Justiça

Dino queria penas maiores para Bolsonaro e Braga Netto

Relator também concordou com condenação menor para Alexandre Ramagem, proposta por Cármen Lúcia

Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin conseguiram convencer Moraes a reduzir as punições do ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira - Fellipe Sampaio/STF

Ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) apresentaram propostas diferentes de penas para os réus da trama golpista, que foram condenados na quinta-feira, mas acabaram convergindo.

Flávio Dino, por exemplo, sugeriu penas para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e para o ex-ministro Walter Braga Netto maiores do que as propostas pelo relator, Alexandre de Moraes, mas reviu sua posição.

Por outro lado, Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin conseguiram convencer Moraes a reduzir as punições do ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira, do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) e de Braga Netto, respectivamente.

Na pena de Bolsonaro, por exemplo, enquanto Moraes defendeu 27 anos e três meses, Dino afirmou que tinha calculado 31 anos.

De acordo com ele, pesaram circunstâncias como a "personalidade negativa" do ex-presidente. O ministro, contudo, seguiu Moraes para prestigiar o entendimento majoritário no colegiado.

— A personalidade do agente teve um peso significativo, personalidade negativa. Demonstrada por, inclusive, condenações judiciais e outras circunstâncias — declarou, acrescentando: — Eu tinha chegado a outra pena, 31 anos. Mas, em razão das ponderações do relator, e visando fortalecer a dimensão do colegiado, estou aderindo.

Cármen Lúcia, por sua vez, tinha pensado em três meses a menos, enquanto Zanin afirmou que sua pena era "bastante próxima". Os dois também aderiram ao relator. Luiz Fux não votou sobre a pena porque defendeu a absolvição de Bolsonaro.

Dino conseguiu, contudo, convencer Moraes a aumentar a multa imposta a Bolsonaro. O relator tinha sugerido uma base de um salário-mínimo, mas concordou em aumentar para dois, o que levou o pagamento para em torno de R$ 370 mil.

— Me parece que ele (Bolsonaro) tem revelado, nesse período, uma capacidade econômica muito significativa, segundo dados públicos — alegou Dino, que recebeu a concordância de Moraes.

No caso de Braga Netto, Moraes propôs 26 anos e seis meses, mas Cristiano Zanin sugeriu 26 anos, o que foi acatado. Dino, depois, afirmou que iria apresentar uma pena de 30 anos, mas seguiu os colegas.

— Valorei com muito destaque quanto ao envolvimento na trama conducente ao assassinato de um ministro do Supremo Tribunal Federal, dado o ineditismo disso na vida brasileira. Nem a ditadura militar ousou tanto — declarou. — Por isso, tinha chegado a 30 anos, dois meses e 15 dias. Mas, novamente, vejo que há dois votos, não serei eu a impedir essa maioria.

Já no caso do ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira, Moraes inicialmente sugeriu 20 anos. Entretanto, Dino ponderou que poderia ser feita uma redução, já que o relator havia reconhecido que ele teve uma participação menor nos fatos.

— Indagaria de Sua Excelência se ele não concordaria com uma valoração mais forte da circunstância atenuante, que Sua Excelência propôs, e chegássemos a 19 anos. Porque considero que ficaria mais proporcional.

Depois, Cármen Lúcia fez o mesmo em relação a Alexandre Ramagem. Moraes tinha defendido 17 anos, mas a ministra questionou se ele concordaria com 16 anos, um mês e 15 dias, também devido à menor participação.

— Se eu adequei ao ministro Flávio, qual a possibilidade da não adequação? Até porque não foi o ministro Flávio que me deu posse no Supremo Tribunal Federal, não foi meu vice no Tribunal Superior Eleitoral — brincou Moraes.