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Diferencial de juros entre Brasil e EUA cresce com "Superquarta"

A cada 45 dias, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reúne-se para determinar a taxa básica de juros da economia, a Selic. Quando a data de divulgação coincide com aquela tomada pelo órgão análogo do Banco Central norte-americano, o Federal Reserve (Fed), e seu Federal Open Market Committee (FOMC), o dia é chamado de “Superquarta”, pelas importantes implicações que as decisões da política monetária têm sobre a economia global.

Apesar de amplamente esperada, a última quarta-feira (17) não trouxe surpresas. Assim como previsto pela unanimidade dos analistas econômicos, o Copom manteve a Selic em 15% ao ano, patamar mais alto desde 2006. A decisão reflete o compromisso do comitê do BC em trazer as expectativas de inflação futura para a meta de 3% ao ano, e por consequência a inflação realizada. 

Mesmo com os indicadores mostrando o arrefecimento da atividade econômica doméstica, a taxa de desemprego historicamente baixa permanece sustentando o consumo das famílias através do crescimento da massa salarial, junto com a política fiscal expansionista. Os núcleos de inflação continuam pressionados e incompatíveis com o atingimento da meta. A manutenção da Selic em nível contracionista, portanto, é o instrumento para fazer convergir a inflação para o objetivo.

No Hemisfério Norte, o enfraquecimento mais rápido do que o esperado do mercado de trabalho americano havia provocado a expectativa de retomada da redução da taxa básica de juros, com corte de 25 pontos-base, para o intervalo entre 4% e 4,25%. E foi isso que o FOMC entregou, no primeiro corte desde dezembro do ano passado. 

A taxa agora se encontra 1,25% abaixo dos 5,5% vistos até setembro de 2024. Junto com a decisão, o Fed também divulgou projeções econômicas atualizadas, agora contemplando reduções adicionais de 50 pontos até o final do ano.

Ancorada numa leitura de economia em rápida desaceleração, a redução dos juros americanos favorece a continuidade do movimento de diversificação dos investimentos para outras geografias - dentre elas as economias emergentes, além de dar sustentação à tendência de enfraquecimento global do dólar e a valorização das ações fora dos EUA. 

Inserido neste contexto global, a manutenção dos elevados juros, aqui no Brasil, deverá continuar a estimular a entrada de capital em busca de usufruir desse ainda mais elevado diferencial. Já as projeções de que, em algum momento, até o início de 2026, o Copom pode iniciar a flexibilização da política monetária, impulsiona a bolsa local.
 



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