Morre a atriz Berta Loran, aos 99 anos; polonesa, ela veio para o Brasil para fugir do nazismo
Berta veio para o Brasil aos 11 anos de idade
A atriz Berta Loran faleceu na madrugada desta segunda-feira (29) em um hospital particular em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro. As informações são do g1. Nascida em Varsóvia, na Polônia, Berta tinha 99 anos e uma carreira de mais de 70 anos.
Consagrada na TV Globo, a atriz participou de diversos programas humorísticos como Riso Sinal Aberto (1966), Balança Mas Não Cai (1968), Faça Humor, Não Faça Guerra (1970), Satiricom (1973), Planeta dos Homens (1976), Escolinha do Professor Raimundo (1990), Zorra Total (1999) e A Grande Família (2012).
Não foi fácil a infância de Berta Lora. Referência no humor brasileiro com personagens marcantes na TV, entre os quais Frosina, da novela " Amor com amor se paga" (1984), e Manuela D'Além-Mar, da " Escolinha do Professor Raimundo" , a atriz deixou a Polônia, seu país natal, para fugir do nazismo, em 1937, depois de ver grande parte da família ser assassinada pelo regime de Adolf Hitler. À época, ela tinha 11 anos.
Em solo tupiniquim, Berta abandonou o nome de batismo (Basza Ajs) para adotar a alcunha artística que a tornou conhecida ao longo de oito décadas de uma carreira bem-sucedida. Os louros da profissão, porém, não foram colhidos de maneira fácil. Até que conquistasse estabilidade no país, a família da artista, de origem judia, viveu alguns "maus bocados", como ela rememorou ao Globo.
Nasci na rua Mila, onde ocorreu o Levante do Gueto de Varsóvia. Saí para nunca mais voltar. Lembro que peguei o navio com 30 graus negativos e cheguei ao Rio de Janeiro com uma temperatura de quase 40 graus comentou Berta, em entrevista concedida em 2019. Fiquei anos sem saber o que era carne, só mesmo a das galinhas que minha mãe dava um jeito de conseguir para o shabat (dia sagrado de descanso e oração no judaísmo).
Das adversidades, Berta aprendeu a extrair o humor. Após ser dirigida, na adolescência, pelo pai era alfaiate e ator amador de teatro ídiche , ela estreou nas revistas do Teatro Carlos Gomes, o mesmo que conheceu na chegada à então capital federal, quando a família foi morar na Praça Tiradentes.
Sempre ri das dificuldades, até da fome que a gente passava. Era um azougue. Lavava louça de patins, vivia quebrando pratos contou Berta, lembrando de sua incursão "involuntária" pelo humor.
Estava atuando num drama dirigido pelo meu pai, usando um salto de minha mãe. No meio da cena, o salto quebrou e fiquei mancando pelo palco. O público, claro, caiu na risada, enquanto meu pai me mandava sair de cena.
Em 2018, durante participação no programa "Conversa com Bial", a atriz relembrou que o pai vendeu duas máquinas de alfaiataria para se mudar para o Brasil com a família. A decisão de deixar a Polônia se deu depois de o patriarca ouvir Hitler dizer que iria "matar todos os judeus", como ela recordou.