Nordeste Verde: o coração energético do Brasil
O Fórum Nordeste 2025, realizado no Recife no dia 1º de setembro, sinalizou com clareza a centralidade da bioenergia no novo ciclo da economia verde. Entre debates técnicos e visões estratégicas, um eixo se impôs com força: a cana-de-açúcar é, ao mesmo tempo, o combustível do passado e a alavanca do futuro. Já responde por 15% da matriz energética nacional e oferece três produtos estratégicos — alimento, energia elétrica e combustível — com baixíssimos níveis de emissão e alto fator de reaproveitamento.
Na região, essa cadeia produtiva está enraizada há séculos. Agora, ganha novo fôlego com tecnologia, crédito e demanda. Dados da EPE mostram que a biomassa da cana representa mais de 10% da matriz elétrica da região. Mas a força da bioenergia vai além da geração: trata-se de energia firme, flexível, renovável e distribuída. Por isso, cumpre papel decisivo no equilíbrio do sistema elétrico, cada vez mais dependente de fontes intermitentes, como solar e eólica.
No campo da mobilidade, o Fórum apresentou uma revolução silenciosa: motores pesados movidos 100% a etanol, desenvolvidos com tecnologia nacional, estão em estágio avançado de testes. Scania, Datagro e Copersucar apresentaram soluções para o transporte de carga, de passageiros e até para a navegação, com misturas de até 25% de etanol e perspectivas reais de substituição do diesel fóssil em rotas regionais. Essa nova fronteira para o etanol abre um ciclo virtuoso: cria demanda para a produção crescente do biocombustível — inclusive de milho — e reforça a viabilidade econômica da cana-de-açúcar como base da matriz energética nordestina.
Além disso, a inovação sobre a cana avança com projetos de mecanização inteligente, variedades mais resistentes à seca e plataformas digitais de gestão agrícola. São avanços que ampliam a produtividade por hectare e permitem o aproveitamento integral da planta — do açúcar à bioeletricidade, passando pelo biometano, o etanol de segunda geração e o uso inteligente da vinhaça, cada vez mais tratada como ativo ambiental e energético.
O Nordeste reúne os ativos para liderar esse novo ciclo. Concentra 92% da energia eólica do País, 48% da solar e 21% da hídrica. A bioenergia completa esse mosaico com a força das usinas canavieiras e das novas frentes de biomassa florestal. Ao contrário do que se dizia no passado, o semiárido não é obstáculo, mas resposta: possui terras, sol, mão de obra, know-how agroindustrial e agora também crédito direcionado — como demonstrado pelos projetos do Banco do Nordeste.
Na mesma semana do Fórum, o Senado aprovou um projeto de lei que prioriza biocombustíveis sustentáveis e frotas flex mais limpas e econômicas em licitações públicas. A medida articula a nova matriz energética com a política industrial, fortalece o papel do Estado como indutor da transição.
As palavras de Renato Cunha, do Sindaçúcar-PE — que atua como mentor técnico em apoio ao atuante empreendedor Eduardo de Queiroz Monteiro, realizador do Fórum desde a fase de idealização, há catorze anos — contextualizam com propriedade o evento: “O Fórum Nordeste tem ótimas características, com grades atualizadas de conteúdo, cuidadosamente concebidas, e uma abertura que reúne políticos que pensam e agem pelo Brasil e nas teses do desenvolvimento regional.” Subscrevo integralmente essas palavras, que expressam com precisão o espírito do Fórum e a esperança que ele renova: a de que o Nordeste já é — e será cada vez mais — o coração da energia verde do Brasil.
* Administrador de empresas e chefe de gabinete do senador Fernando Farias (MDB-AL). Trabalha no Senado Federal há mais de 17 anos, tendo assessorado diversos senadores (José Serra, Aécio Neves e José Aníbal). Compôs a Executiva Nacional do PSDB de 2019 a 2022.
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