Escolhido relator da anistia, Paulinho da Força afirma que tendência é texto propor redução de penas
Paulinho disse que vai procurar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e que o objetivo é tornar possível que a votação ocorra na semana que vem
Escolhido relator do projeto da anistia, o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP) afirnou nesta quinta-feira que o caminho mais provável para o texto que será construído é a redução de penas aos envolvidos nos atos do 8 de janeiro.
— Conversa foi sobre prazos e caminhos. Ideia é a pacificação. Construir um projeto que não seja nem tanto à direita nem tanto à esquerda. Conversar com todo, com o centro especialmente e tentar votar o mais rápido possível. Ideia que está surgindo em quase todos os partidos (reduzir penas). Vou conversar com todas as bancadas para que a gente tenha uma linha mestra. Vamos organizar o texto para encaminhar a todos e tentar um consenso. Isso que vamos conversar (sobre Bolsonaro). Não sei se meu texto vai salvar o Bolsonaro, digamos assim. Vamos tentar construir a maioria. Não vamos ter conflito com ministros do Supremo, aí não resolve. Vou conversar com os ministros — disse em entrevista à GloboNews.
Paulinho disse que vai procurar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e que o objetivo é tornar possível que a votação ocorra na semana que vem.
A indicação foi costurada em reunião no início da noite de quarta-feira, pouco antes de a Casa aprovar o regime de urgência da proposta — decisão que se tornou vitória simbólica para o bolsonarismo e ocorreu apenas uma semana após a condenação de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal, acusado de participar da trama golpista.
O Centrão costurou a indicação de Paulinho, nome com trânsito entre diferentes forças políticas. Segundo aliados, Motta foi convencido de que o deputado tem estofo para suportar as pressões que virão do Supremo, da esquerda e até de setores do próprio bloco.
Aliado histórico do movimento sindical e de integrantes do governo, Paulinho se afastou do Executivo após receber pouco espaço na Esplanada, com restrição até mesmo em vagas de segundo escalão. O parlamentar tem boa interlocução também entre partidos do Centrão e da oposição.
Para líderes, esse perfil será crucial para tentar costurar um texto com chances de aprovação. A tarefa, porém, é difícil diante da polarização que envolve o tema.
A aprovação da urgência, por larga maioria, já havia provocado um rastro de críticas entre aliados de Lula, que acusam Motta de ter cedido a uma das principais pressões do PL. Para a base bolsonarista, o gesto serviu como resposta imediata ao julgamento do ex-presidente e às condenações de aliados por participação na tentativa de golpe.
O líder do PL, Sóstenes Cavalcante, não escondeu o tom de celebração:
— Quero expressar minha gratidão pelo equilíbrio do presidente e registrar os partidos que estiveram conosco nesse momento.
O projeto original de anistia foi apresentado em 2023 pelo senador Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), mas parlamentares já admitem que ele funcionará apenas como “carcaça” para um novo texto.
— Eu fiz o texto pensando em quem esteve aqui no Congresso. Agora é natural que se inclua os condenados na trama golpista, e trate de redução de penas — disse Crivella ao GLOBO, logo após a votação.
A intenção de tratar apenas de redução de penas, evitando um perdão irrestrito divide bancadas: bolsonaristas pressionam por incluir militares e lideranças políticas acusadas de planejar os atos, enquanto parte do centrão quer deixar o texto apenas para quem depredou a praça dos Três Poderes.
A expectativa é de que o mérito só volte ao plenário no prazo de pelo menos duas semanas.