Câmara

Motta oficializa Paulinho da Força como relator do projeto da anistia

O Centrão costurou a indicação de Paulinho, nome com trânsito entre diferentes forças políticas

Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta - Lula Marques/Agência Brasil

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciou nesta quinta-feira o relator do projeto da anistia aos envolvidos nos atos do 8 de janeiro de 2023. O escolhido foi o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP).

A indicação foi costurada em reunião no início da noite de quarta-feira, pouco antes de a Casa aprovar o regime de urgência da proposta — decisão que se tornou vitória simbólica para o bolsonarismo e ocorreu apenas uma semana após a condenação de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal, acusado de participar da trama golpista.

O Centrão costurou a indicação de Paulinho, nome com trânsito entre diferentes forças políticas. Segundo aliados, Motta foi convencido de que o deputado tem estofo para suportar as pressões que virão do Supremo, da esquerda e até de setores do próprio bloco.

Aliado histórico do movimento sindical e de integrantes do governo, Paulinho se afastou do Executivo após receber pouco espaço na Esplanada, com restrição até mesmo em vagas de segundo escalão. O parlamentar tem boa interlocução também entre partidos do Centrão e da oposição.

Para líderes, esse perfil será crucial para tentar costurar um texto com chances de aprovação. A tarefa, porém, é difícil diante da polarização que envolve o tema.
 

A aprovação da urgência, por larga maioria, já havia provocado um rastro de críticas entre aliados de Lula, que acusam Motta de ter cedido a uma das principais pressões do PL. Para a base bolsonarista, o gesto serviu como resposta imediata ao julgamento do ex-presidente e às condenações de aliados por participação na tentativa de golpe.

O líder do PL, Sóstenes Cavalcante, não escondeu o tom de celebração:

— Quero expressar minha gratidão pelo equilíbrio do presidente e registrar os partidos que estiveram conosco nesse momento.

O projeto original de anistia foi apresentado em 2023 pelo senador Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), mas parlamentares já admitem que ele funcionará apenas como “carcaça” para um novo texto.

— Eu fiz o texto pensando em quem esteve aqui no Congresso. Agora é natural que se inclua os condenados na trama golpista, e trate de redução de penas — disse Crivella ao GLOBO, logo após a votação.

A intenção de tratar apenas de redução de penas, evitando um perdão irrestrito divide bancadas: bolsonaristas pressionam por incluir militares e lideranças políticas acusadas de planejar os atos, enquanto parte do centrão quer deixar o texto apenas para quem depredou a praça dos Três Poderes.

A expectativa é de que o mérito só volte ao plenário no prazo de pelo menos duas semanas.