Nova versão de "Vale Tudo" dribla resistência do público, mas revela desgaste de remakes
Clássico absoluto da TV Globo foi revisitado em homenagem aos 60 anos da emissora
Recorrer a remakes é uma tática antiga da Globo. Por muitos anos, inclusive, realizar segundas versões de novelas famosas e queridas pela audiência era uma ideia recebida pelo público como uma homenagem ao material original. O excesso deste tipo de produção na programação nos últimos anos, entretanto, acabou subvertendo essa relação. Além de exibir uma certa decadência criativa para novas tramas, adaptar histórias do passado passou a incomodar parte do público e da crítica mais saudosistas, muito pelas atualizações necessárias impostas pelo tempo.
A emissora já tinha experimentado um pouco dessa reação durante a exibição de “Renascer”, no ano passado. Porém, foi mesmo com “Vale Tudo” que as controvérsias em torno dos remakes chegaram ao ápice. Clássico absoluto da história da Globo e revisitado por conta dos 60 anos da emissora, a adaptação da obra de Gilberto Braga, Eleonor Basserès e Aguinaldo Silva – exibida originalmente em 1988 –, gerou uma grande movimentação nos bastidores e nas redes sociais desde que foi anunciada, em meados de 2024.
Primeiro foram as críticas à escolha de Manuela Dias para adaptar a novela, tudo por conta da falta de experiência da autora em folhetins. Depois, as críticas ao elenco e novos rumos dos personagens, em especial ao desempenho de Bella Campos como Maria de Fátima e Paolla Oliveira como Heleninha Roitman. A esperada resposta popular veio, mas não tão positiva quanto a Globo esperava.
Penando para conseguir conquistar o público e sofrendo com os números mais modestos de audiência nos primeiros meses, a novela demorou a pegar de fato. Mais íntima das séries e com apenas uma novela no currículo, “Amor de Mãe”, de 2019, Dias se perdeu um pouco ao ter de organizar tantos personagens, mas foi coerente com sua proposta de adaptação onde, ao mesmo tempo, deveria dialogar com um público mais novo e digital.
O enredo que discute ética e moral ao questionar se vale a pena ser honesto no Brasil, de fato, envelheceu bem e mereceu um segundo olhar. Tirando certos anacronismos e as mudanças sociais das últimas três décadas, a trama mostrou que estava viva e refletindo os rumos do país. Dias acertou ao reverenciar o trabalho de Braga. Mas também foi nítida a boa dose de liberdade garantida pela Globo para que a autora também exercesse alguma originalidade.
Entre altos e baixos, a trama contou com a direção segura de Paulo Silvestrini e atuações luminosas de Taís Araújo, Alexandre Nero, Alice Wegmann, Malu Galli e, especialmente, Débora Bloch, responsável por uma Odete Roitman elegante, cheia de sex appeal e presente nas cenas e diálogos mais icônicos de “Vale Tudo”. No fim, além de todas as polêmicas, o remake também será lembrado pelo sucesso comercial, promovido por infindáveis ações de merchandisings em cena e que, muitas vezes, comprometeram a emoção.