Estados Unidos

Para evitar afrontar Trump, Lula deve adotar cautela ao discursar em reunião do Brics

Videoconferência está prevista para segunda-feira de manhã

Segundo auxiliares de Lula, a ideia é evitar menções diretas ao tarifaço promovido pelo presidente americano, Donald Trump - Ricardo Stuckert/PR

O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reunião que acontecerá na manhã de segunda-feira entre os líderes dos países do Brics está sendo elaborado com todo cuidado, para não melindrar os Estados Unidos (EUA).

Segundo auxiliares de Lula, a ideia é evitar menções diretas ao tarifaço promovido pelo presidente americano, Donald Trump, na semana final do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por tentativa de golpe.

Trump já declarou que considera o Brics uma afronta aos EUA e uma ameaça ao dólar, por discutir formas de reduzir a dependência da moeda americana no comércio entre os membros do bloco.

Ao mesmo tempo, o chefe da Casa Branca deixou claro que uma negociação com o Brasil sobre o tarifaço tem como condicionante livrar Bolsonaro do processo e de sua iminente condenação.

Ao discursar na reunião, que acontecerá de forma virtual, Lula deve dizer aos participantes que a situação no mundo piorou desde o último encontro, em julho, no Rio de Janeiro. Por isso convocou uma nova cúpula.

Embora não pretenda citar Trump, a sobretaxa de 50% aplicada pelos EUA a produtos brasileiros e a interferência de outro país em assuntos internos, Lula defenderá o multilateralismo e a reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC) em seu discurso.

Falará também sobre a guerra na Ucrânia, a situação na Faixa de Gaza e a conferência mundial sobre mudanças climáticas, a COP30, que acontecerá em Belém (PA), no próximo mês de novembro.

De acordo com integrantes do governo Lula, a afirmação do sub-secretário de Estado dos EUA, Christopher Landau, a empresários brasileiros, em reunião na última quarta-feira, que o problema com o Brasil é político, consolida a leitura em Brasília que não há margem para negociação com os americanos.

A situação está totalmente congelada e cristalizada, resumiu um interlocutor.

Landau teria mencionado o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, na conversa com os empresários, conforme relato do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban. Para o governo Trump, como relator do processo no qual Bolsonaro é réu, Moraes é um ditador e por isso recebeu sanções dos EUA.