opinião

Carta ao jovem investidor

Inspirado nas orientações de investimentos que elaborei para Paulo André e Eduardo Geovane Filho (sobrinhos queridos), decidi escrever esse artigo com a pretensão de tentar proporcionar, aos que iniciam sua vida profissional, uma visão global sobre o tema de investimentos (esperando que Tuca e Gabi, meus filhos, também leiam... risos).

Antes de tudo é preciso fazer um orçamento mensal. Ninguém deve gastar mais do que ganha. Essa máxima é fundamental. O correto é Renda = Consumo + Poupança. Esqueça a equação: Consumo = Renda + Empréstimo.

Importante conhecer o perfil de quem quer investir. Quanto ao momento de vida, volume dos recursos, expectativas, temperamento. Se possui um jeito moderado, ousado ou conservador. Esse diagnóstico precisa da ajuda de pessoa com experiência profissional. Não é ciência exata. Tem que saber fazer as perguntas certas. E, principalmente, ter a perspectiva da motivação/destino que se pretende dar futuramente ao patrimônio e aos rendimentos.

Um propósito de convergência é a geração de “renda passiva”. Situação na qual o patrimônio tem o condão de gerar automaticamente remuneração que venha a proporcionar razoável bem-estar, para além da energia que o trabalho retribui. Alia-se, a esse olhar projetado para o objetivo de longo prazo, a sensação de relativa segurança/tranquilidade no decorrer da jornada, uma vez conquistado certo patamar de ativos. Importante sentir o verniz de paz na trajetória de construção patrimonial. 

Costumo dividir o Tipo do Investimento em 4(quatro) grandes grupos, a saber:

1.    Aplicações Financeiras: o CONSERVADOR deve priorizar segurança e baixa oscilação, com opções como Tesouro Selic, CDBs e Letras de Crédito Imobiliárias ou do Agronegócio; o MODERADO buscará um equilíbrio entre Renda fixa e Fundos Multimercados; já o ARROJADO aceitará maiores riscos por desejar ganhos mais altos, aplicando em ações e fundos de ações, entre outros.

2.    Imóveis: Aquisição de unidades de Apartamentos/Flats e terrenos urbanos ou rurais, que podem no curto ou longo prazo gerar rendas de aluguéis ou lucro na alienação em caso de necessidade.

3.    Previdência Privada: PGBL ou VGBL – O investidor precisa pesquisar as características de cada plano. Aspectos como idade, natureza da tributação, modalidade de declaração de imposto de renda, prazo para resgate (idade que quer receber os frutos), são determinantes na escolha.


4.    Seguros de Vida (resgatáveis ou convencionais): Segurança do legado. Pensando no futuro do investidor e de seus herdeiros no caso de “Resgatáveis”, e com o olhar exclusivo nos herdeiros, na modalidade convencional. Combinado com planos que remunerem os “lucros cessantes”, diante de algum imprevisto.

A calibragem é a alma do negócio. Aplicações financeiras devem ter um “blend” entre de baixíssimo risco e resgatáveis no D + 0 ou D +1 (liquidez imediata), para dar segurança em caso de alguma necessidade/emergência, e outra parte em fundos de longo prazo. Essa última com maiores ganhos (melhores taxas e tributação reduzida). 

Por seu turno, a previdência privada possui regras de carência de saque, “fica presa” no tempo de maturação contratado. Porém, quanto antes começar melhor. Assim, as parcelas serão em valores menores, pois se diluem ao longo período de contribuição, por todo período da sua vida adulta. E deve se projetar quanto deseja de renda mensal lá na frente, na hora de “quebrar o cofrinho”.

Outro ponto essencial é não se deixar seduzir por oportunidades “mágicas” que prometem ganhos extraordinários. A máxima de “maior ganho, maior risco” jamais deve ser relegada. Instituições respeitadas e com histórico é recomendável e conhecer, ao menos de forma razoável, as regras do jogo de mercado.

Trata-se aqui de uma orientação rasa, para que sirva de "pontapé" inicial ao desenvolvimento de uma caminhada. Importante você fazer suas avaliações preliminares e sem precipitação. Peça conselho a quem confia. Lembrando que aplicações financeiras básicas são mais fáceis de decidir. Quanto a investimentos mais complexos e previdência privada requerem maior zelo. Estudar muito e depois contratar. Você está começando. 

Outrossim, o maior investimento que se deve fazer é no desenvolvimento intelectual. Estudar sempre. Cursos de aperfeiçoamento à graduação escolhida. Atualização permanente para manter-se atrativo às oportunidades. 

Investir em amigos e na família. Eles são a base de tudo. Recursos devem ser parceiros e não lhe fazer refém em detrimento das melhores coisas da vida. A diferença entre remédio e veneno é a dose. Tratar cada passo da sua vida lastreado na moral e ética que seus pais mostraram. Fazer o que gosta, cuidar da saúde, incorporar-se a projetos sociais que dignificam o ser humano e não esquecer de agradecer a Deus as conquistas, e mais ainda, compreender a importância da superação de vicissitudes, que certamente virão. O patrimônio mental e espiritual é o maior ativo. 

Sei que pode parecer sonho ou hipocrisia assim falar num país com tanta dificuldade social. Onde boa parte da população luta para ter o básico. Mas o foco aqui é conceitual. Cada um saberá, na trajetória, onde o “calo aperta”. 

Estratégias de investimentos devem ser ajustadas na navegação. “Acerto de rumo” a fim de que a nau siga sempre sobre a batuta do timoneiro: Você.


Boa viagem, Tio Ricardo.
 

 

* Diretor do Grupo EQM, diretor do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças – IBEF/PE.

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