Lucy - Lucy in the sky with diamonds - o fóssil mais famoso do mundo
Há cinquenta anos, em uma manhã de domingo no dia 24 de novembro de 1974, o paleoantropólogo americano Donald Johanson, a arqueóloga britânica Mary Leakey, o paleontólogo francês Yves Coppens e o aluno de pós-graduação Tom Gray, estavam envolvidos em uma escavação em um sítio arqueológico na região de Afar, próximo ao rio Awash, na Etiópia, quando descobriram um pequeno fragmento de osso – identificado como parte de um cotovelo – e depois encontraram vários outros fragmentos de crânio, de mandíbula, algumas vértebras e uma parte da pélvis (indicando que o fóssil era do sexo feminino), e perceberam que estavam diante de um ancestral humano, um esqueleto com mais de 3 milhões de anos, o mais antigo e mais completo hominídeo já encontrado, com 40% do esqueleto total.
Naquela noite, celebraram no acampamento, Johanson e os demais, ouvindo uma música dos Beatles, Lucy in the Sky with Diamonds, em um gravador que levara, e constatou que o esqueleto era de uma fêmea, e acatando uma sugestão da equipe, denominou-a de Lucy. Johanson, logo depois, levou o esqueleto para Cleveland, onde foi analisado e reconstruído pelo professor Owen Lovejoy. Lucy pertencia a uma espécie chamada Australopitecus Afarensis, que viveu na África entre 2 a 4 milhões de anos, com cerca de 1.3 metros de altura e bípede, e assim, forneceu evidências cruciais sobre a evolução do bipedismo em nossos ancestrais, demonstrando que o bipedismo surgiu antes do aumento significativo do cérebro – o poder cerebral adicional somente chegou um milhão de anos depois, com o aparecimento do Homo erectus – uma análise que mudou a convicção anterior de que a inteligência seria o primeiro ato na evolução humana, uma característica excepcional para o gênero humano.
Estudos posteriores demonstraram que a espécie A. Afarensis vivia em pequeno grupo social, onde os machos com estaturas bem maiores eram dominantes. O esqueleto de Lucy, inicialmente identificado como AL288-1, encontrado na região de Afar, revelou que ela teria morrido entre 11 e 13 anos – idade considerada adulta através das análises dos seus ossos e dentes – com aproximadamente 31 kg.
Lucy tornou-se o fóssil mais importante da evolução humana e o símbolo da Paleoantropologia, a resposta e a compreensão de anos e anos de estudos e análises do longo caminho percorrido pelos hominídeos, do Australopitecus Afarensis até o Homo sapiens. Mais de 50 anos após a sua descoberta, Lucy continua fascinando a Paloantropologia, proporcionando notáveis estudos e desvendando segredos sobre a vida na pré-história.
Um acordo científico entre o Museu Nacional da Etiópia e o Museu Nacional Tcheco, em Praga, permitiu pela primeira vez que os ossos de Lucy, o fóssil mais famoso do mundo, chegassem a Europa para uma exposição que teve início, agora, em 25 de agosto pp., e se estenderá por 60 dias. Michael Lukes, Diretor do Museu Nacional Tcheco, celebrou a chegada do esqueleto, que está, indubitavelmente, entre “as peças paleoantropológicas mais preciosas e antigas do mundo”, relata o Le Monde. No total, são 52 fragmentos entre dentes, crâneo, pelve e fêmur, datados de 3,18 milhões de anos, que estão em exposição. Lukes também destacou que esses ossos“viajaram apenas para os Estados Unidos, entre os anos de 2007 e 2013”. Revelou, ainda, que “os ossos de Lucy normalmente são mantidos em uma sala fechada ao público, em Addis Abeba”.
O esqueleto de Lucy constituiu-se na descoberta que revolucionou a pesquisa científica e a compreensão dos ancestrais humanos. Consoante Abebaw Ayalew Gella, Diretor da Autoridade de Proteção do Patrimônio Etíope, “esses avanços foram possíveis devido ao seu excepcional estado de preservação e, em segundo lugar, a sua idade”. Revelou ainda que “Lucy não será a única atração do Museu Nacional Tcheco, já que o esqueleto quase completo de Selan também está em Praga”. Selan teria sido um jovem australopitecus que viveu 100 mil anos antes de Lucy.
* Arquiteto, membro do CEHM, membro do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano e professor titular do Departamento de Arqueologia da UFPE.
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