Justiça

Moraes é "herói para progressistas" e "figura odiada por devotos de Bolsonaro", diz jornal britânico

Em meio ao julgamento da trama golpista, inglês The Guardian aborda a história de um açougueiro de Belém que investiu R$ 3 mil para tatuar o rosto do ministro na perna

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, é relator do julgamento de Bolsonaro - Rosinei Coutinho/STF

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi definido pelo jornal britânico The Guardian como um juiz que "inspira amor e ódio".

O magistrado, também descrito como “controverso”, é o relator da ação penal que investiga a trama golpista, na qual o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) figura entre os réus que podem ser condenados ainda nesta semana.

Em reportagem divulgada nesta segunda-feira, em meio ao julgamento do chamado "núcleo crucial" na Primeira Turma do STF, o jornal afirma que a busca de Moraes por responsabilizar Bolsonaro o transformou em "um herói para os progressistas" e "uma figura odiada pelos devotos" bolsonaristas.

O Guardian cita os ataques do bilionário Elon Musk, direcionados ao brasileiro, como uma forma de dimensionar a influência do ministro.

Ao longo do texto, o jornal aborda a trajetória acadêmica, política e profissional de Moraes até ser escolhido como ministro da Justiça do governo de Michel Temer, em 2016.

"Foi o primeiro colocado no concurso para o Ministério Público e, com quase 30 anos, provou sua coragem ao enfrentar um dos políticos mais poderosos do Brasil, o então prefeito de São Paulo, Paulo Maluf (acusado de superfaturar a compra de frangos para merendas escolares, em 1997)", diz outro trecho.

O jornal ressalta a ligação de Moraes com políticos mais à direita, embora parte da esquerda brasileira tenha passado a admirá-lo por conta da atuação nas eleições presidenciais de 2022.

O Guardian lembrou, ainda, da uma entrevista de um amigo de Moraes da época da universidade: "a última coisa que ele teria no quarto seria um pôster do Che (Guevara)!", disse Floriano de Azevedo Marques Neto ao jornal francês Le Monde, em 2023.

"Ele está sempre no ataque"
Para exemplificar a dicotomia ao redor da imagem de Moraes, o Guardian conta a história do açougueiro Adauto Gomes Nascimento, de 37 anos, que investiu R$ 3 mil para tatuar o rosto do ministro na perna.

A justificativa, segundo ele, é que o magistrado "defende o Brasil" e "é uma pessoa poderosa que não tem medo, está sempre no ataque".

"Se tatuar o rosto de um juiz da Suprema Corte na perna parece uma decisão peculiar, o cenário político excepcional do Brasil ajuda a explicar a escolha", destaca o jornal.

A arte foi feita pelo tatuador Bruno Ferreira, de Belém (PA). Nas redes sociais, o profissional aponta que uma de suas especialidades é justamente o "realismo colorido", utilizado para tatuar clientes com os rostos de ídolos do esporte, como Pelé e Ayrton Senna — mesma técnica implicada no trabalho eternizado em Adauto.

"Seja qual for seu desejo de tatuar. Nosso papel é realizar seu projeto", escreveu Ferreira, sendo elogiado por outros clientes pela qualidade do serviço, embora com críticas pelo fato de homenagear Moares.