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Aliados de Bolsonaro minimizam conversa entre Trump e Lula e acreditam que Rubio pode ajudar

Rubio mantém posicionamento ideológico e diálogo permanente com o deputado Eduardo Bolsonaro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o seu contraparte dos Estados Unidos, Donald Trump - Fotos de Alexi J. Rosenfeld/GETTY IMAGES NORTH AMERICA/Getty Images via AFP e Brendan Smialowski/AFP

Integrantes da oposição minimizaram a conversa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, realizada nesta segunda-feira. Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmam que a designação do secretário de Estado americano, Marco Rubio, para negociar um relaxamento do tarifaço e também de sanções a autoridades brasileiras é uma má notícia para o governo brasileiro.

Essa interlocução será feita junto ao vice Geraldo Alckmin e os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Mauro Vieira (Relações Exteriores).

Rubio mantém posicionamento ideológico e diálogo permanente com o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que permanece nos Estados Unidos. 

O secretário americano já se referiu aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) como "juízes ativistas". No governo americano, Rubio ocupa o cargo equivalente ao chefe da diplomacia. Até o momento, Eduardo ainda não se manifestou sobre a conversa.

O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), avaliou, sem apontar evidências, que a conversa faz parte de uma estratégia de Trump para desgastar o governo Lula.

– O Trump fez uma jogada de craque: provou que quem não quer diálogo é o Lula. Agora está claro para o Brasil que o erro é do Lula e deixou o Marco Rubio, o secretário mais ideológico, para seguir as negociações – disse.

O vice-presidente do Congresso, Altineu Côrtes (RJ), foi na mesma linha e acredita que a atuação de Rubio deve representar dificuldades para as negociações brasileiras, que tentam reduzir a taxação sobre as exportações. 

– Trump fez uma jogada de mestre. Dialogou com o Brasil, que demorou a estabelecer esse canal de negociação e, ao mesmo tempo, escalou o Marco Rubio, que tem posicionamentos firmes e já demonstrou seu lado. O contato entre Lula e Trump não enfraquece em nada o bolsonarismo e a parceria dele com Jair Bolsonaro. Pelo contrário, deixará claro que nosso lado é que tem canal aberto para esse tipo de negociação – disse.

Da mesma forma, o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) minimizou a reunião e adotou a mesma linha, de que a escalação de Rubio para reuniões futuras representa uma derrota para o governo brasileiro.

– Por enquanto não vejo nenhum progresso, apenas duas notas protocolares emitidas. Por outro lado, caso confirmado que o Marco Rubio seja o negociador dos EUA, a coisa irá ficar difícil para o nosso lado (para o Brasil).

Por sua vez, o líder do PL no Senado, Carlos Portinho (RJ), adotou um tom mais comedido e apontou que a conversa entre os dois chefes de Estado é natural. O senador também negou impacto eleitoral negativo para a direita.

– Governos têm que conversar. Princípio básico do Estado e da diplomacia. Além do mais, o governo Lula precisa tentar reverter o que ele próprio criou.

Trump celebra diálogo
Donald Trump disse ter tido uma conversa "muito boa" com Lula na manhã desta segunda-feira. Em postagem na rede social Truth Social, o republicano afirmou que o telefonema versou principalmente sobre economia e comércio.

"Nesta manhã, eu tive uma conversa telefônica muito boa com o presidente Lula, do Brasil. Discutimos muitas coisas, mas a conversa foi principalmente focada em economia e comércio entre os dois países. Vamos ter mais discussões no futuro, e vamos nos reunir em um futuro próximo, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Eu gostei da ligação - nossos países podem se dar muito bem juntos!", disse o americano, em tradução livre.

Mais cedo, o Palácio do Planalto já havia confirmado o telefonema e disse que Lula e Trump relembraram a "boa química" entre ambos durante a Assembleia Geral da ONU há duas semanas.

Lula pediu a Trump a revogação das tarifas de 40% aplicadas a produtos brasileiros e, sem citar diretamente a Lei Magnitsky ou o ex-presidente Jair Bolsonaro, pediu a retirada de sanções a autoridades brasileiras, como o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

De acordo com integrantes do governo, Moraes não foi citado na conversa, mas o pedido de Lula deixou claro que a menção às sanções tratava também do ministro. A ligação partiu da Casa Branca.

Segundo o Planalto, os dois líderes combinaram um encontro pessoal, que pode ocorrer na Malásia, na cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean). Lula deve viajar a Kuala Lumpur no dia 24 de outubro.

A ligação com Trump ocorreu 13 dias depois do encontro de Lula com o republicano na Assembleia Geral da ONU, no qual o chefe de Estado americano afirmou que uma reunião com o brasileiro aconteceria.

A conversa foi acertada no fim de semana entre assessores de Lula e Trump. O presidente brasileiro se reuniu com ministros no Palácio da Alvorada, como Haddad e Vieira.  Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, também participou, assim como o chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira.

"O presidente Lula descreveu o contato como uma oportunidade para a restauração das relações amigáveis de 201 anos entre as duas maiores democracias do Ocidente. Recordou que o Brasil é um dos três países do G20 com quem os Estados Unidos mantêm superávit na balança de bens e serviços", diz a nota divulgada pelo Palácio do Planalto.