CTTU lança campanha de conscientização para condutores de motos contra excesso de velocidade
Caso do paratleta Labone Cabral, que perdeu a perna em um sinistro de trânsito, serviu de exemplo
A história do paratleta Labone Cabral, que perdeu a perna esquerda num acidente de trânsito, há 17 anos, serviu de alerta para condutores de motocicletas durante ação da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) feita na manhã desta sexta-feira (19). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais da metade das mortes no trânsito é causada por excesso de velocidade.
Desde as 7h, agentes do órgão, juntamente com Labone e representantes da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global, se juntaram embaixo do Viaduto Capitão Temudo, no Cais José Estelita, região central do Recife, para conscientizar os pilotos com a campanha ‘Desacelera, Vai na Boa’.
Os trabalhos foram feitos em uma blitz de fiscalização. Mesmo com a intervenção, o trânsito flui normalmente na área.
Os condutores que passam pela via são convidados a diminuírem a velocidade e recebem um folheto na cor amarela com informações e dados sobre sinistros de trânsito, alegando que “nenhum corre vale mais que sua vida”. A campanha integra a ‘Semana de Mobilidade do Recife’, promovida pela CTTU e faz parte da ‘Semana Nacional de Trânsito’, que busca orientar toda a população acerca da educação nas vias.
“Os motociclistas são os principais envolvidos em sinistros de trânsito no Recife. O nosso foco é no excesso de velocidade, e a CTTU está presente nas principais vias, durante essa semana, realizando fiscalização e campanhas de massa para conscientizar esses condutores. Exceder a velocidade na via potencializa o efeito do sinistro, e a nossa prioridade é conseguir diminuir esses sinistros”, frisa o gerente de Operações e Fiscalização da CTTU, Gustavo Ferraz.
Omar Jacob, que é assessor técnico sênior da Vital Strategies, um dos órgãos que compõem a Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global, destaca que a estratégia de montagem dessa campanha começou na visualização dos dados relacionados a acidentes de trânsito na capital pernambucana. Segundo ele, os motociclistas formam um público muito vulnerável.
“Em caso de sinistros, os carros têm uma lataria para proteger. No trânsito, eles [os motociclistas] têm o próprio corpo. É por isso que o excesso de velocidade é tão grave e leva a consequências para o resto da vida, como o caso do Labone. Pode levar até mesmo à morte. A gente espera que essa campanha mude esse comportamento de risco, que é considerado pela OMS como o mais grave. Isso é um fenômeno que acontece no Recife e em outras capitais do Brasil e da América Latina. É por isso que esse chamamento é feito, para respeitar e prestar atenção na vida”, comenta ele.
Superação
Pilotando uma moto, em maio de 2008, Labone Cabral passou pelos momentos de apuros, na Avenida Norte, próximo à Bacia do Vasco, quando sofreu o acidente. Um carro colidiu com a moto dele. Imediatamente, foi arremessado para o lado esquerdo e jogado contra uma barra de concreto.
Antes de passar pelo processo de amputação, foram nove anos tentando salvar a perna com pelo menos 30 intervenções cirúrgicas.
“Passei por limpeza, retalho muscular, retirada de carne e ossos necrosados, além de vascularização e tentativa de colocar uma tíbia [osso da canela e p mais longo do corpo] que foi doada de uma pessoa que já tinha falecido. Tudo foi tentado e foi muito caro. Os problemas psicossomáticos depois disso são avassaladores. Eu lembro que meu pai só foi me visitar duas ou três vezes. Ele sempre chegava [ao hospital] de maneira muito desequilibrada para me ver. Não suportava a situação de me ver em cima de uma cama”, relembra.
Hoje, 17 anos depois do acidente, ele usa uma prótese transfemural e um encaixe BSI a vácuo, além de um joelho Passo Kene Mouch e pé Pro X Össur com válvula de ar. O material é em aço, alumínio de grande densidade e fibra de carbono. Labone é recordista brasileiro no salto em altura T63.
Quem foi abordado pela blitz aprova o trabalho. O supervisor de logística Leonardo Sena, de 38 anos, que estava indo ao trabalho, gostou do que ouviu de um dos agentes da CTTU. Para ele, além do alerta, uma atitude como essa salva vidas e demonstra a importância que o órgão tem com o bem estar das pessoas.
“É muito boa a iniciativa de dar uma desacelerada nos pilotos. A gente sabe que a vida é corrida no dia a dia, e esse tipo de pausa faz a gente refletir. A vida vale mais. Que façam mais vezes para que o pessoal dê uma desacelerada. Eu nunca sofri acidente de moto. Tento manter a tranquilidade e andar devagar. Mas já perdi alguns amigos e sei o quanto é perigoso. Me policio muito para que não ocorra esse tipo de acidente”, alega.
Principais dados da OMS sobre acidentes de trânsito no mundo
- Os sinistros de trânsito custam custam aos países cerca de 3% dos Produtos Internos Brutos (PIBs);
- Quase metade (49%) das pessoas que morrem nas vias em todo o mundo são pedestres, ciclistas e motociclistas;
- Pedestres, motociclistas e ciclistas são as principais vítimas no trânsito em todas as sub-regiões, exceto na América do Norte, onde os motoristas de automóveis são os principais afetados;
- Na região das Américas, usuários vulneráveis das estradas, como pedestres, motociclistas e ciclistas, representam 23%, 15% e 3% das mortes no trânsito, respectivamente;
- Homens correm maior risco de morrer por sinistros de trânsito do que mulheres;
- Dos países da região, 21 possuem legislação sobre o uso de cinto de segurança;
- A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável fixou uma meta ambiciosa quanto à segurança no trânsito, que consiste em reduzir pela metade, até 2020, o número de mortos e feridos por sinistros de trânsito em todo o mundo;
- 93% das mortes no trânsito ocorrem em países de baixa e média renda, que concentram aproximadamente 60% dos veículos do mundo;
- As lesões ocorridas no trânsito são a principal causa de morte entre crianças e jovens de 5 a 29 anos.
“Antes de acelerar, pessoal, pensem nos seus entes queridos. Como é bom viver, respirar e sair para comer alguma coisa, ir ao cinema, viajar, ir à praia... Viver é muito melhor e muito mais gostoso”, aconselha o paratleta Labone Cabral.