opinião

O olhar de um filho pelos 40 anos de magistratura do pai

Escrevo como filho mais velho, para celebrar os 40 anos de magistratura de meu pai, Fausto de Castro Campos, filho de Delmiro Dantas e Genilda Viana. Este texto traz trechos de uma carta de memórias que escrevi em sua homenagem, marcada por lembranças pessoais que revelam não apenas sua trajetória profissional, mas sobretudo sua essência humana.

Natural de Salvador e criado em Casa Nova, no sertão baiano, partiu aos 17 anos para o Recife, onde se formou em Direito pela tradicional Faculdade de Direito do Recife. Antes de ingressar na magistratura, em 1985, foi advogado no Vale do São Francisco, em tempos em que os honorários vinham, muitas vezes em sacos de cebola ou galinhas.

Iniciou a carreira de juiz em Salgueiro, depois, passou por Afogados da Ingazeira e Caruaru, onde chegou a enfrentar ameaças como magistrado criminal. Eu, como filho, fui testemunha constante desse caminho: criança, corria pelos corredores dos fóruns; adolescente, acompanhava de perto suas jornadas; e, já na faculdade, assistia às sessões do Tribunal do Júri, que ele assumiu em 1991, no Recife, onde permaneceu por quase duas décadas. Sempre lembrado pelo equilíbrio e pelo respeito no exercício da jurisdição, também atuou em Fernando de Noronha, deixando registrada sua capacidade conciliadora.

Presidiu o Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco nas eleições de 2014, conduzidas com serenidade e firmeza. Hoje, exerce a 1ª Vice-Presidência do TJPE (gestão 2024-2026), tendo protagonizado decisão histórica no caso Pasep, que resultou no Tema Repetitivo 1300 do STJ, reafirmando seu compromisso com a boa técnica jurídica e com o futuro da Justiça.

Mas Fausto é muito mais do que um magistrado de carreira exemplar. É torcedor apaixonado pelo Santa Cruz, homem de hábitos simples — como o costume de andar a cavalo, faça chuva ou sol, nos sábados em Aldeia — e alguém que nunca levou a toga para fora do tribunal. É lembrado pelo humor afetuoso, pela proximidade com colegas e servidores — muitos ao seu lado há mais de três décadas — e pela simplicidade com que sempre tratou a todos.

Casado com Amanda, pai de Delmiro, Paula, Camilla, Lucas e Maria Eduarda, avô de Guilherme, Helena, Fausto, João Pedro e das gêmeas Maria Elisa e Maria Teresa, que estão a caminho, representa para nós não apenas a imagem do juiz por essência, mas de um homem comum, amigo dos amigos, que honra há quatro décadas a magistratura pernambucana.
Hoje, presto publicamente a homenagem que muitos deixam para as ocasiões póstumas: dizer que amo meu pai e reconhecer que sua história de vida se entrelaça com a Justiça.
 

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