BRASÍLIA

Conselho de Ética, pautas de segurança e metanol: Câmara quer reverter desgaste com PEC da Blindagem

Parlamentares que participaram da obstrução da Mesa Diretora em agosto devem se tornar alvos de processos disciplinares

Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta - Bruno Spada/Câmara dos Deputados

A Câmara entra nesta semana sob foco de tensão, com uma agenda construída para deixar para trás o desgaste adquirido com a aprovação da PEC da Blindagem, proposta arquivada pelo Senado que aumentava a proteção a parlamentares que são alvos de ações na Justiça.

O Conselho de Ética, por exemplo, deve instaurar processos contra deputados bolsonaristas que participaram do motim que paralisou os trabalhos em agosto.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), também tenta imprimir uma agenda positiva com projetos de segurança pública e medidas de enfrentamento à crise do metanol.

Já a Medida Provisória (MP) alternativa ao aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) perde validade nesta quarta-feira e ainda precisa ser aprovada pela comissão especial e pelos plenários da Casa e do Senado para continuar a vigorar.

Em outra frente, parlamentares da oposição e do Centrão pressionam pela votação de diferentes versões do PL da Dosimetria, que diminui a pena a envolvidos em atos golpista, entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Aposta do governo
A MP é uma das principais apostas do governo para recompor a arrecadação perdida após a derrubada do decreto presidencial do IOF, mas o ambiente está longe de pacífico. O relator, Carlos Zarattini (PT-SP), voltou atrás na ideia de fixar alíquota de 7,5% sobre LCI e LCA, investimentos ligados a setores importantes da economia, após críticas dos setores do agronegócio e imobiliário.

Apesar do recuo, deputados avaliam que, sem uma nova ofensiva política do Planalto, o texto dificilmente avançará. A medida é vista como um conjunto heterogêneo de temas — da tributação das bets e mudanças nas regras de Juros sobre Capital Próprio (JCP) até ajustes no PIS/Cofins — que ganhou apelidos de “liquidificador” e “balaio de gato” entre parlamentares.

Entre parlamentares, o clima é de frustração. Deputados relatam que o governo perdeu o timing da negociação e que a MP hoje corre o risco de caducar sem sequer chegar ao plenário. A falta de coordenação política é apontada como um dos principais entraves.

Oposição no foco de sanção disciplinar
Enquanto isso, a tensão política volta a girar em torno do Conselho de Ética. O colegiado deve instaurar quatro processos disciplinares contra parlamentares da oposição bolsonarista, todos relacionados ao motim que paralisou o plenário em agosto.

A pauta inclui duas representações contra Marcos Pollon (PL-MS), uma contra Marcel Van Hattem (Novo-RS) e outra contra Zé Trovão (PL-SC). O parecer do corregedor Diego Coronel (PSD-BA) recomenda suspensões de até 90 dias para Pollon — acusado de ofender a presidência e bloquear fisicamente a cadeira de Motta — e de 30 dias para Van Hattem e Zé Trovão.

Outros 11 deputados, entre eles Bia Kicis (PL-DF), Carlos Jordy (PL-RJ) e Nikolas Ferreira (PL-MG), devem ser apenas advertidos com censura escrita. O movimento é interpretado como um endurecimento tardio da presidência da Câmara, que à época havia sido cobrada por uma reação mais firme.

No esforço para reduzir os de conflito e reposicionar a Casa, Motta tenta reforçar pautas de apelo institucional. A aposta é na chamada “agenda da segurança”, que ganhou fôlego após o plenário aprovar, na semana passada, o regime de urgência para oito projetos do setor.

O pacote reúne propostas sobre combate ao crime organizado, enfrentamento ao “novo cangaço”, rastreamento de armas e munições, tipificação da obstrução de Justiça, endurecimento da Lei de Organizações Criminosas e destinação de parte da arrecadação das bets para o financiamento da segurança pública. A ideia é acelerar votações e mostrar capacidade de resposta em um tema que unifica as bancadas.

Entre as medidas com urgência aprovada está também o projeto que endurece as penas para falsificação de bebidas alcoólicas, após a escalada de mortes por intoxicação por metanol. O texto, de autoria do ex-deputado Otavio Leite e relatado por Covatti Filho (PP-RS), eleva a pena de reclusão de quatro a oito anos para seis a doze anos e classifica a prática como crime hediondo.

Motta tem usado o caso como vitrine política: articulou a tramitação e destacou a parceria com o Ministério da Saúde e pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba, que desenvolveram tecnologias capazes de identificar o metanol em bebidas adulteradas.

A leitura entre aliados é que o presidente tenta associar sua gestão a pautas de impacto social, em contraste com o desgaste acumulado desde o motim de agosto e intensificado com a derrubada da PEC da Blindagem no Senado.