TRAMA GOLPISTA

"Em breve vamos empurrar extremismo para a margem da história", diz Barroso

Ex-presidente foi denunciado pela Procuradoria Geral da República de liderar tentativa de golpe após pleito de 2022

O presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso - Antonio Augusto/STF

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, criticou nesta segunda-feira o extremismo presente na política brasileira. Ele previu ainda que em breve ele "será empurrado para a margem da história" e não fará mais parte do cenário, que contará com visões divergentes, mas que respeitam a alternância de poder.

As declarações acontecem um dia antes do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro na 1ª turma da Corte, que foi denunciado pela Procuradoria Geral da República (PGR) de liderar uma tentativa de golpe após perder o pleito de 2022.

— Na vida sempre vai existir a polarização, isso não é o problema. O problema é o extremismo, a intolerância em relação ao outro. A não admissão de que o outro possa existir e eventualmente possa prevalecer, do que na verdade na democracia a regra é: quem ganha leva e quem perde não fica despojado de seus direitos e pode concorrer da próxima vez. Única coisa que me preocupa é o extremismo, não as visões diferentes do mundo. E acho que em breve nós vamos empurrar o extremismo para a margem da história. O que nós vamos ter é uma política onde estarão presentes conservadores, liberais e progressistas, como a vida deve ser. E alternância no poder é uma benção. O que não é inaceitável em uma democracia é no caso da derrota você desrespeitar as regras do jogo — afirmou Barroso.

A fala aconteceu após uma palestra na Procuradoria-Geral do Estado do Rio de Janeiro(PGE-RJ). Em sua fala, o ministro destacou ainda que a história do Brasil é marcada por vários episódios de tentativas de rupturas institucionais.

— A história do Brasil sempre foi a história de golpes e de contragolpes, de tentativas de quebra da legalidade institucional. Nós agora temos, desde a redemocratização, 40 anos de estabilidade institucional, se comprovar que houve a tentativa de golpe, o julgamento ainda vai ocorrer. Julgar é um pouco como encerrar os ciclos do atraso no país e ter a consciência que a divergência é possível na democracia e deve ser manifestar dentro das regras do jogo. A ideia de que quem perdeu tenta levar a bola para casa e mudar as regras é um passado que precisamos enterrar — disse.

Julgamento
O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e outros réus do núcleo principal da trama golpista começa nesta terça-feira no Supremo Tribunal Federal, a partir das 9h. A sessão será aberta pelo presidente da Primeira Turma, Cristiano Zanin, e terá a leitura do relatório feita pelo ministro Alexandre de Moraes, que apresentará os principais pontos da acusação e das defesas.

A PGR acusou Bolsonaro de ser o principal articulador e o maior beneficiário dos atos realizados contra o Estado Democrático de Direito. Segundo o parecer, o ex-mandatário "agiu de forma sistemática, ao longo de seu mandato e após sua derrota nas urnas, para incitar a insurreição e a desestabilização" da democracia.

São réus no chamado "núcleo crucial" da ação, além do ex-presidente, outras sete pessoas: o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens; os ex-ministros Paulo Sérgio Nogueira, Anderson Torres, Braga Netto e Augusto Heleno; o deputado federal Alexandre Ramagem; o ex-comandante da Marinha Almir Garnier.