RIO DE JANEIRO

Operação mira call center que cobrava por orações em Niterói; bando prometia curas e milagres

Valores cobrados variavam entre R$ 20 e R$ 1,5 mil; transferências eram realizadas via Pix

Agentes na Casa dos Milagres, em Niterói, para cumprir mandados de busca e apreensão - TV Globo/Reprodução

A Polícia Civil do Rio e o Ministério Público estadual (MPRJ) deflagraram, nesta quarta-feira, a Operação Blasfêmia, que mira uma quadrilha que cobrava fiéis para fazer orações, prometendo curas e milagres. Os criminosos atuavam a partir de uma central de telemarketing no Centro de Niterói, na Região Metropolitana do Rio.

Um pastor — que deve passar a usar tornozeleira eletrônica — e outros 22 integrantes do grupo foram denunciados. A investigação identificou movimentações superiores a R$ 3,3 milhões em um período de dois anos. Com base nisso, foram decretados o sequestro de bens e o bloqueio de contas bancárias dos investigados, bem como o de empresas a eles vinculadas.

O objetivo da ação é cumprir mandados de busca e apreensão. De acordo com o MPRJ, o grupo era chefiado por Luiz Henrique dos Santos Ferreira, conhecido como profeta Henrique Santini, que tem mais de oito milhões de seguidores em suas redes sociais.

Segundo a denúncia, ele divulga diariamente promessas de milagres voltados à vida financeira e afetiva dos fiéis e disponibiliza um número de telefone para interessados em entrarem em contato direto com ele em busca de resolução de seus problemas.

 

De acordo com o MPRJ, o atendimento espiritual fazia parte de um esquema de exploração financeira da fé. Dezenas de vítimas foram levadas a crer que falavam diretamente com Henrique Santini, mas, na verdade, estavam em contato com atendentes que fingiam ser ele, utilizando áudios previamente gravados, inclusive com pedidos de contribuição em dinheiro, em transferências via Pix.

Segundo a denúncia, os atendentes contratados não possuíam qualquer autoridade religiosa. A denúncia também relata que ao menos sete adolescentes foram aliciados para o esquema.

Os valores cobrados, de acordo com a Polícia Civil, variavam entre R$ 20 e R$ 1,5 mil, conforme o tipo de oração oferecida. Para dar vazão ao grande volume de arrecadações, o grupo usava, conforme as investigações, uma rede de contas bancárias registradas em nome de terceiros, dificultando o rastreamento das movimentações financeiras. Os atendentes eram remunerados por comissões proporcionais à arrecadação semanal e, de acordo com os investigadores, submetidos a metas rígidas de desempenho. Aqueles que não atingiam o valor mínimo estipulado eram dispensados.

A investigação começou em fevereiro deste ano, quando a polícia identificou a existência de um call center, onde foram flagradas 42 pessoas realizando atendimentos virtuais. Na ocasião, 52 telefones celulares, seis notebooks e 149 cartões pré-pagos de telefonia móvel foram apreendidos. A análise desse material, afirma a Polícia Civil, confirmou a atuação coordenada do grupo e permitiu identificar milhares de vítimas em todo o território nacional.

As investigações seguem com o objetivo de identificar novas vítimas e eventuais participantes da organização criminosa.

À TV Globo, Santini declarou estar vítima de perseguição religiosa. O Globo tenta contato com a defesa dele. O espaço segue aberto para qualquer manifestação.