CRIME ORGANIZADO

Os métodos de tortura do Comando Vermelho: arrastar com carro, banheira de gelo, 'massagem'

Segundo denúncia, Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, o BMW, participa dos 'tribunais do tráfico'; Fagner Campos Marinho, o Bafo, também é apontado como responsável por punições

Homem arrastado por carro e mulher em banheira de gelo são exemplos de punições exercidas pelo Comando Vermelho - Redes Sociais/Reprodução

A denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), à qual o jornal O Globo teve acesso, descreve episódios de tortura praticados pelos integrantes do Comando Vermelho (CV), com intenção de punir comparsas e até moradores.

O grupo criminoso, alvo da megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha, este apontado como principal base da facção, é comandado por Edgar Alves Andrade, o Doca, que segue foragido. Mas a figura responsável por orientar as punições e participar dos chamados "tribunais do tráfico", com autonomia para determinar até a execução de rivais de menor expressão, conforme consta no relatório, é um dos chefes do grupo paramilitar: Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, o BMW.

Apontado como gerente do tráfico na Gardênia Azul, BMW "goza de prestígio e atua em alta posição hierárquica dentro do Comando Vermelho" e é chefe do grupo de matadores nomeado de Equipe Sombra, segundo o MPRJ.

"Além disso, em nome do predomínio violento da facção criminosa Comando Vermelho, o denunciado Juan Breno orienta a prática de punições e tortura contra moradores", diz trecho da denúncia, que anexa uma imagem de uma mulher mergulhada numa banheira de gelo, só com a cabeça de fora. Na legenda do registro fotográfico, ela é apresentada como "brigona que gosta de arrumar confusão no baile" e que essa é a "melhor forma" de punição, já que "não quer bater em morador".

Em outro episódio, um homem amordaçado e algemado é arrastado por um carro, vestindo short, sem camisa. "Em meio a gritos implorando por perdão", o alvo da punição cita BMW diversas vezes, enquanto o denunciado "faz piada do sofrimento alheio, debochando da vítima agonizante".

As imagens, fortes, mostram o homem se justificando sobre cifras. BMW então manda o alvo calar a boca e só para o carro quando vê um possível desmaio do punido: "Ih, apagou", diz. Em outro momento, Carlos Costa Neves, o Gadernal, é acionado em chamada de vídeo — "fala para o chefe", fala BMW, apontado o celular para o homem arrastado — o que indica que "contribuiu eficazmente com a conduta" de BMW.

Morte dos médicos
O nome de BMW já apareceu no noticiário há dois anos, como um dos responsáveis pelo assassinato de médicos em um quiosque na orla da Barra da Tijuca. Na ocasião, o grupo, que participava de um congresso no bairro, foi alvo de tiros: Marcos de Andrade Corsato e Perseu Ribeiro Almeida morreram no local, enquanto Diego Ralf de Souza Bomfim morreu no hospital. O único sobrevivente foi Daniel Sonnewend Proença.

Segundo a investigação da Delegacia de Homicídios, os médicos teriam sido mortos por engano, já que Perseu Ribeiro de Almeida teria sido confundido com o chefe da milícia de Rio das Pedras, Taillon de Alcântara Pereira Barbosa. A própria facção tratou de executar os responsáveis pela ação, mas, como BMW não esteve presente na execução em si, foi poupado.

'Massagem' e 'crueldade' de Bafo
Outro denunciado por esses castigos é Fagner Campos Marinho, o Bafo, apontado como soldado do tráfico de drogas. De acordo com o relatório do Ministério Público, ele, nas imediações do Complexo da Penha, "constrangeu a vítima, pessoa ainda não identificada, que estava totalmente dominada e em seu poder, com emprego de violência, causando-lhe intenso sofrimento físico, como forma de aplicar castigo pessoal e medida de caráter preventivo".

Na prática, Bafo agrediu violentamente uma pessoa parcialmente desnuda, caída e amarrada. "O denunciado gravou vídeo com a vítima ensanguentada, gemendo de dor, reconhecendo que foi ele quem torturou ('deu massagem' no) aquela pessoa, e, logo após, indagando à vítima 'quer morrer?'", relata a denúncia.

"A crueldade de Fagner é ressaltada pela sua atuação em tortura de indivíduo amarrado e ensanguentado. Fagner indaga se a vítima “quer morrer logo”, e o indivíduo, possivelmente pela exaustão e crueldade da tortura recebida, balbucia, parecendo aceitar a sua execução, como forma de interromper o sofrimento", relata o MPRJ.