opinião

"Anjos" exterminadores do futuro e a Cracolândia Política

A sociedade brasileira tem sido refém das repetidas crises políticas, corrupção estrutural e desigualdade social permanente. Os problemas sistêmicos fortaleceram a polarização, dificultam a governabilidade e limitam o acesso a direitos básicos. 

Para romper essas correntes, era necessário, minimamente, o surgimento de lideranças genuínas e movimentos coletivos assumindo protagonismo sólido. Impossível ver isso, não com os atuais atores da nossa Cracolância política. Com esses anjos”, exterminadores de futuro nacional, mudanças estruturais não ocorrerão, eles precisam sair da cena, se não o Brasil continuará vulnerável a ciclos de esperanças e frustrações, e a sociedade condenada a uma prisão de eterno jogo doentio de poder e sobrevivência.  

A CNN de Portugal, recentemente, nos definiu com rara precisão. Disse o jornalista português Rui Calafate: “Hoje vou falar-vos do Brasil. Confesso-vos o seguinte: Eu adoro o Brasil. Conheço a terra, a política e ainda mais a sua cultura. Só podemos amar um país que tem no seu currículo Elis Regina, Tom Jobim, Chico Buarque, Glauber Rocha, Nelson Pereira Santos, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Rubem Fonseca, Clarice Lispector e tantos outros. E ainda há o futebol e o samba que produziu um carnavalesco genial Joaozinho Trinta que proclamou “pobre gosta de luxo, quem gosta de pobreza e intelectual”. O problema do Brasil é político. E hoje começa o julgamento mais importante da democracia brasileira, só podemos assistir com mágoa um país dividido. 

O Brasil está fragmentado como se fosse um derby Fla -Flu, Flamengo e Fluminense, a maior rivalidade entre clubes do Rio de Janeiro. A sociedade está há tempo demais presa a um duelo entre bolsonaristas e lulistas. Parece que não há espaço de uma terceira via que tire um país fantástico do buraco onde está. É um cruel retrato do mundo. Emaranho num antagonismo entre extremos em que o centro moderado e racional se tem vindo a desmoronar. É um clima tenso e propício de sentimentos espúrios, como a raiva e o ódio. 

Hoje, a Praça dos Três Poderes, em Brasília, invadida em janeiro de 2023, por apoiantes de Jair Bolsonaro, há uma segurança armada de dezenas de policiais, a dormir em beliches ao lado da sala do julgamento para estarem disponíveis 24 horas por dia. E quer um lado quer o outro, já teve os seus anjos exterminadores, os que perseguiram do lado da justiça os responsáveis políticos. Se bem que se lembram foi o juiz Sergio Moro que um dia dinamitou o PT de Lula e Dilma Roussef. Agora é Alexandre Moraes a besta negra de Jair Bolsonaro. 

Com toda essa conflitualidade latente é o Brasil, esse país riquíssimo e com uma economia que podia ser pujante que perde. Escrevia Stefan Zweig que “o Brasil era o país do futuro”. Mas está adiado. Diziam que “Deus é brasileiro”, mas Deus deve estar cansado do ruído. Eu não tenho lado, só torço pelo Brasil. Analiso como o grande Nelson Rodrigues, a vida como ela é.

Mas o cenário não é bom. Quase desejava que ressuscitasse o maior Presidente da história do Brasil Juscelino Kubitschek e que com seu sorriso embalasse otimista, alegre e de boa energia. Infelizmente, as ressureições são impossíveis. Essa semana morreu um grande escritor brasileiro, Luiz Fernando Veríssimo. Ele afirmava que no Brasil “o fundo do poço é apenas uma etapa”. Por isso, o Brasil ou sai do poço ou ficará, como definia o humorista, Millôr Fernandes “condenado à esperança”. 

Tantos brasileiros comemoraram mais outro capítulo de um Presidente brasileiro condenado. Não há nada que comemorar.  Deviam chorar. 

Os eventos da política do Brasil, após 1988, destaca em verdade péssimas narrativas, impeachments de presidentes, prisões, escândalos de corrupção e crises políticas.
Com Collor, um impeachment. Com FHC, vivemos também acusações pelas privatizações, investigações apontavam escândalos de corrupção, até de compra de votos para aprovar a emenda da reeleição presidencial. 

No primeiro ciclo de Lula, o escândalo do Mensalão, com compra de votos no Congresso para aprovar projetos do governo. Com Dilma, outro impeachment, e virou moda, sob a acusação de crimes de responsabilidade por pedaladas fiscais. Um golpe parlamentar sem base legal. 

Temer, em seguida, denunciado pelo MP por corrupção, após delações de empresários, mas escapou de processos na Câmara dos Deputados. 

Lula, novamente, enrolado na Lava Jato, uma das maiores investigações de corrupção do país, expondo esquemas bilionários envolvendo políticos, empresários e estatais. Vista como marco anticorrupção, foi deslegitimada na sequência devido a imperfeições jurídicas e conspirações. 

Na sequência, CPI da Pandemia, e Bolsonaro enfrentando acusações de corrupção e suspeitas de ligação com milícias. Agora, é outro Presidente condenado.  

Ufa! E Deus deve estar mesmo decepcionado de ver nossa nação entres tantas narrativas tortas, além disso, envergonhado de ver nossos ministros do STF afirmando que estão defendendo a democracia e o estado de direito. Mas, afinal, alguém tem visto mesmo Democracia em nosso país cumprindo seu autêntico destino, no meio dessa balburdia? Por favor, quem a encontrar me avise rapidamente. Todos esses atores políticos, quase que indistintamente, tem sido os exterminadores de nosso futuro.