Morre o músico, compositor, professor e pesquisador Carlos Sandroni, aos 67 anos
Referência nacional em etnomusicologia, o professor foi sepultado na tarde desta terça (28)
Faleceu, no Rio de Janeiro (RJ), aos 67 anos, o musicista, escritor, compositor, pesquisador e professor Carlos Sandroni, um dos mais importantes nomes da etnomusicologia do País, e com forte ligação com Pernambuco, onde fundou o Núcleo de Etnomusicologia e o mestrado em Música da UFPE.
A causa da morte não foi divulgada. Carlos Sandroni foi velado e sepultado na tarde desta terça (28), no Cemitério São João Batista, Zona Sul do Rio de Janeiro.
Carlos Sandroni foi um dos fundadores e presidente da Associação Brasileira de Etnomusicologia - ABET (2002), que divulgou uma nota de pesar em suas redes:
“Nosso primeiro presidente da ABET nos deixou hoje. Carlos foi fundamental na consolidação da Etnomusicologia Brasileira. Esperamos que descanse em paz, sabendo que deixou um legado de muita dedicação à pesquisa em música e em especial elevou o patamar da Etnomusicologia Brasileira. Nossos sentimentos aos amigos, familiares, estudantes e colegas. Que seu legado jamais seja esquecido.”, diz a nota assinada por Pedro Fernando Acosta da Rosa, atual presidente da ABET.
A Prefeitura do Recife também divulgou nota exaltando Carlos Sandroni, de quem lembrou como o “carioca que escolheu a geografia e a música recifenses como casa e causa”:
“Intelectual que aproximou a universidade da cidade, valorizando mestres e mestras da cultura popular e a diversidade que pulsa nos bairros, nas ruas e nos palcos da capital pernambucana, Carlos Sandroni foi pioneiro na salvaguarda de bens culturais registrados pelo Iphan, coordenou os inventários do Samba de Roda do Recôncavo Baiano e das Matrizes Tradicionais do Forró, além de ter trabalhado no Inventário do Frevo, que sagrou o ritmo como Patrimônio da Humanidade.
Na cidade de tantas vocações e acordes, à qual devotou tantos talentos e afetos, fundou ainda o Núcleo de Etnomusicologia e o mestrado em Música da UFPE, além de ter integrado a Associação Brasileira de Etnomusicologia (ABET). Participou ainda, de maneira ativa e diligente, da elaboração do dossiê que possibilitou o reconhecimento do Recife como Cidade Criativa da Unesco, na categoria música, para convidar o mundo todo a ouvir quem somos.”
Carlos Sandroni
Musicista, escritor, acadêmico, um dos maiores especialistas da área de etnomusicologia do País, é formado em Sociologia pela PUC-Rio (1981), mestre em Ciência Política pelo IUPERJ (1987) e doutor em Musicologia pela Universidade de Tours, França (1997).
Sandroni também atuou como Professor-visitante na Universidade do Texas, em Austin, e na Universidade de Indiana em Bloomington (EUA), e como pesquisador-visitante no Centro de Pesquisas em Etnomusicologia e na EHESS (Paris, França).
Carlos Sandroni tem uma fundamental importância no processo de reconhecimento de mestres e mestras e na patrimonialização da tradicional cultura nordestina. O professor foi um dos coordenadores dos inventários dos dossiês para registro do Samba de Roda do Recôncavo Baiano e das Matrizes Tradicionais do Forró.
Ele fundou a Associação Respeita Januário (ARJ), que de 2011 a 2021, produziu os dossiês que levaram ao reconhecimento, por parte do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), de bens culturais como o Cavalo-Marinho, a Ciranda, os Caboclinhos de Pernambuco e as Matrizes Tradicionais do Forró.
Atualmente, o dossiê do Reisado – já finalizado – aguarda oficialização, e estão em andamento os inventários das bandas de pífanos do Nordeste e de Minas Gerais, os circos de tradição familiar do Brasil e o Pastoril de Pernambuco.
Um dos mais destacados trabalhos de Sandroni foi a sua revisita ao acervo das Missões de Pesquisas Folclóricas de 1938, refazendo parte do trajeto feito por Mário de Andrade (PE e PB), que possibilitou a preservação, devolução e transmissão de registros da tradição oral nordestina (2003), dentre Zabumbeiros de Tacaratu e Reisados em Arcoverde e Pedra (2004).
Sua atuação na etnomusicologia, em Pernambuco e no Brasil, é pioneira: foi o fundador do Núcleo de Etnomusicologia da UFPE (1999) e do mestrado no Programa de Pós-graduação em Música da UFPE (2016), além de ser um dos fundadores e presidente da Associação Brasileira de Etnomusicologia - ABET (2002).
Sandroni é, também, professor titular de Etnomusicologia no Departamento de Música, no Centro de Artes e Comunicação (CAC) da UFPE, em Recife. Atualmente encontra-se em processo de redistribuição para a Escola Nacional de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2025).