CINEMA

Indústria cinematográfica de Israel reage a boicote de artistas: "Profundamente preocupante"

Cerca de 1.800 profissionais do ramo, como Emma Stone, Javier Bardem e o brasileiro Fernando Meirelles, aderem à medida contra o país

Da esquerda para a direita, Olivia Colman, Mark Ruffalo, Emma Stone, Javier Bardem e Gael García Bernal - AFP e Divulgação

Representantes da indústria cinematográfica de Israel estão redobrando esforços para reagir à campanha por boicote assinada por cerca de 1.800 profissionais de destaque — entre os quais os atores Mark Ruffalo, Olivia Colman, Emma Stone, Javier Bardem e Gael García Bernal —, que se comprometeram a não trabalhar com instituições de cinema israelenses acusadas de estarem "implicadas em genocídio e apartheid contra o povo palestino".

O compromisso, anunciado na última segunda-feira (8), foi inicialmente assinado por 1.200 cineastas, incluindo Yorgos Lanthimos, Ava DuVernay, Asif Kapadia, Boots Riley, Joshua Oppenheimer e Fernando Meirelles; e atores como Tilda Swinton, Ayo Edebiri, Riz Ahmed, Josh O’Connor, Cynthia Nixon, Julie Christie, Ilana Glazer, Rebecca Hall, Aimee Lou Wood e Debra Winger, além dos já citados no parágrafo anterior. Outros 600 profissionais do cinema se juntaram desde então, entre eles Jonathan Glazer, James Schamus, Peter Sarsgaard e Lily Gladstone. E o número não para de crescer.

"Como cineastas, atores, trabalhadores da indústria cinematográfica e instituições, reconhecemos o poder do cinema em moldar percepções", diz o texto da campanha por boicote. "Neste momento urgente de crise, em que muitos de nossos governos estão permitindo o massacre em Gaza, devemos fazer tudo o que pudermos para enfrentar a cumplicidade nesse horror incessante."

 

Mas representantes do cinema israelense agora se manifestam contra a medida, inspirada no boicote cultural que ajudou a pôr fim ao apartheid na África do Sul. Em comunicado enviado ao jornal britânico "The Guardian" na última terça-feira (9), Nadav Ben Simon, presidente do sindicato de roteiristas de Israel, disse considerar "profundamente preocupante e contraproducente" o crescente movimento que pretende "boicotar criadores israelenses".

"Por décadas, criadores, artistas e contadores de histórias israelenses — eu incluso — dedicamos nosso trabalho a refletir a complexidade da nossa realidade", escreveu Nadav Ben Simon. "Temos constantemente dado voz a narrativas palestinas, críticas às políticas governamentais e às diversas perspectivas que moldam nossa sociedade", acrescentou ele.

O texto prossegue, dando ênfase ao olhar crítico acerca do próprio país desenvolvido por vários profissionais israelenses: "Também colaboramos com colegas palestinos em filmes, séries e documentários que buscam incentivar o diálogo, a compreensão mútua, a paz e o fim da violência".

O profissional considera que o atual movimento de "cancelamento total" a cineastas, produtores e atores de Israel apenas fomenta a violência. "Campanhas de boicote a criadores israelenses são profundamente preocupantes. Elas não trazem avanços para a causa da paz. Pelo contrário, prejudicam justamente aqueles que estão comprometidos em fomentar o diálogo e construir pontes entre os povos. Tais medidas correm o risco de silenciar as próprias vozes que trabalham incansavelmente pela reconciliação e pelo entendimento", ele considerou, em seu texto.

'Crença no diálogo'
O compromisso prevê que os signatários da campanha por boicote não exibam filmes, não participem nem colaborem com instituições consideradas cúmplices à guerra — incluindo festivais, cinemas, emissoras e produtoras. Exemplos de "cumplicidade" incluem "encobrir ou justificar genocídio e apartheid e/ou se associar ao governo que os comete".

"Respondemos ao chamado dos cineastas palestinos, que instaram a indústria internacional a recusar silêncio, racismo e desumanização, bem como a 'fazer tudo humanamente possível' para acabar com a cumplicidade em sua opressão", reforça o texto assinado por artistas de todos os continentes.

Presidente do sindicato de roteiristas israelenses, Simon rebate as colocações dizendo que seus "companheiros criadores" permanecem "firmes na crença de que as histórias são ferramentas poderosas de empatia, cura e conexão". E que é importante que eles continuem a criar livremente, sem boicotes, para que este objetivo seja levado a cabo.

"Continuaremos a usar nossa arte para promover o diálogo e buscar o fim da violência e a conquista de uma paz justa e duradoura para todos que vivem em nossa região. Acima de tudo, junto-me ao apelo urgente por um cessar-fogo imediato e pelo retorno seguro de todos os reféns às suas casas e famílias", prossegue ele. "Em tempos como estes, nós, como criadores, devemos nos dedicar a amplificar a luz, não a aprofundar a escuridão", conclui.