Política

Efeito do tarifaço americano nas exportações brasileiras é menor do que o previsto

Segundo a Amcham Brasil, 44,6% dos produtos vendidos aos EUA estão sujeitos à alíquota de 50%, 29,5% sofrem sobretaxas menores e 25,9% ficaram isentos

O café está entre os produtos afetados pelas tarifas elevadas - ANDERSON STEVENS//Arquivo Folha de Pernambuco

Dois meses após a entrada em vigor do chamado tarifaço imposto pelos Estados Unidos, o impacto nas exportações brasileiras tem se mostrado menor do que o inicialmente estimado. Segundo monitoramento da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), apenas 44,6% dos produtos exportados pelo país estão sujeitos à alíquota máxima de 50%, enquanto 29,5% sofrem sobretaxas menores e 25,9% ficaram totalmente isentos. Os dados foram obtidos a partir de informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

De acordo com o estudo, os principais produtos afetados pelas tarifas mais elevadas são commodities, como café, carne e açúcar, itens que possuem maior facilidade para redirecionar suas exportações a outros mercados consumidores. Essa capacidade de adaptação, segundo o diretor de Políticas Públicas e Relações Governamentais da Amcham Brasil, Fabrizio Panzini, explica por que o efeito global do tarifaço tem sido menos severo do que o esperado. “A agilidade do setor exportador brasileiro em buscar novos destinos foi fundamental para conter os impactos iniciais”, afirmou.

O levantamento mostra, entretanto, que o impacto varia de acordo com o setor. No caso do café, por exemplo, as exportações para os Estados Unidos caíram 56% em setembro, na comparação com o ano anterior. Com isso, países europeus como Alemanha e Itália têm se consolidado como os principais compradores do produto brasileiro. Para o diretor do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos, a mudança na rota comercial é reflexo direto do aumento de preços nos EUA.

Em outros setores, o efeito do tarifaço tem sido mais pesado. A indústria de madeira, concentrada principalmente no Sul do país, já registra mais de quatro mil demissões. Empresas que dependem fortemente do mercado americano enfrentam estoques cheios, custos logísticos em alta e dificuldade para acessar crédito. “Quando se observa regionalmente, o impacto é mais expressivo. Segmentos como mel do Nordeste, madeira e móveis do Sul e maquinário do Sudeste estão entre os mais vulneráveis”, destacou Panzini.

Apesar das dificuldades pontuais, o desempenho geral das exportações brasileiras para os Estados Unidos ainda é positivo no acumulado do ano. De janeiro a agosto, houve um crescimento de 1,6% em relação a 2024, segundo dados oficiais. No entanto, o avanço é explicado principalmente pelos resultados do primeiro semestre, já que as vendas externas caíram 18,5% apenas em agosto, com tendência de queda também em setembro.

Alguns segmentos têm conseguido reagir rapidamente. A indústria de máquinas e equipamentos, por exemplo, readequou parte da sua produção a mercados alternativos, evitando perdas mais expressivas. “As empresas estão diversificando suas rotas de exportação e fortalecendo laços com países da América do Sul e Europa”, afirmou Cristina Zanella, diretora de Competitividade da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

A Amcham Brasil destaca ainda que, nos Estados Unidos, setores dependentes de insumos brasileiros também vêm pressionando o governo de Donald Trump por flexibilizações nas tarifas, diante do aumento de custos e da escassez de produtos. Algumas companhias americanas e brasileiras já solicitaram isenções específicas, especialmente nas áreas de celulose, ferro-gusa e alimentos.

No âmbito político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aproveitou a videoconferência realizada ontem, com o presidente norte-americano, Donald Trump, para cobrar diretamente o fim do tarifaço sobre produtos brasileiros. A conversa, que durou cerca de 30 minutos, foi classificada pelo governo como “positiva” e reforçou a disposição de restabelecer as relações comerciais entre as duas nações.

Lula relembrou o histórico de cooperação entre Brasil e EUA e solicitou expressamente a retirada da sobretaxa de 50%, argumentando que essa medida prejudica não apenas os exportadores nacionais, mas o equilíbrio das trocas entre os dois maiores mercados do Ocidente. Trump, por sua vez, designou o secretário de Estado Marco Rubio para dar prosseguimento às negociações com representantes brasileiros.