TARIFAS

Lula diz que países do Brics "se tornaram vítimas de práticas comerciais injustificadas e ilegais"

Reunião foi convocada em nome da defesa ao multilateralismo

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante plenária da cúpula do Brics, no Rio de Janeiro - Pablo PORCIUNCULA / AFP

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que os países do Brics se tornaram vítimas de práticas comerciais "injustificadas e ilegais" ao se referir as sanções comerciais aplicadas pelo governo dos Estados Unidos por meio do tarifaço promovido pelo presidente Donald Trump.

A fala ocorreu durante reunião virtual dos membros dos Brics na manhã desta segunda-feira. Lula chamou uma conversa com líderes do bloco e o seu discurso foi divulgado pelo Palácio do Planalto.

— Nossos países se tornaram vítimas de práticas comerciais injustificadas e ilegais. A chantagem tarifária está sendo normalizada como instrumento para conquista de mercados e para interferir em questões domésticas. A imposição de medidas extraterritoriais ameaça nossas instituições. Sanções secundárias restringem nossa liberdade de fortalecer o comércio com países amigos — discursou Lula durante a reunião virtual.

Em seu discurso, Lula disse que os "pilares da ordem internacional criada em 1945" após a Segunda Guerra Mundial "estão sendo solapados de forma acelerada e irresponsável" e afirmou que a Organização Mundial do Comércio está paralisada há anos.

 

— Em poucas semanas, medidas unilaterais transformaram em letra morta princípios basilares do livre-comércio como as cláusulas de Nação Mais Favorecida e de Tratamento Nacional — disse.

Multilateralismo
Em nota, o Palácio do Planalto disse que o Brics "reafirmou seu compromisso com a preservação e o fortalecimento do multilateralismo, bem como com a reforma das instituições internacionais".

O Palácio afirma que os países do bloco realizaram um balanço abrangente da atual situação mundial.

"Houve consenso sobre a necessidade de avançar rumo a uma ordem internacional mais justa, equilibrada e inclusiva, capaz de refletir as transformações em curso e responder de maneira mais eficaz às demandas do Sul Global", diz o texto, acrescentando que a reunião também discutiu como ampliar os mecanismos de solidariedade, coordenação e comércio entre os países do Brics.

Participaram da Cúpula Virtual os líderes de China, Egito, Indonésia, Irã, Rússia, África do Sul, além do príncipe herdeiro dos Emirados Árabes Unidos, do chanceler da Índia e do Vice-Ministro das Relações Exteriores da Etiópia.

Dois meses após cúpula do Rio
A conversa aconteceu cerca de dois meses depois de os líderes do Brics se encontrarem no Rio de Janeiro. O Brasil, como presidente do grupo em 2025, convocou a reunião alegando preocupação com a defesa do multilateralismo. A avaliação é que o quadro internacional se deteriorou.

Entre os assuntos da agenda do Brics estão o tarifaço promovido pelos Estados Unidos, a situação na Faixa de Gaza, a guerra entre Rússia e Ucrânia, a reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC) e a conferência mundial sobre mudanças climáticas, a COP30, que acontecerá no próximo mês de novembro, em Belém (PA).

O discurso de Lula foi preparado com o cuidado. Isso porque a reunião acontece à margem do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por tentativa de golpe.

O presidente americano, Donald Trump já deixou claro que só aceita negociar com o Brasil o fim da sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros se o processo contra Bolsonaro for arquivado, mas o governo Lula avisou que não cederá à interferência da Casa Branca em assuntos internos.

Trump também jamais simpatizou com o Brics. Afirma que o bloco é contra os EUA e ameaça adotar novas sobretaxas, caso os países do bloco passem a buscar formas de reduzir a dependência do dólar no intercâmbio de bens e serviços.

Originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o Brics é, hoje, formado por 11 países. Juntaram-se ao bloco Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia.