Restaurante Nuema, em Quito, promove cultura local e se torna uma joia na América do Sul
Os chefs Alejandro Chamorro e Pía Salazar colocaram o Equador na rota do turismo gastronômico mundial
QUITO (EQUADOR) - É em meio ao momento de fortalecimento da América Latina enquanto celeiro criativo gastronômico, que restaurantes como o Nuema, do casal Alejandro Chamorro, chef, e Pía Salazar, confeiteira, atrai os holofotes da imprensa internacional, logo, dos rankings especializados, e entra no radar do viajante mais antenado que desembarca no Equador. Mais especificamente em Quito.
Presenteado com um ecossistema abundante, o país tem Amazônia, Cordilheira dos Andes e o Arquipélago de Galápagos para chamar de seus. Mesmo assim, o Equador é uma das joias (ainda) pouco exploradas na América do Sul.
E o casal Chamorro-Salazar são protagonistas fundamentais dessa nova cena sul-americana, contando e propagando a cultura do seu país, através de um trabalho singular com ingredientes endêmicos transformados em obras de arte em seus menus degustação servido em uma agradável casa em tons de branco e madeira clara.
"Minimalismo define a nossa cozinha. Com essa premissa, cada passo do menu mostra todo o potencial do produto. Às vezes, usando ao máximo a potência de cada ingrediente", detalham Alejandro e Pía.
No Nuema tive um das melhores refeições de 2025. A uma única forma de dizer isso, arriscando incorrer ao clichê, mas recomendo de olhos fechados. O Nuema consegue ser ao mesmo tempo acolhimento e provocação.
Muito do que servem nos soa esquisito, mas passado o estranhamento que faz pensar a cada garfada, a sensação é de alegria imensa por estar ali descobrindo sabores completamente inéditos.
Em tempo. Nuema é a junção dos nomes Nuria, Emilio e Martín, filhos do casal do chef e da confeiteira.
Cozinha
Um dos pratos mais saborosos que provei por lá foi o pirarucu com papa voladora, um fruto aéreo parente do inhame, com formigas. A sobremesa de transição feita com cogumelos também tem um resultado de sabor impressionante.
É servida entre o último prato quente e a primeira sobremesa, como se fosse um meio termo entre o salgado e o dulçor que está por vir. Impecável. Pía, uma das melhores confeiteiras do mundo, segundo rankings internacionais, domina ainda as sobremesas com cacau nativo do Equador e frutas tropicais.
Clássico da casa, inaugurada em 2014, o ceviche de maní ao estilo jipijapa, atum e oxalis rojos (como um trevo) é absolutamente equilibrado e lindo - quase uma pintura. É uma versão equatoriana do ceviche, enriquecido com molho cremoso de amendoim.
A quem interessar possa, aliás, o Equador venera ceviche e o serve de várias formas. Há muitas casas especializadas em mariscos e ceviches.
Apesar de negarem que há um insumo favorito nas trocas de menu do Nuema, três ao ano, o casal confirma que os produtos amazônicos são muito presentes.
"São ingredientes que nos fazem únicos não somente como equatoriamos, mas também como latino-americanos", defendem Chamorro e Salazar.
Honrarias
O Nuema foi eleito o Melhor Restaurante do Equador em 2024, e 11º Melhor da América Latina no mesmo ano, pela prestigiosa lista Latin America's 50 Best Restaurants, além de garantir a 61º posição no mesmo ranking na versão mundial em 2025.
Há pouco mais de um mês, Chamorro e Pía foram agraciados pelo The Best Chef 2025 com três facas, distinção máxima conferida aos chefs de alta performance.
Rápidas com
Alejandro Chamorro e
Pía Salazar
Que ingredientes não podem faltar nos menus do Nuema?
Essa é uma pergunta cada vez mais difícil de responder, seria injusto escolher entre tantos produtos que, com sorte, dispomos. Apontar alguns especificamente poderia limitar outros tantos em nosso cardápios. Mas os ingredientes originários da Amazônia estão sempre presentes: a Amazônia é um lugar com o qual nos conectamos.
Quais são seus principais fornecedores?
Temos fornecedores de todo o país, alguns mais próximos, outros, em lugares remotos do Equador. A gente precisa pensar que a sustentabilidade e natureza vão ditando o tempo exato para usar cada ingrediente.
O que consideram o ponto alto da biodiversidade do Equador?
Sua posição geográfica. Há muitos fatores, como a luz perpendicular do sol, entre outros, que fazem com que os produtos sejam singulares: o doce mais doce, as ervas mais aromáticas e de fertilidade única.
Ao longo dos anos, o que vocês apontam como a maior evolução de sua cozinha?
Tem sido compreender nosso território, entender nossa realidade. Que devemos desenvolver uma linguagem que expresse a singularidade da nossa despensa livremente.
Vocês recebem muitos brasileiros?
Sim, cada vez mais. Adoramos o Brasil, já cozinhamos em várias cidades do país. A clientela do Nuema é diversa. Recebemos muitos locais, mas cada vez mais Quito é um destino mais atrativo para o turismo.
*A jornalista viajou a convite do Nuema através da Agência Síbaris
SERVIÇO
Nuema
Onde: Rua Bello Horizonte, E11-12 e Coruña, Quito, Equador
Instagram: @nuema_restaurante