JULGAMENTO

Governistas ocupam o STF, enquanto bolsonaristas evitam a Corte no julgamento da trama golpista

Presença de governistas no plenário do STF contrasta com a ausência de aliados de Bolsonaro, que optaram por se reunir em Brasília

Julgamento de Bolsonaro e outros 7 réus no STF - Antonio Augusto/STF

O Supremo Tribunal Federal (STF) abriu nesta terça-feira o julgamento da ação penal contra Jair Bolsonaro (PL), acusado de tentativa de golpe de Estado, em um ambiente marcado por contrastes políticos. Enquanto parlamentares da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva fizeram questão de comparecer presencialmente ao plenário da Corte, aliados do ex-presidente optaram por manter distância, em gesto de solidariedade ao acusado, que não compareceu por recomendação médica.

Logo cedo, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e o pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) chegaram ao STF e foram alguns dos primeiros parlamentares governistas a ocupar o espaço. Vieira, em tom enfático, disse que “não há clima” no Congresso para a aprovação de uma anistia aos envolvidos na trama golpista.

O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), também marcou presença e criticou duramente o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que defendeu publicamente a anistia e chegou a mencionar um possível indulto.

— O Tarcísio começou agora a ser o defensor da anistia, disse que vai dar um indulto. No momento em que começa um julgamento no Supremo, parece até provocação — afirmou Lindbergh, classificando as falas como “inconstitucionais”.

 

Na outra ponta, parlamentares da oposição se reuniram na casa do líder da bancada, Sanderson Zucco (PL-RS), em Brasília. A ausência da tropa bolsonarista no Supremo foi interpretada como uma forma de evitar a exposição pública em um momento de fragilidade do ex-presidente e, ao mesmo tempo, articular uma resposta política conjunta para os próximos dias.

Bolsonaro em casa, Michelle no comando partidário
O ex-presidente acompanhou o julgamento de sua residência, em Brasília, cercado por três de seus cinco filhos. Segundo aliados, ele enfrenta crises recorrentes de soluço, acompanhadas de vômitos, que teriam irritado seu esôfago e provocado rouquidão. O quadro levou médicos e advogados a recomendarem que ele não se expusesse em público, reforçando também a estratégia jurídica de mantê-lo em silêncio neste momento.

Michelle Bolsonaro, por sua vez, preferiu ocupar um espaço estratégico: a sede nacional do PL.

O gesto foi interpretado como um sinal da centralidade de Michelle dentro do PL, onde ela tem cada vez mais espaço como figura de articulação política e possível herdeira eleitoral do capital bolsonarista.

Estratégias opostas
O contraste entre os dois lados expôs estratégias opostas: governistas buscaram reforçar o simbolismo da defesa da democracia, enquanto bolsonaristas evitaram a Corte e preferiram se resguardar nos bastidores.

— Não vou participar desta farsa — disse Sostenes Cavalcante ao Globo.

O julgamento deve se estender pate sexta-feira da semana que vem (12). Além de Bolsonaro, são réus outros sete aliados.