VIOLÊNCIA NO RIO

Fuzil é arma predominante nas mãos de criminosos que controlam territórios em morros e favelas do RJ

Há 15 anos, durante ocupação do conjunto de comunidades do Alemão e da Penha, pistola liderava o ranking de apreensões

Fuzis de assalto apreendidos durante a Operação Contenção no Complexo da Penha são exibidos durante uma coletiva de imprensa na sede da Polícia Civil no Rio de Janeiro - Mauro Pimentel/AFP

As apreensões feitas durante a megaoperação, deflagrada nesta terça-feira (28) pelas Polícias Civil e Militar, no Complexo do Alemão e no Complexo da Penha, na Zona Norte, ajudam a mostrar que o fuzil é o tipo de armamento que predomina nas mãos de criminosos responsáveis por controlar ou por disputar territórios em favelas e morros do Rio de Janeiro. 

Após confrontos registrados nas duas comunidades, que duraram horas e causaram 121 mortes, entre elas as de quatro agentes, foram apreendidas 118 armas. A maioria era de fuzis, com um total de 91 unidades.  

Há 15 anos, mais precisamente em novembro de 2010, quando a PM e a Polícia Civil, com apoio das forças armadas, ocuparam os mesmos conjuntos de favelas, outro tipo de arma liderou o ranking de apreensões.

Nos cinco primeiros dias daquela ocupação, entre 28 de novembro e 2 de dezembro, as pistolas eram a maior parte do arsenal encontrado com os criminosos. Foram 169 armas apreendidas deste tipo, enquanto em segundo lugar aparecia o fuzil, com 136 unidades. Já em terceiro lugar, o revólver despontava na listagem, com 56 apreensões.

E não é só isso. Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostram que a apreensão de fuzis no Rio de Janeiro atingiu o ápice da série histórica, com 593 unidades retiradas das mãos de criminosos no estado, nos nove primeiros meses de 2025.

No mesmo período de 2024, foram registradas 577 apreensões deste tipo. Além disto, a estatística revela que, de janeiro a setembro de 2007, ano em que os registros começaram a ser contabilizados, para cada 52 armas apreendidas, uma era um fuzil. Já nos primeiros nove meses deste ano, os índices mostram que a proporção é a de um fuzil para cada oito armas apreendidas.

Durante entrevista coletiva concedida, nesta quarta-feira (29), na Cidade da Polícia, no Jacaré, o delegado Carlos Oliveira, subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Polícia Civil, disse que os 91 fuzis encontrados nas mãos de criminosos, na megaoperação desta terça-feira (28), mostram que os bandidos estão usando mais este tipo de arma.

" Esses 91 fuzis conduzem à realidade do que enfrentamos lá (durante confronto com bandidos no Complexo do Alemão e no Complexo da Penha). Aqui nós temos 91 fuzis(apreendidos), que é a pior arma em se tratando de criminalidade urbana. É a arma utilizada em todos os confrontos pelo planeta. E é utilizada por criminosos em favelas do Rio de Janeiro. A mesma arma que é utilizada no conflito do Oriente Médio, e em conflitos de toda a parte do mundo, na história das guerras, rifles e fuzis, são utilizadas por bandidos da Rio de Janeiro", explicou Oliveira, durante a exibição de parte dos 91 fuzis apreendidos.

Os 91 fuzis têm valor estimado pela polícia em torno de R$ 5,4 milhões. O cálculo leva em conta o preço aproximado de R$ 60 mil para cada fuzil comercializado no mercado paralelo irregular. Segundo investigações ainda em andamento, parte dessas armas longas, e de alto poder de letalidade, foi encontrada nas mãos de traficantes de outros estados. Eles estavam abrigados no Complexo do Alemão e no Complexo da Penha, que têm territórios controlados pela facção criminosa Comando Vermelho (CV).

Dos 91 fuzis, 19 foram apreendidos com um grupo de 25 homens na Vila Cruzeiro, na Penha. Na terça-feira, eles invadiram uma residência e fizeram uma moradora refém. Cercados por policiais militares, o grupo criminoso acabou se rendendo. Todos foram levados para a Cidade da Polícia, no Jacaré. Em parte do armazenamento, havia acessórios como luneta de precisão e mira holográfica.

"A luneta serve para aproximar o alvo a grande distância, permitindo que o atirador acerte o tiro a mais de uma centena de metros. Já a mira holográfica coloca na cena do atirador o ponto em que o disparo vai atingir. Ou seja, aumenta ainda mais a precisão do disparo", explicou Vinicius Cavalcante, presidente do Conselho Empresarial da Associação Comercial do Rio e especialista em armas.

Além dos fuzis, as polícias Civil e Militar apreenderam, nesta terça-feira,  26 pistolas, um revólver e 14 artefatos explosivos. Segundo a polícia, todas as armas apreendidas estavam em estado de utilização plena. O armamento teria sido usado no confronto contra os 2.500 policiais que participaram da megaoperação. O material será periciado. Uma investigação vai tentar ainda rastrear a origem das armas apreendidas.

Segundo a Polícia Civil, entre os 113 presos estariam 33 chefes de tráfico de comunidades de outros estados. Deste total, dez são da Bahia. Há ainda entre os detidos, traficantes do Ceará, do Amazonas e de Pernambuco.