Rio de Janeiro

'Tinha medo de morrer', diz a socialite Regina Gonçalves sobre a prisão do ex-motorista

Milionária de 89 anos conta que tinha pesadelos imaginando José Marcos Ribeiro entrando no quarto dela para matá-la

Socialite Regina Gonçalves - TV Globo/Reprodução

A socialite Regina Gonçalves, de 89 anos, não conteve a emoção ao saber da prisão do ex-motorista José Marcos Chaves Ribeiro, ocorrida nesta sexta-feira (29), após nove meses foragido. Ao Globo, ela contou que vivia atormentada por pesadelos em que ele entrava em seu quarto para matá-la.

Por medo, Regina reforçou a segurança do apartamento: colocou trancas na porta do quarto, três trincos no elevador social e ainda encostou uma cômoda na entrada do dormitório para ouvir qualquer tentativa de invasão.

— Não tenho palavras para dizer o quanto estou feliz! Eu tinha muito, muito medo de ele (José Marcos) entrar aqui e acabar comigo. Tinha medo de morrer. Estou aliviada. Ele me tirou tudo, até minha paz. Acordava de madrugada assustada, achando que ele vinha para me matar. Pedi até que colocassem uma cama de solteiro para minha cunhada Dora dormir comigo. José Marcos me fez muito mal — relatou, emocionada, acrescentando que até hoje sofre com picos de pressão alta ao lembrar do ex-motorista.

A prisão aconteceu em um dos casarões de Regina, praticamente abandonado, no número 695 da Rua Capuri, em São Conrado. O empresário João Chamarelli, amigo da socialite, passava em frente ao imóvel quando percebeu movimento suspeito. Ao entrar, encontrou José Marcos circulando pela casa e acionou a polícia.

O ex-motorista estava foragido desde novembro do ano passado, quando a 12ª DP (Copacabana) deflagrou a Operação Dama de Ouros para prendê-lo. Ele responde a processo por tentativa de feminicídio, sequestro, cárcere privado, violência psicológica e furto qualificado contra Regina.

No momento em que recebeu a notícia, a socialite estava em seu apartamento de andar inteiro no Edifício Chopin, em Copacabana. Usava um terninho ocre, lenço colorido no pescoço e chapéu, e respondeu às perguntas da reportagem sempre com palavras de agradecimento pela prisão do ex-motorista. Ainda carrega as marcas dos maus-tratos sofridos nas mãos

Ficou chocada com a audácia de José Marcos ao escolher justamente uma de suas propriedades para se esconder:

— Nossa, como ele fez isso? Eu não desejo o mal dele. Deus sabe disso, mas ele me fez sofrer demais. Quando fui procurar meu irmão, eu estava tão magra que nem me reconheceram — lembrou ela, referindo-se à fuga do Chopin no início do ano passado, quando pegou um táxi e se refugiou na casa do único irmão vivo, Benedicto Júlio Lemos.

Na semana passada, a 1ª Vara Especializada em Pessoas Idosas (Vepi) nomeou o sobrinho de Regina, Carlos Queiroz, como curador da socialite. A decisão encerrou uma disputa judicial travada desde o ano passado entre a família dela e o ex-motorista José Marcos Chaves Ribeiro pela tutela da idosa.

— Agora é esperar a polícia terminar as investigações e aguardar a Justiça. Quero apenas que ele (José Marcos) devolva meu dinheiro e fique preso para eu dormir tranquila — disse Regina.

Regina em cárcere privado

Durante o período em que permaneceu em cárcere privado no Edifício Chopin, em Copacabana, seus bens começaram a desaparecer. Segundo familiares, José Marcos a isolou justamente para se apossar de seus pertences. Aos poucos, a polícia passou a recuperar parte desse patrimônio. Um carro blindado da vítima, por exemplo, foi localizado com um ex-funcionário da família.

Na Rua Capuri, em São Conrado, Regina possui sete imóveis. A mansão onde José Marcos costumava permanecer antes de ter a prisão decretada acumula hoje mais de R$ 1 milhão em dívidas de impostos. A defesa da idosa afirma que ela dispõe apenas de bens imóveis, já que os valores em conta desapareceram.

— Joias, obras de arte, dinheiro, tudo sumiu. Ela era bilionária, agora é milionária, porque ainda tem imóveis. Pode vender alguns para pagar os impostos e manter uma vida digna, confortável — explicou o advogado Marcelo Coelho.

O delegado da 12ª DP (Copacabana), Angelo Lages, responsável pelo inquérito, acredita que o ex-motorista não agiu sozinho no esquema de desvio da fortuna da socialite.

— Representei pela quebra de sigilo bancário e fiscal de José Marcos e de Regina, abrangendo mais de dez anos. Estamos tentando seguir o dinheiro para descobrir onde foi parar a fortuna dela, cujas contas estão zeradas. O patrimônio foi dilapidado — afirmou Lages, que pedirá apoio ao Núcleo de Lavagem de Dinheiro da Polícia Civil.

A investigação sobre os crimes cometidos contra Regina teve início em novembro de 2023. Foram reunidos depoimentos, documentos, laudos e boletins de atendimento médico do período em que José Marcos conviveu com a vítima no Chopin. Em dezembro de 2021, ela chegou a ser levada ao hospital com uma lesão na cabeça, passou por cirurgia e só recebeu alta em janeiro de 2022. A família, entretanto, não foi comunicada do episódio. Até hoje, Regina traz cicatrizes e queixas de dores.

Embora José Marcos tenha conseguido registrar em cartório uma união estável com a socialite, as versões sobre a rotina do casal divergem. Ele exibe fotos ao lado de Regina em eventos sociais; ela, por sua vez, nega qualquer relação afetiva e afirma não saber como sua assinatura foi parar no documento. A Justiça já declarou a nulidade da união estável.

A defesa de José Marcos reiterou que ele é inocente.