Rio de Janeiro

Rio: "Criamos um muro do Bope" na área de mata e retiramos roupas táticas dos mortos, diz PM

Ao menos 120 pessoas morreram, o que torna a operação mais letal do país

Corpos foram levados à praça no Rio de Janeiro - Pablo Porciúncula/AFP

O secretário de Polícia Militar Marcelo Menezes explicou nesta quarta-feira parte da estratégia feita nos complexos da Penha e Alemão, Zona Norte do Rio, foi de criar um "muro do Bope", o Batalhão de Operações Especiais, na área de mata anexa às favelas.

O comandante da PM ainda disse que quem quis se entregar, foi preso e que os agentes encontraram os mortos com roupas táticas. A ação deixou ao menos 120 mortos e é a mais letal da história de uma polícia brasileira.

— Incluímos a incursão de tropas do Bope para a parte mais alta da mata da Misericórdia criando um muro do Bope, fazendo com que os marginais fossem empurrados para a área mais alta pelas outras incursões. Nosso objetivo principal era proteger as pessoas de bem da comunidade. A maior parte do confronto se se deu na área de mata, onde a nossa tropa estava disposta, e foi uma opção dos marginais — diz ele.

O secretário de Segurança Pública Victor Santos afirmou que levar o confronto para a área de mata da favela foi uma estratégia para preservar vidas inocentes.

— Optamos por deslocar o contato com os criminosos para a área de mata, onde eles efetivamente se escondem e atacam os policiais. A opção foi feita para preservar a vida dos moradores. Tivemos um dano colateral pequeno, quatro pessoas feridas inocentes feridas, sem gravidade.

Total de mortos supera Carandiru
Três décadas depois do massacre do Carandiru, que deixou 111 presos mortos em São Paulo e se tornou símbolo da violência policial no país, o Brasil volta a registrar uma tragédia sem precedentes.

A megaoperação policial no Complexo da Penha e no Alemão, no Rio de Janeiro, ultrapassou o episódio de 1992 em número de vítimas e passou a ser considerada a mais violenta da história nacional — ainda que os dois casos envolvam contextos muito diferentes: um dentro do sistema prisional, outro em plena área urbana, em confronto direto com o tráfico de drogas.

De acordo com dados oficiais publicados ainda na terça, 64 pessoas morreram — 60 apontadas como criminosos e 4 policiais. No entanto, o número pode ser ainda maior. Durante a madrugada desta quarta-feira, moradores da Penha levaram ao menos 64 corpos para a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas.

Segundo a Polícia Militar, os corpos não estão incluídos no balanço divulgado na véspera. Ao todo, ao menos 128 suspeitos morreram.

Um dia para não ser esquecido: entenda a dinâmica que levou à mais letal operação policial do Rio

Peritos trabalham para identificar as vítimas e apurar se essas mortes estão ligadas à operação, que mobilizou 2,5 mil agentes e foi planejada ao longo de dois meses para conter a expansão do Comando Vermelho, principal facção do tráfico no Rio.

De Carandiru à Penha: a história que se repete
O massacre do Carandiru, em 1992, marcou o auge da repressão policial no sistema prisional brasileiro. Naquele dia, 341 policiais da Tropa de Choque invadiram o Pavilhão 9 da Casa de Detenção em São Paulo para conter uma rebelião.

Foram disparados 3,5 mil tiros em 20 minutos, deixando 111 presos mortos, muitos deles executados à queima-roupa. O episódio virou livro, filme e símbolo internacional da violência institucional no Brasil.

Agora, em 2025, o país revive o mesmo espanto. A operação na Penha e Alemão, oficialmente voltada ao combate ao tráfico, teve níveis de letalidade superiores aos de qualquer confronto urbano registrado anteriormente. Moradores relatam corpos espalhados por áreas de mata, como a Serra da Misericórdia, e denunciam execuções e desaparecimentos.