Saúde mental e reputação: os impactos dos riscos psicossociais nas marcas
A Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que trata do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais, teve o início de sua vigência adiado para 26 de maio de 2026. A decisão do Ministério do Trabalho e Emprego atendeu a solicitações de empregadores e trabalhadores, que apontaram insegurança técnica e jurídica quanto à implementação imediata da norma. Esta estabelece de forma explícita, pela primeira vez, a relação entre fatores psicossociais e saúde mental no ambiente de trabalho.
Mais do que uma obrigação legal, a NR-1 coloca sob os holofotes o impacto da saúde mental na reputação corporativa. Estudos indicam que a opinião dos empregados é, atualmente, um dos pilares mais confiáveis na percepção de marca. Funcionários satisfeitos amplificam a imagem positiva da empresa, contribuem para a atração e retenção de talentos e atuam como embaixadores em momentos de crise. Por outro lado, ambientes de trabalho tóxicos ou marcados por práticas de assédio geram efeitos negativos multiplicadores sobre a marca.
O assédio moral sutil, por exemplo, não se revela em gritos ou humilhações públicas. Manifesta-se em comportamentos recorrentes e velados: interrupções constantes em reuniões, boicotes silenciosos, e-mails ignorados, comparações injustas e comentários “inocentes” disfarçados de piada ou estilo de gestão. Ainda assim, causa impacto psicológico profundo, comprometendo o engajamento, corroendo a produtividade e, em casos extremos, atingindo até a autoestima da vítima.
Esse tipo de conduta, quando não mapeada e gerida, configura um risco psicossocial que a nova NR-1 exige que as empresas incluam em seus Programas de Gerenciamento de Riscos. Mas é algo que transcende a esfera jurídica, envolvendo também a cultura organizacional e reputação corporativa. Empresas que monitoram e mitigam esses fatores protegem não apenas a saúde mental de seus colaboradores, mas também fortalecem sua marca empregadora e sua competitividade no mercado.
A nova legislação representa, portanto, um ponto de inflexão para os líderes empresariais brasileiros. É a oportunidade de encarar o cuidado com pessoas como investimento estratégico, e não apenas como cumprimento regulatório. Porque, em um cenário competitivo por talentos, a capacidade de alinhar conformidade legal e cultura organizacional será determinante para a sustentabilidade dos resultados e até para a longevidade das empresas.
Ignorar sinais de desgaste psicossocial, mesmo os mais sutis, pode gerar crises reputacionais silenciosas e rápidas, afetando relações com clientes, investidores e futuros colaboradores, e criando ondas de impactos negativos sobre marca e reputação.
Por outro lado, empresas que se antecipam à implementação da NR-1 e promovem um ambiente psicologicamente seguro e saudável como parte de sua estratégia de crescimento, consolidam uma marca forte, resiliente e desejada. Talvez seja a hora de adaptar o velho adágio em latim "mens sana in corpore sano" para "mentes sãs em corporações sadias".
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