convocação (de Frei Chico). Agora vou seguir um rito. Qual foi a escolha? Neste primeiro momento, as associações todas terão seus presidentes chamados. É a lógica.
A base do governo fala em convocar o ex-presidente Jair Bolsonaro. Isso vai acontecer?
Não vejo problema nenhum, desde que o critério seja igual para todos os demais ex-presidentes que estiveram com a gestão sob investigação. Se vai convocar Bolsonaro; convoca Dilma, Temer e Lula. Não há porque convocar um e não convocar os demais.
O senhor vai visitar Bolsonaro em prisão domiciliar?
Tenho admiração e gostaria de vê-lo presidente novamente, embora não saiba se será possível, mas não concordo 100% na abrangência das ideias. Antes de eu assumir a relatoria, cheguei a receber convite para visitá-lo. Eu disse que seria uma satisfação. Com a indicação, hoje eu comuniquei que não é um momento conveniente.
Deputados classificam o senhor como integrante da ala bolsonarista do União Brasil. Concorda com essa definição?
Sou de direita. Não sei bem o que significa ser bolsonarista, mas pode dizer que eu sou. Não me incomodo. Eu não me elegi pelos braços de Bolsonaro, mas não me incomoda em absolutamente em nada ser classificado como bolsonarista.
O governo já o procurou pedindo moderação?
Não. Sou de primeiro mandato, tenho poucos contatos políticos. Sou duro na criminalidade, mas não vou causar qualquer tipo de dificuldade. Governo e oposição podem ficar tranquilos. Meu trabalho será técnico.
Já existem investigações sobre as fraudes no INSS em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF), e a Polícia Federal tem uma série de meios para aprofundar as apurações. O que a CPI pode fazer a mais?
A CPI terá acesso a dados e poderá avançar em outras frentes, corroborando as investigações existentes. Já recebemos muitas informações que confrontaremos com documentos e depoimentos.