Diversão

Evento exibe a moda de Santa Cruz do Capibaribe

Segunda edição do Estilo Moda Pernambuco continua até sábado (7), com palestras, desfiles e rodadas de negócios

Coleção O Caso da Torre, de Jorge Feitosa - Danilo Grimaldi (Agência FOTOSITE)/ Divulgaçã

Quando nascemos, sem qualquer referência cultural, aprendemos os primeiros signos copiando. É assim que acontece com qualquer aprendizado na vida, até que se comece a elaborar uma identidade. Principalmente na indústria da moda. No Polo de Confecções do Agreste não é diferente. 

Inquieto com esse ranço de "cópia" que o polo ainda carrega no lombo, o designer, especialista em produto de moda e instrutor no segmento de moda do Senac, Luiz Clério ministra, nesta quarta-feira (4), palestra com o sugestivo título “A moda está no Agreste ou o Agreste está na Moda?”.
"Copiar alguém é um processo de passagem", analisa Luiz, ressaltando que a indústria do Agreste já passou dessa fase, só que ainda não acordou para isso. A conversa faz parte da segunda edição do "Estilo Moda Pernambuco" (EMP), promovido pelo Moda Center Santa Cruz, cuja programação inclui, além de palestras, desfiles e negócios, e ocorre até 7 de outubro.

"Aqui há vários núcleos criando moda, como cinco startups que desenvolvem desde estampas até vestuário. Caso da marca Ayo, que desenvolve produtos sofisticados, de ateliê, misturando referências africanas e nordestinas", exemplifica. O especialista também cita o coletivo Tab's, uma feira que engloba moda, decoração, gastronomia e teatro, e que é realizada em Santa Cruz do Capibaribe. "Vou chamar os representantes dessas iniciativas para falarem na palestra", avisa.

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Conceito, portanto, não falta ao Agreste. Basta saber como decodificá-lo. O problema é que ainda existe o pensamento errôneo de que comercial vende mais facilmente. "O modismo vem do conceito de moda. A indústria precisa entender isso", alerta. Apesar de a crise ter dado uma balançada de 360º no mercado, para Luiz Clério, ver a moda comercial como 'porto seguro' é um tiro no pé. "O consumidor de moda se alimenta do que é diferente, e isso requer mais planejamento e análise".

 

Coleção Sulanca, de Jorge Feitosa - Crédito: Marialu Bezerra/ Divulgação 

Segmento em rápida e constante transformação, a moda já desbancou do pedestal os digital influencers, por exemplo. "São tanto os influenciadores que não há quem os siga. E aí aparece gente sem conteúdo, que banalizou tanto o discurso a ponto de se tornar vazio e perder valor. Mas o que virá depois?". 


Um reflexo desse pensamento glamourizado e equivocado sobre a moda é a eterna mão de obra escassa, problema constante da indústria agrestina. "Não existe o profissional modelista. Todo mundo quer ser blogueiro, estilista, porque tem glamour. Ser profissional de moda não é ter bom gosto e gastar dinheiro com roupas", ensina Luiz Clério.
Sulanca
Na programação de desfiles do EMP, o único estilista conceitual é o santa-cruzense radicado em São Paulo há 11 anos, Jorge Feitosa, 38. Seu nome caiu na boca do povo classe média alta desde que ele participou do reality show "Caixa de Costura", do canal pago GNT, em abril deste ano.

Mas foi em outro reality - não gravado - que Jorge adquiriu mais contatos e conhecimento. "No Senai Brasil Fashion, de 2014, selecionaram nove alunos e eu fui um deles. Cada grupo de três trabalhou com Alexandre Herchcovitch, Lino Vilaventura, e eu fui escolhido para trabalhar com Ronaldo Fraga", recorda.

 

Coleção O Caso da Torre, de Jorge Feitosa - Crédito: Danilo Grimaldi (Agência FOTOSITE)/ Divulgação 

Dali surgiu a coleção "O Caso da Torre", inspirada na clássica pergunta: "qual a primeira imagem de moda que vem à sua cabeça?" Jorge, criado numa cidade em que quase todos os habitantes trabalhavam com confecção, inclusive seus pais e avós, se lembrou de uma torre de alta tensão que via quando criança e que lhe lembrava uma mulher gigantesca de vestido. Na época ele tinha 3 anos. Dessa referência saíram dramáticos vestidos brancos feitos com recortes e toques de vermelho.

Declaradamente adepto da criação pensada para homens, na coleção "Sulanca" há um quê de genderless, com peças bem amplas e evasês. Jorge brinca com a referência da feira de rua que novamente marcou sua infância. "Lembro da minha avó fazendo colchas de retalho sem muito acabamento e precisão. Sulanca era sinônimo de roupa malfeita, mas como tudo na vida, ela evoluiu. Atualmente vende roupa feita com sobras, mas com bom acabamento. Essa tendência upcycling tão em alta começou na Sulanca, em 1930", lembra.