Brasil

'Não aceito que ninguém venha dar palpite sobre a democracia brasileira", diz Lula

Em tom de campanha, petista ressaltou a importância da educação no desenvolvimento do país e minimizou o impacto do apoio americano aos países latinos

Em tom de campanha, Lula ressaltou a importância da educação no desenvolvimento brasileiro e minimizou o impacto do apoio americano aos países latinos - Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retomou o discurso da soberania brasileira nesta sexta-feira durante agenda em Minas Gerais.

Diante da crise diplomática por conta do tarifaço, o petista criticou os Estados Unidos e disse não aceitar interferências externas na democracia brasileira.

— Eu sonho com uma nação independente. Por isso eu não aceito que ninguém venha dar palpite sobre a democracia brasileira e se meter na soberania brasileira. Não sou orgulhoso, mas caráter e dignidade temos que ter para não sermos desrespeitados — disse Lula na inauguração do Centro de Tecnologia e Inovação Agroindustrial em Montes Claros.

Em tom de campanha, Lula ressaltou a importância da educação no desenvolvimento brasileiro e minimizou o impacto do apoio americano aos países latinos.

— Nós que precisamos pensar no tipo de nação que queremos (construir). Não podemos ficar rindo para os Estados Unidos, na expectativa deles fazerem o que estamos precisando. Eles não vão. Se alguém não acredita nisso, é só perceber: qual país da América Latina vizinho aos Estados Unidos ficou rico? Estou falando de 500 anos.

Como mostrou o GLOBO, conhecedores da história da política externa brasileira e do elo bicentenário entre Brasil e Estados Unidos afirmam, sem titubear, que o momento atual é o mais crítico de uma relação bilateral que acumula crises.

Apontam ainda que jamais houve uma ingerência tão escancarada dos americanos na política doméstica brasileira como agora, sob a batuta de Donald Trump. Entre os componentes que conferem peculiaridade à crise vigente está a falta de canal entre Planalto e Casa Branca.

Lula em Minas

Mais cedo, o petista declarou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) "tem que provar sua inocência" ao invés de pleitear a anistia. Em entrevista concedida à Rádio Itatiaia, quando questionado se assistirá o julgamento de Bolsonaro na ação penal que apura a trama golpista, Lula afirmou ter "coisa melhor para fazer".

— Não vou assistir ao julgamento. Tenho coisa melhor para fazer. Eu não sei como termina (o julgamento). Eu acho que ele vai ser julgado com base nos autos — disse Lula. — Se ele cometeu crime, vai ser punido. Se ele não cometeu, será absolvido, e a vida continua. É assim que as coisas devem funcionar no Brasil.

O presidente abordou, ainda, a busca dos bolsonaristas por uma anistia "ampla, geral e irrestrita" ao ex-presidente e aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro.

O pleito também tem sido utilizado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) como moeda de troca para a revogação das sanções impostas pelos Estados Unidos ao Brasil.

— Ele (Bolsonaro) não foi nem julgado, já está querendo anistia? Ele está dizendo que já é culpado e quer ser perdoado? Não, primeiro ele tem que provar a inocência. Ele que prove que não tinha caminhão com bomba no aeroporto de Brasília, ele que prove que não tinha plano para matar o Lula, o Alckmin e o Moraes — analisou.

Na quinta-feira, Lula já havia defendido o julgamento do núcleo central de reús da ação penal da trama golpista no Supremo.

De acordo com o presidente, caso o ataque ao Capitólio americano de janeiro de 2021 tivesse ocorrido no Brasil, o presidente americano Donald Trump seria réu na Justiça brasileira.

— Eu disse ao presidente Trump, numa resposta a ele, que se tivesse acontecido no Brasil o que aconteceu no Capitólio, ele também estaria sendo julgado aqui. Porque nós não somos tão grandes, não somos tão ricos, não temos tantas armas, tanto dinheiro, mas aprendemos que somos um povo orgulhoso, e quem manda no Brasil é o povo brasileiro e mais ninguém.